Acampamento para crianças e adolescentes visa acabar com o estigma do diabetes

Renata Galdino
rgaldino@hojeemdia.com.br
03/04/2016 às 18:38.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:46
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Aos 6 anos, Felipe Rodrigues Pratti se rebelou. Portador de diabetes desde o primeiro ano de vida, o garoto dizia não gostar da condição de saúde, desejava comer o que todos os outros meninos comiam e fugia da aplicação da insulina. Hoje, aos 9 anos, ele aprendeu a lidar com a doença e garante: até gosta. “Agora tem tudo diet e posso comer o que antes não podia”, afirma.

A aceitação da doença só veio depois que Felipe participou de uma espécie de retiro educativo para crianças e adolescentes diabéticos, logo após o episódio da rebeldia. E mais: se antes ele não deixava a mãe, a fotógrafa Daiana Pratti, aplicar a insulina, agora é o próprio menino quem manipula o medicamento.

“Vi a mudança nele logo no primeiro acampamento. Desde então, Felipe já deve ter ido em uns três eventos e sempre volta com um aprendizado a mais, uma mudança perceptível”, comemora a mãe.

Criados para motivar a independência dos diabéticos, os acampamentos educativos acabam mudando a forma como os pacientes, principalmente crianças e adolescentes, encaram a doença, afirma o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, o endocrinologista Levimar Rocha Araújo.

No caso dos mais novos, geralmente eles não conhecem outros da mesma faixa etária nessa condição e têm dificuldades em expor a doença. Mas quando se relacionam com crianças que também são diabéticas, elas sentem-se mais à vontade para falar sobre o assunto.

O especialista ressalta que as colônias não focam as consequências da doença, mas privilegiam o autoconhecimento. “Mostram aos participantes que, antes de tudo, eles são os primeiros médicos deles próprios. Com uma pessoa diabética em casa, a família toda fica doente, mas eles precisam ter autonomia. Não terão os pais para a vida inteira”, enfatiza o endocrinologista, que promove o Diabetes Weekend, em Minas Gerais.

 Wesley Rodrigues

TECNOLOGIA– O endocrinologista Levimar Araújo acredita que novo medidor de glicose é um ganho para diabéticos

Família

E a estratégia dá certo. Foi o que mostrou um estudo feito por três especialistas, dois deles brasileiros, publicado recentemente em uma revista da Federação Internacional de Diabetes. O levantamento apontou que esse tipo de atividade é eficaz, desde que o acompanhamento pós-evento seja contínuo.

Educador em diabetes, Mark Barone, vice-presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ) Brasil, um dos autores do estudo, destaca que a participação da família é fundamental nesse processo. Em alguns acampamentos realizados em outros países, como nos Estados Unidos, os pais são integrados em algumas atividades. Porém, isso não precisa ser uma regra.

Para resultados positivos e duradouros, o ambiente familiar faz uma grande diferença na pós-colônia. Os moradores da casa devem favorecer a autonomia conquistada pelo paciente durante o acampamento. “O que faz a diferença é que a família esteja preparada para as mudanças. No acampamento, a criança tem a oportunidade de desenvolver a independência. Em alguns casos, elas voltam para casa e não têm espaço para aplicar o que aprendeu. A família não vê que elas voltaram com possibilidades maiores”, diz Mark.

No caso de Felipe, os pais são os primeiros a motivar as mudanças. “Assim que ele volta de uma colônia, já planeja, dentro do carro mesmo, a ida na do próximo ano”, conta Daiana Pratti.

O acompanhamento do médico de Felipe também é essencial para o progresso do garoto, avalia a mãe. “Conversamos muito por telefone e pelo WhatsApp”. 

Pesquisa do Ministério da Saúde aponta que 9 milhões de brasileiros têm diabetes, o que corresponde a 6,2% da população adulta no país

Dia Mundial da Saúde

A data é celebrada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na próxima quinta-feira. O destaque em 2016 será o lançamento do primeiro relatório mundial sobre a doença. Porém, especialistas alertam que o diabetes não deve ser lembrado apenas no Dia Mundial da Saúde, pois o índice de doentes aumenta a cada dia.

“Cerca de 50% das pessoas que têm diabetes não sabem que são portadoras da doença. Por isso é importante ficar atento a alguns sintomas, como perda excessiva de peso sem estar fazendo uma dieta ou exercícios físicos e urinando além do normal. A genética também é um fator que precisa ser observado”, alerta o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Levimar Rocha Araújo.

Sem furar o dedo

No ano em que o diabetes está no foco da OMS, o Brasil se prepara para receber o primeiro monitor de glicose sem o paciente ter que furar o dedo, diz Levimar Araújo. Segundo ele, o aparelho Freestyle Libre deve chegar ao país no final deste mês. O médico afirma que há ganhos para o portador da doença. 

“Hoje, ele tem que parar as atividades para furar o dedo em jejum, antes da alimentação e duas horas depois de comer. São seis a oito picadas por dia. Com o novo aparelho, o sensor, que é uma espécie de adesivo, é colocado no braço e lido por um scan, por cima da roupa. Armazena as leituras das últimas oito horas”, destaca. 

Por outro lado, o vice-presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ) Brasil, Mark Barone, afirma que a novidade não aposenta o glicosímetro. Nos primeiros usos do novo equipamento, que segundo ele é bem aceito em outros países, as medições podem apresentar oscilações. “Se tiver dúvida, vá para o método antigo até aprender a realmente usar a nova tecnologia”, alerta. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por