Cerveja Contaminada

Caso Backer: quatro vítimas e duas testemunhas são ouvidas no primeiro dia de julgamento em BH

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
23/05/2022 às 20:24.
Atualizado em 23/05/2022 às 20:42

Quatro pessoas que tiveram sequelas após consumirem cervejas da Backer, em 2020, foram ouvidas, nesta segunda-feira (23), no primeiro dia de julgamento no Fórum Lafayette, no Barro Preto, região Centro-Sul de BH. A sessão do chamado "Caso Backer" ocorre com portas fechadas, sem a presença da imprensa.

O caso ganhou notoriedade em janeiro de 2020, quando algumas pessoas começaram a manifestar sintomas de uma síndrome nefroneural, que provocava insuficiência dos rins e problemas neurológicos. Uma investigação da Polícia Civil relacionou os problemas de saúde ao consumo de cervejas da Backer, principalmente a Belorizontina, que estariam contaminadas com uma substância tóxica conhecida como dietilenoglicol. Dez pessoas morreram e várias tiveram sequelas.

No julgamento desta segunda, foram ouvidas quatro vítimas: Giani Cláudia Setto Vieira, Josias Moreira de Mattos, Cristiano Mauro Assis Gomes e Vanderlei de Paula Oliveira. Dois técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) também foram ouvidos na audiência.

Depoimentos 
A primeira pessoa ouvida foi Giani Cláudia Setto Vieira, que participou por meio de videoconferência. Ela relatou ter comprado as cervejas no fim de 2019 e que as consumiu até o início de janeiro de 2020. Ainda segundo a vítima, ela procurou atendimento médico na cidade de Viçosa, depois de apresentar sintomas como vômito, dores lombares e na região dos rins. Após fazer exames de sangue, Giani foi internada e encaminhada para hemodiálise.

A segunda vítima a prestar depoimento foi Josias Moreira de Mattos, que também participou à distância. Ele ainda apresenta dificuldades com a fala e só consegue responder com "sim" e "não". Josias confirmou ter ingerido bebidas alcoólicas e que teve problemas de saúde causados por conta disso.

Em seguida, foi a vez de Cristiano Mauro Assis Gomes, ouvido por videoconferência. Ele contou ter comprado as cervejas em uma promoção de Black Friday em 2019. Após a ingestão da substância tóxica, ele foi internado com insuficiência renal e teve problemas neurológicos, como paralisia facial e alucinações auditivas. Cristiano permaneceu internado por 44 dias no CTI e recebeu um transplante de rim da esposa em setembro de 2020. Atualmente, ele ainda faz tratamento de saúde, toma imunossupressores com efeitos colaterais e apresenta restrições de movimento na face.

A última vítima ouvida na audiência desta segunda (23) foi Vanderlei de Paula Oliveira, que confirmou ter ingerido a cerveja Belorizontina. Em seguida, ele relatou ter ficado três meses no CTI e mais de dois na enfermaria de um hospital. Vanderlei ainda enfrenta problemas como paralisia dos nervos periféricos e até parada respiratória. Atualmente, ele está em casa, mas é submetido a sessões de hemodiálise quatro vezes por semana.

Uma quinta vítima que também prestaria depoimento foi dispensada e deve ser ouvida nos próximos dias.

Testemunhas
Durante a audiência, dois técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) também foram ouvidos. Carlos Vitor Muller afirmou que uma substância estranha foi constatada no processo de produção da cerveja da Backer. Ele confirmou que houve contaminação por etilenoglicol dentro da fábrica e que lotes diferentes da bebida foram contaminadas mesmo sem terem relação entre eles. Contudo, o técnico do Mapa pontuou também que o dietilenoglicol não era uma substância proibida na indústria alimentícia.

Uma outra técnica do ministério, que não teve o nome divulgado, revelou que o consumo das substâncias tóxicas era atípico dentro da fábrica da Backer. Segundo ela, como trata-se de um "sistema fechado", não é necessário reabastecimento com o dietilenoglicol. No entanto, isso pode ter ocorrido na empresa.

Ainda conforme a técnica do Mapa, após o episódio da Backer, as fábricas foram orientadas a não usarem mono ou dietilenoglicol.

Fase de instrução
No Fórum Lafayette devem ser ouvidas 28 pessoas até a próxima quinta-feira (26), que foram arroladas como testemunhas pelo Ministério Público. As vítimas podem optar por prestar depoimento por videoconferência.

Não há limite de tempo para cada depoimento. A data para ouvir testemunhas de defesa e réus será marcada posteriormente. Os acusados podem acompanhar os depoimentos, se desejarem.

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