Chefe do Comando de policiamento de BH defende maior rigor para barrar crimes

Mariana Durães
25/12/2018 às 10:15.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:44
 (Maurício Viera / Hoje em Dia)

(Maurício Viera / Hoje em Dia)

À frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC) desde fevereiro, o coronel Anderson de Oliveira elogia os dois últimos anos de trabalho da PM em Belo Horizonte. Segundo ele, as ações reduziram as taxas de crimes violentos ao mesmo patamar de 2011. Já os homicídios, segundo ele, chegaram ao menor índice desde 1998. Com passagens por diversos batalhões, Oliveira está há 26 anos na corporação e tem formação em ciência militar e direito, além de especialização em gestão estratégica de segurança pública e criminalidade pela UFMG e Fundação João Pinheiro. Ao Hoje em Dia, ele falou sobre a necessidade de manutenção de operações e das bases comunitárias para que os próximos anos continuem sendo de ganhos para a segurança pública da capital, que avalia como uma das melhores do país.

Atualmente, qual o principal desafio na segurança em BH?
Nosso foco tem sido a criminalidade violenta, é a que mais incomoda o cidadão. Mas todos os crimes violentos tiveram redução. O roubo tem maior volume, e estamos com combate mais intenso para reduzir cada vez mais. Em relação a 2017, são 14 mil a menos.

O que foi importante para essa redução?
A Operação Natalina, que começou na Black Friday, é um passo. Mas o combate à receptação de celulares também foi fundamental porque diminuiu locais para a entrega de aparelhos furtados e roubados, reduzindo o valor deles como moeda de troca e evitando que o dinheiro fosse usado para a movimentação do tráfico. 

Alguma região da cidade preocupa mais?
Todas as áreas tiveram queda na criminalidade. O trabalho preventivo é bem distribuído. Os pontos mais críticos são os de maior circulação de pessoas, pela possibilidade de o criminoso se misturar à multidão e nos quais há maior número de vítimas. São os grandes corredores, áreas comerciais e no entorno de shoppings. Temos reforçado a segurança nesses locais.

Mesmo assim as pessoas reclamam de insegurança. Como melhorar a percepção para a população?
Os crimes continuam acontecendo, mas agora praticamente pela metade. Várias ações ajudam, como a presença policial e operações em áreas com maior fluxo de pessoas. As redes de proteção também são importantes, pois assim temos condições de manter a comunidade informada sobre o que está ocorrendo perto dela.

Neste ano, o Hoje em Dia mostrou muitos furtos de cobre, ataques a postos de saúde e casos de vandalismo. Esses casos também preocupam a PM?
Normalmente, essas ocorrências estão ligadas à Guarda Municipal.

Mas qual o papel da PM na prevenção desses crimes?
Toda vez que a Polícia Militar faz patrulhamento e identifica qualquer suspeito, quer seja para um crime mais grave ou não, como os citados anteriormente, ela age imediatamente abordando essa pessoa. Se constatado algum crime, é feita a prisão em flagrante. O grande problema é que, em crimes com menor potencial ofensivo, o sujeito é preso, mas responde ao processo em liberdade.

A reincidência preocupa?
Há pessoas que já foram presas mais de dez vezes, muitas pelo mesmo motivo. Mas o sistema de Justiça é mais complexo do que apenas a ação da PM, e envolve vários órgãos. Existe, também, uma legislação com questões em desacordo. Para nós é muito desgastante. É como enxugar gelo.

Qual seria o caminho para mudar esse quadro?
É um problema macro. As legislações penal e processual penal são de competência da União. É um processo ainda em maturação por parte dos parlamentares, para que haja evolução e uma análise mais individualizada de acordo com cada tipo de crime, da gravidade, benefícios de progressão e medidas em flagrante que devem ser adotadas.

As bases comunitárias deram certo?
É um projeto inovador, de polícia comunitária, baseado em um sistema japonês adaptado para a realidade brasileira. Além de maior mobilidade e menor custo, o atendimento é mais aproximado nos pontos em que o cidadão realmente precisa da presença policial. A base gera sensação de segurança e, além da prevenção criminal, é ponto de referência e apoio para a comunidade.

