'Recusei a proposta do Kalil; sempre tive um 'não' bem definido sobre jogar no Atlético', diz Alex

Clarissa Carvalhaes
ccarvalhaes@hojeemdia.com.br
21/04/2016 às 12:11.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:03
 (Clarissa Carvalhaes/Hoje em Dia)

(Clarissa Carvalhaes/Hoje em Dia)

Um dos mais importantes jogadores do século, o ex-Cruzeiro Alex aposentou as chuteiras em 2014. Ídolo não apenas no time celeste, o ex-atleta é aclamado ainda hoje por torcedores do Palmeiras, Fenerbahçe e o Coritiba - onde encerrou carreira.

 Em entrevista ao Hoje em Dia, o ex-meio-campo e atualmente comentarista de futebol no ESPN, afirmou que o Cruzeiro foi um divisor de águas na carreira, revelou detalhes sobre o convite de Alexandre Kalil (então presidente do Atlético) para jogar no time rival e porque decidiu encerrar sua vida dentro dos campos enquanto era aclamado por todos os apaixonados pelo bonito futebol.

 O quase retorno para o Cruzeiro 

Em outubro de 2012, durante uma conversa com o doutor Gilvan (de Pinho Tavares, presidente do Cruzeiro) eu perguntei qual era o planejamento do clube para o ano seguinte. Eu só poderia jogar em 2013 e queria saber o que o clube imaginava para aquele ano e quem seria o treinador (à época o Celso Roth era o técnico), quem seriam os jogadores, equipe técnica... e o doutor Gilvan não tinha resposta para nenhuma das minhas perguntas. Ele ainda estava pensando o que ia fazer e concluí: "Bom, tive uma passagem super bacana pelo Cruzeiro e quando eu pergunto para o presidente do clube o que ele está pensando do futuro e ele não consegue me dar as respostas aí eu prefiro seguir um caminho diferente". Anos depois, quando eu já estava fazendo uma lista dos jogadores que iriam participar da minha despedida, o Cruzeiro me procurou para jogar em 2015. Eu falei para minha mulher: "esses caras são loucos! Eu não tenho condição de andar e eles querem me contratar".

 
O convite de Alexandre Kalil

Eu conversei com o Kalil por telefone enquanto eu ainda estava na Turquia. Eu tinha uma amizade muito grande pelo Eduardo Maluf (ex-diretor no Cruzeiro e atual diretor de futebol do Atlético) e foi por intermédio dele que conversamos. Por causa da minha trajetória em clubes como o Cruzeiro, Palmeiras e Coritiba eu sempre tive o "não" muito bem definido para times com o São Paulo, Santos, Corinthians e o Atlético Mineiro. Então eu ouvi o Kalil por educação. Ele falava e falava sobre o Atlético e eu tentava mostrar para ele a minha história no Cruzeiro era maior. Eu jamais pensaria em atuar no Atlético, mas ele citava Paulo Isidoro, Toninho Cerezo, jogadores espetaculares que jogaram bem nos dois lados. A lembrança que eu tinha do Atlético quando eu estava em BH era de um clube complicado e com dificuldade financeira, dívidas e em fazer títulos. Naquela conversa, o Kali queria me mostrar que era bem diferente. Eu agradeci e repeti sobre a meu envolvimento com o Cruzeiro e ele foi compreensivo. Um ano depois eu vi que o Kalil realmente estava certo: o Atlético foi campeão da América. Apesar disso, eu não me arrependi porque valorizo muito mais aquilo que eu fiz e os títulos que consegui dar para o Cruzeiro. Não poderia tentar conseguir qualquer outra coisa com a camisa do rival.

  

Técnico? Eu?

Para tudo o que você vai fazer no futebol é preciso estar bem preparado. E eu sinceramente não me vejo preparado para atuar como técnico. Para dar palpite qualquer um pode dar, mas para resolver problemas e oferecer soluções é preciso estar preparado e nesse momento eu não estou. 

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Cruzeiro, divisor de águas

Em 2001 eu achei que a minha carreira ia encerrar. Eu estava me despedindo da minha mulher para voltar para Belo Horizonte quando o Maluf, que era diretor do Cruzeiro na época, me telefonou dizendo que eu não precisava voltar. Naquele momento eu achei que a minha carreira tinha degringolado: eu tinha feito um ano ruim, um mês antes a Fifa tinha me suspendido e a minha mulher tinha perdido a primeira gravidez. Mas em 2002, o Cruzeiro me deu uma nova chance - mesmo assim não foi fácil. Quando eu voltei encontrei a torcida do Cruzeiro desconfiada, a diretoria e a imprensa de Belo Hoizonte totalmente contra. Todos os dias eu tinha que provar para todo mundo que eu podia jogar. Recordar me emociona muito porque me lembra a segunda oportunidade que o Cruzeiro me deu, envolve o carinho da torcida e do time naquele momento, a raiva que eu tinha em olhar para o Zezé e para o Alvimar (Perrela) todos os dias e mostrar que seria diferente. Passados muitos anos, percebo que o Cruzeiro e todas essas circuntâncias foram um divisor de águas para minha carreira.

  

Pés no chão: o desejo de ser milionário

Para você ser um jogador de R$ 100 mil é preciso percorrer uma longa estrada. Não acontece de ganhar R$ 100 mil de uma hora para a outra. Essa história de jogador ser milionário é muito ilusório. Para cada 30 crianças com 12 anos que entram em um clube, talvez uma chegue a ganhar R$ 1 mil por mês. O grande problema é que a imprensa valoriza muito isso. Mostra a casa do jogador, o carro do jogador... e eles também se posicionam de uma maneira muito complicada. Exibem o brilhante na orelha, falam quanto aquilo custou, quanto têm gastado e tudo isso alimenta o sonho de muita gente. A verdade, porém, é que ser um jogador de futebol milionário é exceção que atinge uma minoria.

  

Decisão de encerrar a carreira

Eu assisti muita gente talentosa encerrar a carreira sob vaias. O torcedor é legal, mas é muito ingrato. Ele sempre guarda a melhor imagem do jogador e a melhor imagem de um jogador é quando ele tem 20 e poucos anos. O próprio cruzeirense vaiou o Ricardinho: um jogador que é um dos maiores vencedores da história do Cruzeiro. Eu assistia aos jogos do Cruzeiro na Turquia pela televisão e pensava "Isso não vai acontecer comigo, não". Naqueles dias eu decidi que preferia parar aplaudido do que ver a torcida me vaiando. É muito difícil o torcedor entender que você já não é mais o mesmo, ele só quer que as coisas aconteçam. Eu tenho amigos que dizem que a imprensa ou a torcida os fizeram parar de jogar. Eu parei em 2014, principalmente, pelos meus tornozelos, mas eu acredito que o torcedor do Coritiba tenha saudade dos meus dois últimos anos por lá. É bom ouvir de algumas pessoas "ah, você podia ter jogado mais um pouquinho".

 Por que Alex deixa saudade? Assista:

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