Grupo Primeira Campainha faz ensaio sobre o silêncio

06/03/2014 às 07:48.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:27
 (Tomas Arthuzzi/Divulgação)

(Tomas Arthuzzi/Divulgação)

Em 2010, o grupo Primeira Campainha conseguiu provocar um burburinho no universo do teatro belo-horizontino com o espetáculo "Elisabeth Está Atrasada”. Ganhou um maior reconhecimento no ano seguinte, com “Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões”. Agora em sua terceira peça, o trio feminino volta a reunir diferentes referências da cultura pop para construir sua dramaturgia, mas dessa vez com um processo de elaboração bem diferente. Em “Isso É para Dor”, a companhia contou com o texto e a direção de Byron O’Neill, destaque do teatro jovem e contemporâneo da capital.  Um dos projetos contemplados pelo Prêmio Fundação Clóvis Salgado de Estímulo às Artes Cênicas de 2013, “Isso É para Dor” estreia amanhã no Teatro João Ceschiatti e cumpre duas temporadas – este mês e em junho, durante a Copa do Mundo. A peça recebeu incentivo de R$ 70 mil (na verdade, com o desconto dos impostos, R$ 49 mil líquido).   A principal referência do espetáculo é o eterno best-seller “O Diário de Anne Frank”, mas ainda há espaço para citações sobre a imagem de King Kong no alto do Empire State Building, o discurso final de Charles Chaplin em “O Grande Ditador” o desfecho trágico de “O Lago dos Cisnes” e até a morte da mãe de Bambi no clássico da Disney.    Escondidas   Na trama, três mulheres estão escondidas em um lugar onde gritar é proibido. Ouvem o mundo desmoronar à sua volta, mas a interação com o exterior é impedida – assim como era para Anne Frank e seus familiares, escondidos nos cômodos secretos de um edifício comercial de Amsterdã por dois anos, até serem descobertos pelo exército alemão em 1944.    “É uma história que fala sobre a privação da liberdade, sobre a relação entre amor e oprimido, sobre a situação de pessoas que tiveram que viver escondidas porque eram perseguidas por serem diferentes. Falamos sobre intolerância, mas, sobretudo, falamos sobre o amor existente entre aquelas três mulheres presas”, adianta Marina Arthuzzi, integrante da Primeira Campainha ao lado de Mariana Blanco e Marina Viana.   “Isso É para Dor” no Teatro João Ceschiatti – Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, Centro). De quinta a sábado, às 21 horas, domingo, às 19 horas. De amanhã a 16 de março; 5 de junho a 13 de julho. R$ 10 e R$ 5 (meia).   Prêmio permitiu uma nova forma de trabalhar   Com o dinheiro do Prêmio Estímulo, o processo de criação de “Isso É para Dor” foi bem diferente do espetáculo de estreia da Primeira Campainha. Se antes todas as demandas eram divididas entre as três integrantes (produção, iluminação, figurino, cenário, burocracia etc), dessa vez o trio pôde contratar outros profissionais e se dedicar melhor ao trabalho realizado em cima do palco. “Dessa vez, assino apenas como atriz”, afirma Marina Arthuzzi.   Mas o contato com Byron O’Neill é anterior à chegada dos recursos. O namoro já vem acontecendo há dois anos, desde que o diretor e dramaturgo assistiu a “Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões” e, sem demora, escreveu um texto para as meninas do Primeira Campainha.   “Começamos a conversar com o Byron sobre o queríamos, como seria o trabalho, mas o processo foi lento no início. Ele foi desenvolvendo textos a partir das experimentações em cena. Foi ele quem achou que seria pertinente abordar ‘O Diário de Anne Frank’”, conta Marina, lembrando que a pesquisa buscou um grande número de referências. “A linguagem da Primeira Campainha é procurar diferentes textos e imagens para converter tudo numa estrutura dramatúrgica e poética”.    O grupo, que sempre construiu a dramaturgia de forma coletiva, investiu na experiência de troca com alguém de fora. “Byron é uma figura fantástica, movida pela paixão pelo teatro. Precisávamos dessa renovação no olhar”, diz Marina.    Holanda   A Primeira Campainha se propõe a ir além da produção de peças teatrais. O trio comanda ainda a realização do fanzine eletrônico “O Mimeógrafo” – realizado em parceria com amigos do mundo das artes e da comunicação –, a criação do Prêmio Banana Rosa – uma brincadeira com atores que passam pelo Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto – e até uma festa junina ao ar livre no bairro do Horto.    A nova empreitada do grupo é a tentativa de levar “Isso É para Dor” para Amsterdã, onde Anne Frank viveu a maior parte de sua curta vida – ela nasceu em Frankfurt, em 1929, mas sua família fugiu da Alemanha em 1933. É na capital holandesa que fica o museu dedicado à famosa menina que morreu aos 15 anos em um campo de concentração. 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por