Seguindo tradição de décadas, blocos caricatos desfilam nesta segunda em BH; conheça enredos

Anderson Rocha
03/03/2019 às 14:09.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:49
 (Cacá Lanari/Belotur)

(Cacá Lanari/Belotur)

Os bloquinhos estão na crista da onda em Belo Horizonte, mas o Carnaval da capital começou bem antes, décadas atrás. São os blocos caricatos, que desfilam com seus carros-alegóricos, bateria, alas e fantasias a partir das 19h desta segunda-feira (4), na avenida Afonso Pena, no Centro da cidade. A entrada é gratuita. 

Onze blocos disputam o prêmio de R$ 30 mil dedicado ao primeiro lugar, R$ 20 mil ao segundo e R$ 10 mil ao terceiro. De acordo com a Belotur, uma das novidades deste ano é o aumento em 20% no valor das subvenções: cada bloco caricato recebeu o apoio financeiro da Belotur da ordem de R$ 45 mil (grupo A) e R$ 31 mil (grupo B).

Temas dos blocos caricatos

Cada bloco desfilará nesta noite abordando temáticas escolhidas. Veja abaixo:

- Blocos caricatos Por Acaso e Corsários do Samba: exaltação da tradição dos blocos caricatos;
- Bloco Os Mulatos do Samba: história das máscaras;
- Bloco os Bacharéis do Samba: estilos de dança; 
- Os Acadêmicos da Vila Estrela: universo do circo; 
- Os Aflitos do Anchieta: África, berço do samba;
- Unidos da Zona Norte: construção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Betim; 
- Estivadores do Havaí: trajetória do SBT e da TV Alterosa;
- Infiltrados de Santa Tereza: belezas e lendas da Amazônia;
- Os Inocentes de Santa Tereza: escravidão e racismo. 

Tradição antiga

Segundo a Belotur, o bloco caricato é a manifestação carnavalesca mais típica e antiga de Belo Horizonte. Dados históricos mostram que esse jeito de aproveitar a folia começou na capital mineira décadas atrás, uma tradição iniciada por operários que trabalhavam na fundação da cidade. 

Na época, os trabalhadores pintavam seus rostos e desfilavam batendo latas e tambores em cima de carroças. Tempos depois o hábito ganhou o formato de desfile, herança que continua sendo transmitida entre gerações. 

Programe-se!

GRUPO A:
Unidos Zona Norte
Os Inocentes de Santa Tereza
Estivadores do Havaí
Por Acaso 
Mulatos do Samba
Bacharéis do Samba
Infiltrados de Santa Tereza
Corsários do Samba

GRUPO B:
Real Grandeza
Acadêmicos da Vila Estrela
Os Aflitos do Anchieta

Perfil dos blocos caricatos

Unidos da Zona Norte

A história da construção da bela Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em Betim, será contada pelo bloco do bairro São João Batista. Seus 370 integrantes serão divididos em sete alas que irão narrar a verdadeira saga que foi a idealização da igreja. "O preconceito racial da época impedia que brancos e negros frequentassem a mesma missa", explica o presidente Janjão. Essa segregação acabou mobilizando parte da irmandade, que se uniu e arrecadou dinheiro para financiar a construção do imóvel, o que só aconteceu em 1897. Desde então a igreja é palco fervilhante de importantes manifestações da cultura afro-brasileira na cidade.

Samba-enredo: História da construção da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Betim
Compositores: Janjão, Mauro Bainha e Mandruvá

É negro, é festa
Chegou a hora de comemorar
Eu quero ver a passarela balançando quando a Zona Norte seu enredo desfilar

No Século 18 em Betim
O negro não tinha espaço pra rezar
Oitenta anos se passaram
Pra esse sonho se realizar

Trinta mil réis foram doados
Para ajudar na construção
Mas foram usados em outra igreja
Foi grande a decepção

Senti  na pele inverter os papéis
São trinta mil réis que foram pro ralo
Tira daqui, põe ali, tira de lá, bota cá
Eu continuo com a cara de otário

Com fé e determinação
Da Irmandade Senhora do Rosário
Joaquim Nicolau apoiou enfim
O negro conseguiu seu santuário

Obrigado mamãe Oxum
O negro pede sua benção maternal
Liberdade, liberdade, salve Zambi
Todo homem nesse mundo é igual