Há chance de expansão?
O projeto foi feito a partir dos setores nos quais a cidade é dividida. Todos os 86, além de outros 13 de áreas de risco, têm uma base. Não há intenção de mais de uma na mesma região, porque se gasta um efetivo significativo que só dá certo porque é conjugado com outros serviços, também necessários.

Quantos pontos de BH contam com o Olho Vivo? O sistema será ampliado?
São 636 câmeras distribuídas em locais de necessidade de acompanhamento 24 horas. São pontos de maior densidade demográfica e incidência criminal, para apoio dos demais policiamentos. Agora, não adianta colocar 5 mil equipamentos de filmagem se não tiver quem monitorar. Para melhorar, a ideia é trabalhar com inteligência artificial.

Que tipo de programa poderia ser usado?
A biometria facial, que pode identificar suspeitos de crime e foragidos da Justiça. Equipamentos modernos são capazes de identificar até o uso de armas, acionando a central para que o operador chame o policial na rua. Essa é a tendência futura das polícias, mas é um projeto mais para frente, de custo mais alto.

Desde 2017, o Estado vive um momento de grave crise financeira. De que forma isso prejudica o trabalho da PM?
Obviamente, não é bom para ninguém não receber em dia. Investimentos que poderiam ser feitos para otimizar ainda mais o trabalho não chegam. Mas temos expectativa de que haja uma evolução o mais rápido possível para que se regularize isso.

Várias ações foram feitas no Aglomerado da Serra neste ano. A criminalidade na região tem solução?
Claro que sim. Neste ano tivemos um registro histórico: ficamos 195 dias sem homicídio por lá. É um trabalho de resgate do espaço. Sabemos que 98% de quem reside lá são trabalhadores que querem levar a vida com tranquilidade, e têm uns 2% que se infiltram para instalar o tráfico. Quando há uma separação desses grupos, é possível agir para reduzir os problemas.

Qual o principal trabalho nestes locais?
Prevenção, a partir da antecipação do crime, posicionando-se em locais de maior risco, além de conversa com lideranças comunitárias. O segundo passo é mobilização social, que é envolver todo o poder público para atender à comunidade, o que reduz crime. Isso é feito em todos os principais aglomerados da cidade, onde há possibilidade de o tráfico adentrar.

Dados indicam queda de quase 6% na apreensão de menores em BH no último ano. Eles estão menos envolvidos em crimes?
Sim, mas não é só o trabalho de polícia que resolve. É um esforço conjunto de vários órgãos que promovem conscientização, um investimento a longo prazo. Tem muito a ver com redes de proteção que, quanto mais fortalecidas, inibem a prática de crimes.

Como está o uso de drones pela polícia? Tem algum plano para adquirir mais?
Alguns têm sido utilizados em grandes eventos e operações, em incursões em aglomerados, manifestações e comemorações no Centro, onde há público maior. Não sei dizer quantos já temos, porque são de unidades diferentes, mas estamos em fase de aquisição para o Comando de Policiamento da Capital e devemos receber mais sete.

Pode ser usado no Carnaval, por exemplo?
Temos a pretensão de usar na folia de 2019. Eles são uma boa plataforma para identificação de pessoas e atuação preventiva em casos de brigas e até furtos, antes que virem situações generalizadas. À noite, ainda é possível lançar claridade em certo ponto para auxiliar equipes em solo. Será muito útil para a segurança da festa.

Já existem conversas com a equipe de transição?
O comando da instituição já tem conversado. Quando for preciso, o CPC apresentará informações, ganhos, desafios. São dois anos seguidos de queda dos crimes em volume muito significativo. A intenção é que haja sequência, com incremento de mecanismos que melhorem ainda mais.

Caso o senhor não fique no cargo, que balanço faz e o que dizer ao sucessor?
Nós fazemos um relatório anual com resumo dos trabalhos, projetos implementados e resultados. De posse disso, qualquer profissional tem condição de dar continuidade. Não se consegue um resultado deste sem empenho e dedicação de todos. O comando define estratégias, mas quem executa é a tropa. Daí a necessidade de incentivo, motivação dos policiais. O investimento e reconhecimento são fundamentais para a continuidade do trabalho. 

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