Operário mais antigo na mina alertou que barragem estava condenada meses antes do rompimento

Juliana Baeta
15/02/2019 às 18:14.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:34
 (Mariana Durães)

(Mariana Durães)

​Um dos funcionários ouvidos pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ​disse que seu pai, o trabalhador mais antigo na Mina de Córrego do Feijão - e um dos desaparecidos sob a lama -, já havia alertado, ainda no primeiro semestre do ano passado, sobre o risco da estrutura se romper. "Filho, você que trabalha próximo a barragem, não fica em parte baixa não, caso ocorra algum barulho, corra sentido predinho porque a qualquer hora aquilo lá vai romper", teria dito a ele. 

O depoimento foi transcrito no documento expedido pelo órgão e que determinou a prisão dos oito funcionários da Vale nesta sexta-feira (15). Conforme mostrado na decisão, eles já tinham conhecimento sobre a instabilidade na estrutura e, por causa disso, poderão responder por homicídio qualificado já que, mesmo cientes da situação, assumiram o risco da barragem se romper, como aconteceu no dia 25 de janeiro deste ano. 

O funcionário contou durante seu depoimento que trabalha na empresa há 16 anos, atuando diretamente na área de barragens, e que seu pai é o trabalhador mais antigo em atuação ali, com mais de 35 anos de experiência. 

"Todo problema que dava eles chamava o pai pra resolver", disse, explicando que, embora não tivesse estudo, o homem tinha experiência prática e era referência no assunto sendo, portanto, muito requisitado por todos os gerentes. 

Ainda segundo o funcionário ouvido pelo MPMG, a maioria dos funcionários que trabalhava na mina sabia que a barragem tinha problemas, e que há cerca de oito meses seu pai foi buscado pela chefia, técnico e gerente da mina - um deles está entre os oito funcionários presos nesta sexta - "porque estava brotando lama no talude, o que não é normal". 

O pai do depoente informou então aos superiores que "se fosse água não teria jeito, quanto mais resíduos", e que a barragem estava condenada. A resposta dos chefes, técnicos e gerentes foi de que não poderiam tirar os trabalhadores do local "porque é muita gente envolvida e muitos empregos" e que iriam contratar uma empresa especializada de urgência para consertar a barragem.  

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