Articulação de atingidos pela Vale pede destituição de direção executiva da empresa

Mariana Durães
05/02/2019 às 12:29.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:24
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

A Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale, afirmou, na manhã terça-feira (5), que a Vale não tem sido transparente no repasse de informações. Por isso, eles pediram, nesta terça-feira (5), ao Conselho de Administração da empresa que convoque uma assembleia geral a destitua a direção executiva.

O advogado e assessor da Justiça Nos Trilhos, Danilo Chamas, critica o fato de a própria Vale ser responsável por gerir listas de desaparecidos e mortos, e por divulgarem, eles mesmos, informações de domínio público. Ele critica, também, a presença quase única da mineradora nos postos de atendimento do Córrego do Feijão, Estação do Conhecimento e Parque da Cachoeira. 

"O atendimento é realizado pela própria equipe da empresa e toda dúvida passa, na grande maioria das vezes, por eles, antes do poder público. São funcionários descaracterizados como voluntários. Isso causa confusão em quem busca assistência e não consegue saber com quem está lidando", afirma. 

Doação

A doação de R$ 100 mil destinada às famílias de mortos e desaparecidos também foi criticada. Apesar de reconhecer que atende à necessidade de celeridade e respeito, Chamas alerta para o fato de a empresa não permitir acesso aos termos do contrato de doação. Para ele, esse conteúdo deve ser público para evitar que, posteriormente, direitos sejam retirados destas pessoas. 

"As exigências para acesso ao benefício utiliza um conceito de família que nem sempre se configura, como casos de pessoas que tinham união estável não formalizada, e não tiveram filhos. Isso causa embaraços e exige esforços extras, que inviabilizam o acesso à doação", lembra. 

A incerteza sobre outras possíveis modalidades de doação também preocupa o grupo. Principalmente porque, para as quantias de R$ 15 e R$ 50 mil, a Vale utiliza um critério de cadastro prévio que inclui produtores rurais e pessoas que moravam na chamada área de "auto salvamento". 

Chamas afirma que, por conta da velocidade dos acontecimentos, as observaçõe siniciais devem ser complementadas ao longo dos dias. Ele pede, ainda transparência em relação ao plano de emergência e laudos. A falta de transparência nestes casos, afirma ele, "reforça a suspeita de falhas graves nos documentos e demonstra falta clara de zelo e preocupação em relação à segurança, e liga um alerta vermelho em todas as operações da empresa", finaliza. 

População

Moradora de Brumadinho e membro do Movimento Águas e Serras Casa Branca, que existe desde 2010, Carolina de Moura deu um depoimento emocionado. Ela lembrou que quando fizeram exigências à empresa foram chamados de "eco chatos contra o desenvolvimento", o que ela definiu como uma forma de criminalizar quem defende direitos humanos e ambientais em uma região economicamente dependente da mineração. 

"O crime da Vale foi uma tragédia anunciada. Existe um notório conflito entre a comunidade e a Vale há anos. Falamos e não nos deram ouvidos, nos ignoraram", lamenta.  

Segundo ela, ao longo de nove anos, foram questionadores do modo de funcionamento da empresa, protestaram contra a violação de direitos e desrespeito às comunidades e à legislação. Segundo denunciou, a mineradora não estaria implementando medidas básicas de segurança, nem atuando com transparência, o que classificou como "má fé".

Ao fim do discurso ela afirmou que o grupo prestará apoio aos atingidos. Carolina pediu a recuperação da bacia, que "nenhum funcionário seja demitido e que a Vale continue pagando royalts ao município". 

Tragédia  

O número de mortos pelo rompimento da barragem chegou a 134 na segunda-feira (4). Destes, 120 foram identificados pelo Instituto Médico Legal (IML) e outros 199 ainda desaparecidos

Articulação

Os trabalhos do grupo tiveram início em 29 de Janeiro, quando visitaram diversas localidades diretamente atingidas e conversaram com a população, familiares de vítimas, e com órgãos públicos. Segundo eles, as atividades em Brumadinho representam dez anos de trabalho da Articulação na denúncia das violações de direitos provocadas pela empresa. Desde 2009, eles reúnem diferentes grupos, como sindicalistas, ambientalistas, ONGs, associações de base comunitária, além de grupos religiosos e acadêmicos do Brasil, Argentina, Chile, Peru, Canadá e Moçambique.

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