(Divulgação)
Medindo apenas quatro centímetros, um novo invertebrado da classe dos aracnídeos poderá ser a salvação de um pedaço rico em biodiversidade da Serra do Espinhaço, no Norte de Minas.
Com o nome científico Iandumoema smeagol, o pequeno opilião, semelhante a uma aranha, foi descoberto em cavernas de calcário no município de Monjolos.
Endêmica desta parte do território mineiro, a espécie faz parte da fauna ameaçada de extinção. Com isso, o opilião de pernas alongadas, sem olhos e coloração caramelo claro encontrado na região, deverá obstruir o projeto de construção de pequenas hidrelétricas na área de cavernas, que também convive com a extração de calcário para produção de cimento.
Para preservar o Iandumoema smeagol, o ideal é que seja criada no local uma Área de Proteção Ambiental (APA), de acordo com a bióloga Maria Elina Bichuette.
Pesquisadora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, a especialista coordenou a descoberta do invertebrado em duas cavernas de Monjolos: a Toca do Geraldo e a Lapa de Santo Antônio.
“Ainda não fizemos nenhum encaminhamento a órgãos ambientais em Minas. Mas a construção das centrais hidrelétricas mudará cursos de rios e o regime de águas subterrâneas, causando impactos nas cavernas. Por causa do risco de extinção, o novo opilião tem que ser protegido por lei. A proteção é para o bicho. Mas, para isso, as cavernas onde eles vivem também precisam ser protegidas”, explica a especialista.Laboratório de Estudos Subterrâneos da UFSCar/Divulgação / N/A
A maioria dos exemplares do opilião foi encontrada em partes úmidas da Toca do Geraldo
Isolamento
Segundo a doutora da UFSCar, o Iandumoema smeagol foi descoberto em trabalho de campo para o projeto de um aluno de mestrado da universidade. “É uma região com isolamento de fauna, propícia para os aracnídeos de hábitos noturnos, espécies endêmicas de cavernas”, diz Maria Elina.
A maioria dos exemplares do opilião foi encontrada na Toca do Geraldo. “Eles foram localizados bem no fundo, em locais muito úmidos. A caverna também não era conhecida e recebeu esse nome em homenagem ao morador que nos ajudou a chegar até ela”, ressalta a bióloga.
A Lapa de Santo Antônio, outro local de descoberta da nova espécie, é um dos pontos turísticos de Monjolos.
Apesar da semelhança, não se trata de uma aranha. “Não tem peçonha, não é venenoso e não oferece risco aos seres humanos”, informa a pesquisadora.
O Iandumoema smeagol se alimenta de invertebrados menores, vivos, e material orgânico em decomposição, como restos de folhas e musgos. “Serve de alimento para aracnídeos menores e tem importante papel na cadeia alimentar dentro das cavernas”, acrescenta.
Maria Elina destaca que, num primeiro momento, a descoberta tem importância científica para fins de conservação. “Pode ser que no futuro seja aplicada em outras áreas, como da medicina”.
Ponto a Ponto