Abuso coletivo contra adolescente no Rio expõe ‘cultura do estupro’ no Brasil

Caso ganhou repercussão nas redes sociais após divulgação de imagens do crime

Da Redação (*)
Hoje em Dia - Belo Horizonte
28/05/2016 às 08:51.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:38
 (Reprodução/Facebook)

(Reprodução/Facebook)

A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro já sabe o paradeiro de quatro pessoas que estão sendo investigadas no caso de estupro coletivo de uma adolescente no último fim de semana, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade. O caso causou indignação após ser divulgado nas redes sociais e ganhou páginas e sites de publicações pelo mundo. Eventuais pedidos de prisão, no entanto, ainda não foram feitos à Justiça, porque, segundo os delegados, as investigações estão em fase inicial e não há elementos que justifiquem a medida.

Os crimes que estão sendo investigados são o estupro de vulnerável, já que a vítima é menor de idade, e a divulgação na internet de material pornográfico envolvendo menores. “Como pai, como marido, também penso ‘por que esse sujeito ainda não está preso?’. Mas, do ponto de vista técnico, temos que dar seguimento às investigações”, disse o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso.

Leia também:
Suspeito de ter participado do estupro coletivo diz que crime é invenção
Acompanhante de suspeito de estupro no Rio diz estar 'mais famoso que Dilma'
Pai é preso por abusar de filha de 7 anos no Sul
Abuso coletivo contra adolescente no Rio expõe ‘cultura do estupro’ no Brasil
Temer anuncia departamento na PF para combater crimes contra mulher
'Não dói o útero e sim a alma', escreve adolescente vítima de estupro coletivo

O caso veio à tona depois que imagens do crime foram gravadas e compartilhadas nas redes sociais. Nas imagens, a adolescente aparece nua, desacordada e machucada. O vídeo também exibe um homem que admite: “Uns 30 caras passaram por ela”. A presidente da Comissão OAB Mulher da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil, Daniela Gusmão, classificou o crime como um ato de barbárie.

 “A OAB entende que a nossa sociedade está vivendo um momento de grande retrocesso nas questões de gênero. Esse crime, entre tantos outros, mas especialmente esse, em que 30 homens colocam a mulher em uma posição absolutamente degradante, deve ser considerado mais que um estupro, é um crime de ódio contra a mulher. É um ato de barbárie”, sentenciou Daniela.

Em depoimento à polícia, a jovem de 16 anos contou que foi dopada e estuprada por 33 homens no morro São José Operário, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. Ela disse ainda que os agressores estavam armados com fuzis e pistolas. 

Para a cientista política Priscila Brito, do movimento Articulação de Mulheres Brasileiras, é preciso aprofundar o debate para que a população possa combater o machismo que está por trás de crimes como esse.

“Quando esses casos vêm à tona, são muito emblemáticos do que a gente chama de cultura do estupro. São a exacerbação do que está colocado como normal na sociedade. É chocante, inclusive, para quem está fora do movimento feminista e acha um absurdo, mas as coisas que levam a ele são coisas que em geral são naturalizadas”, disse Priscila.

Revolta mobilizou ativistas e provocou reações do governo e até dos hackers Anonymous
O presidente interino, Michel Temer, divulgou nota de repúdio ao estupro em que diz que irá criar um departamento na Polícia Federal para investigar crimes contra a mulher.

Semelhante à Delegacia da Mulher da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o departamento irá agrupar informações estaduais e coordenar ações em todo país.

Até o grupo de hackers Anonymous Brasil divulgou uma nota em que afirmou estar à procura dos envolvidos no estupro coletivo da jovem.
“Anonymous é uma ideia de liberdade, Anonymous é um coletivo que luta por liberdade. Qualquer pessoa que se coloque contra nosso ideal é considerada nosso inimigo”, diz a nota, que ainda afirma que qualquer um que apoie, divulgue, seja conivente, assista, compartilhe, ou simplesmente que não aceite o fato de que o único culpado pelo estupro é o próprio estuprador, será visto por Anonymous também como inimigo. 

Ativistas
Manifestações de apoio à adolescente e de repúdio à violência contra as mulheres estão sendo marcadas para dar visibilidade ao assunto. Na próxima quarta-feira (1/6), manifestantes devem ir às ruas no Rio, em Belo Horizonte e São Paulo, às 16h. 

(*) Com Agências

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por