Paixão pela bola: ex-jogadores de futebol se reúnem para partidas de futevôlei em BH

Clarissa Carvalhaes
ccarvalhaes@hojeemdia.com.br
18/06/2016 às 17:26.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:57
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Eles se aposentaram dos gramados há um bom tempo, mas ainda hoje continuam batendo um bolão. Nonato, Dênis, Milagres, Evanilson, Somália e Paulinho, destaques do futebol mineiro, são a prova viva de que para ser craque em qualquer esporte basta uma boa pitada de paixão, no caso deles, pela bola.

Longe dos campos, essa turma vem nos últimos anos se divertindo em outra praia: ao menos uma vez por semana eles se reúnem para jogar futevôlei. Esporte que, aliás, faz sucesso em BH desde os primeiros anos na década de 1990, quando Renato Gaúcho, por quatro meses, vestiu a camisa do Cruzeiro e fez a cabeça dos atletas do clube com o esporte. 

“Naquela época a gente jogava futevôlei aonde conseguia espaço, até em quadra de cimento. A gente só colocava um tênis e estava feito. Só depois de um tempo, alguns lugares começaram a se profissionalizar e colocaram areia pra gente jogar”, recorda Nonato, capitão do Cruzeiro em 1996.

Para Paulinho, que jogou em clubes de Portugal e Alemanha "independentemente de ser uma cidade litorânea, BH merece explorar melhor o futvôlei. Em Montes Claros, Goiânia e Brasília, por exemplo, esse esporte é muito praticado. Aqui tem tudo para crescer", acredita.

“Hoje nós fazemos torneios entre amigos, ex-jogadores como o Tucho, Mancini, Irênio, Gilberto Silva e Joãozinho Neto. É uma turma boa, que não consegue mais correr 90 minutos em campo como antes, mas também não quer largar a bola”, brinca o ex-lateral celeste.Geração saúde

Aos 50 anos, Milagres, ex-goleiro com mais partidas na história do América (foram 361 jogos disputados em nove anos), exibe um corpo de dar inveja a muito garotão.

“Mas aqui no futevôlei, eu sou o vovô da turma. Como fui criado no Rio de Janeiro, jogo desde os 15 anos de idade. Em 92, quando cheguei em BH, o futevôlei estava começando, mas hoje é um gigante se compararmos com aquele tempo”, diz.

O ex-zagueiro americano Dênis garante que além de ser uma oportunidade para deixar a saúde em dia, o esporte é um artifício e tanto para reencontrar ex-companheiros.

“A gente mata a saudade da bola, dos amigos que são ex-jogadores e é claro, conversa sobre futebol. O bom é que o risco de lesão no futevôlei é o mínimo possível. O atleta não tromba e usa os fundamentos do futebol sem ter que medir força com seu oponente”, explica Dênis. 

Somália, ex-atacante do Fluminense completa: “E olha, a gente tem mais disposição do que essa meninada de hoje. Eu vejo meu filho de 11 anos e todos esses garotos com a idade dele. A atividade física deles se chama computador, celular, rede social”, comenta, aos risos.

 Quando o assunto é futebol...

Fora das quadras, é quase impossível que essa turma não fale de futebol. “Acompanhamos os jogos do Brasileirão, mas tem partida que simplesmente não dá pra assistir, em dez minutos eu desligo a televisão”, comenta Evanilson, ex-Borussia Dortmund (Alemanha).

“Na verdade, a gente mais torce pela Seleção Brasileira, por exemplo, do que acredita nela. Antigamente, o ‘acreditar’ estava diretamente ligado ao ‘torcer’, mas isso não existe mais”, diz Milagres.

Evanilson recorda que na década de 1990, os jogadores mal dormiam, ansiosos pela possibilidade de defender a Seleção canarinho. "Antigamente a gente ficava ansioso esperando receber uma ligação para ser convocado para a Seleção Brasileira. Hoje tem jogador que até desliga o celular", lamenta.

Ex-lateral-esquerdo do Cruzeiro, Nonato concorda. "O futebol brasileiro está feio demais. Pior é quando tem jogo da Champions durante o dia. Você assiste a dois jogos e, à noite, vê o Brasileirão... Que tristeza!’", diz, arrancando risos dos colegas.

Para Milagres, um dos motivos para o futebol brasileiro estar em crise é a janela do calendário. "As equipes não conseguem manter os jogadores por dois, três anos consecutivos. Antes, todo mundo conhecia os jogadores do time, o torcedor conhecia o nome dos atletas da equipe dele, do número um ao 15. Hoje, o torcedor não consegue acompanhar. Fica complicado até para se construir um ídolo", diz o ex-goleiro.

Paixão de torcedor

Ainda segundo o ex-capitão celeste, se o torcedor colocar na cabeça que o jogador está ganhando demais, ele vai exigir cada vez mais do atleta. "E eu acho justo essa cobrança. Muitas vezes o cara ganha uma fortuna e não honra a camisa como deveria. Na nossa época, a gente ganhava bem menos e, rapaz, a gente tinha que jogar demais", recorda.

Hoje, atuando como empresário de jogadores, Dênis destaca que paixão deve ficar na conta do torcedor, e não do atleta. "O jogador tem que ser profissional. Deve estar aonde é melhor remunerado, tem mais visibilidade, melhor tratamento e condição de trabalho".

Para o ex-zagueiro, a baixa qualidade técnica que o futebol brasileiro vem apresentando está diretamente relacionada ao investimento equivocado que vem sendo feito na formação dos atletas.

"As categorias de base não revelam jogadores como revelavam antigamente, e a cobrança do profissionalismo tem feito com que a base se torne um verdadeiro comércio. O clube, às vezes, quer potencializar o jogador que tem muita qualidade com 16 anos e daí o profissionaliza. O problema é que, na maioria das vezes, esses jogadores são lançados precocemente. Isso gera uma ansiedade, não só no clube, mas também nos outros atletas que são companheiros dele", conclui.

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