Fonte da juventude

04/09/2016 às 11:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:41

A caminho do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, vejo a placa sinalizando Novo Hamburgo, cidade gaúcha colonizada por alemães e considerada a capital nacional do calçado. Meu cérebro imediatamente faz a associação com Douglas Santos, que, há uma semana, estava justamente aqui no Sul, desempenhando um papel fundamental no empate do Galo com o Grêmio por 1 a 1.

Era dele o pé esquerdo que lançou, na medida, para Robinho empatar a partida em seus minutos finais, após intenso bombardeio gremista à meta de Uilson. Se soubesse que era a sua despedida e que agora estaria vestindo a camisa do Hamburgo, talvez me esforçasse para vê-lo in loco e não numa TV de quarto de hotel, em Gramado, adiando assim o encontro com os chocolates e o festival de cinema.

Foi um the end de cinema, certamente. Clássico, forte e vitorioso. Com ele em campo, o Atlético resolveu um problema crônico na lateral esquerda. O time parecia capenga, assimétrico, com o peso carregado nos ombros de Marcos Rocha pelo lado direito. Após sua chegada, em agosto de 2014, o Galo passou a ter a sua melhor dupla da posição em anos e uma das melhores do país.

Com o jogador paraibano e, mais recentemente, com o volante Rafael Carioca, o Atlético passou a servir a Seleção Brasileira em todas as posições, num curto espaço de quatro anos. Dos goleiros Victor e Uilson aos atacantes Jô, Tardelli e Bernard, passando pelos zagueiros Réver, Leonardo Silva e Jemerson, além do lateral-direito Marcos Rocha e do meia Ronaldinho Gaúcho, que, acredito, logo deverá ganhar a companhia de Robinho.

O menino da Vila renasceu para o futebol assim como R10, em 2012. Ninguém duvidava que Robinho seria um reforço de peso para o grupo do Galo, mas nem o atleticano mais otimista poderia imaginar que ele continuaria brincando soberano com a bola, numa parceria que nos faz lembrar as grandes duplas dos musicais da Metro, como Fred Astaire e Ginger Rogers.

É como o veterano diretor Domingos Oliveira, que exibiu em Gramado um filme tão ou mais vigoroso e jovem que os concorrentes que têm a metade de sua idade. O futebol precisa também da arte desses antigos mestres. Não por acaso, os dois clubes que despontam nessa parte do Campeonato Brasileiro são Atlético e Flamengo, os times de Robinho e Diego, que compuseram uma dupla inesquecível no Santos.

O santista e amigo crítico de cinema que está na mesa do restaurante alemão, para uma votação de jornalistas, defende que Robinho só teve um, o que vestiu a camisa praiana, campeão brasileiro em 2002 e 2004. Esse Robinho, concordam os outros dois convivas, flamenguistas, não só comete suas estripulias como está mais consciente e maduro, como o maestro da equipe.

Quando está bem, e felizmente isso tem sido cada vez mais constante, é um espetáculo, um desses épicos grandiosos. Fico imaginando se, no lugar de Robinho na partida contra o Grêmio, estivesse outro jogador, e se conseguiria dar o toque necessário para empurrá-la para a rede. No Atlético, há uma espécie de fonte da juventude, que também tem feito bem a Leonardo Silva, com seus 37 anos.

Curiosamente, as lendas dizem que o explorador Ponce de Léon encontrou a verdadeira fonte da juventude, no século 16. E na Flórida, onde esse ano o Atlético ganhou um título. Parece que agora estão aparecendo seus efeitos, despertados possivelmente pelo técnico Marcelo Oliveira, uma espécie de Rübezahl, figura lendária alemã chamada de o Senhor do Tempo.

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