Os inocentes de Santa Tereza

Criado em 1973, o bloco também aborda o preconceito racial em seu desfile. Partindo de uma história ficcional, os integrantes ilustram o enredo "O Malandro Batuqueiro do Pérola Negra". Enquanto um traficante de escravos lotava um navio de negros para serem vendidos no Brasil, um exímio batuqueiro usa de sua malandragem para distrair o negociante e ensinar capoeira aos demais escravos. Esse cenário de trabalho forçado e completa exploração é ponto de partida para a turma falar de racismo, esse mal que infelizmente insiste em varrer nossa sociedade atual. Os 200 integrantes do bloco chegam divididos em quatro alas. Destaque para a figura da Escrava Anastácia, importante símbolo da luta racial, que chega amordaçada, conforme registros da história oral. "Será um desfile forte e simbólico", sugere o presidente Ângelo Almeida.

Samba-enredo: O Malandro Batuqueiro do Pérola Negra
Compositor: Marco Valente

Eu sou malandro, cria de Santa Tereza
O batuqueiro que calou Pérola Negra (2x)
Vem comigo amor ô ô ô
Nessa história de beleza e sofrimento quem eu sou (oi que eu sou)

Sou um malandro batuqueiro
Que dos porões de um negreiro
Vem proclamar o seu valor em um cantar
A alma de um capoeira

Não se aprisiona jamais
Jones...
Eis o carrasco sobre o mar (ô laiá)
Lucrando com minha tristeza

A bordo do Pérola Negra
O Deus traficante
Terror navegante
Nunca pode me calar

Pois um capoeira
No meio ou na beira
É ruim de segurar
Bate tambor negro oh oh

O meu sangue é inocente
Sou banto, Jeje-Nagô (2x)
Na avenida
de branco, vermelho e preto

Sou demais
No compasso deste samba
O bamba que balança mas não cai

Estivadores do Havaí

Um dos campeões do ano passado, o bloco de Venda Nova escolheu prestar um tributo ao canais SBT e TV Alterosa. Para isso, três alegorias, além do caminhão principal, pretendem evidenciar personagens importantes das emissoras. Um dos maiores nomes da TV brasileira, o apresentador Silvio Santos será um dos mais evidenciados no desfile. Os amantes de esportes estarão contemplados com a bancada do programa Alterosa Esporte, que será simulada na avenida. Um dos campeões de audiência da emissora, o Chapolin Colorado tem presença prometida. A intenção é fazer um desfile alegre e contagiante para agradar a audiência.

Enredo: TV Alterosa e SBT, uma história de amor com você
Compositor: Juólison Mangabeira

Com empolgação vou apresentar
Uma história de amor a te emocionar
Ligue a TV vem assistir
Com Estivadores do Havaí

Sintonize o canal já chegou o Carnaval
A magia está no ar
Hoje é dia de alegria a imagem contagia
Silvio Santos vem brilhar

Vai te levar ao mundo encantado
Desabrochando um infinito de prazer
Um universo bem aprimorado
O aviãozinho faz a gente enlouquecer

Meu coração bate acelerado
A audiência vai engrandecer
O programa começou é o SBT
E a Alterosa que está dentro de você

A bancada fascinante
Vou festejar
Um gol de placa com respeito
Essa turma eu sei que vai marcar

É no horário nobre da televisão
Com prestígio traz a informação
Chega invadindo o nosso lar
Eu sentado no sofá

É um sinal de felicidade
Que pra toda a família irá transmitir
Uma programação
Com certeza merece aplaudir

Por acaso

"Com os blocos não há problema" é o tema dessa galera dos bairros Carlos Prates e Vila São Francisco conhecidos pelas cores verde e rosa. Seus 210 integrantes fazem questão de ressaltar a importância da história dos blocos caricatos de Belo Horizonte. "Temos que valorizar isso, manter essa tradição. É algo que só tem aqui na nossa cidade", destaca o presidente Jairo Alves. Cada uma das treze alas irá homenagear um bloco caricato diferente, pinçados entre os 72 que já passaram pela avenida ao longo de toda a história da folia belo-horizontina.

Samba-enredo: Com os blocos não há problema
Compositor: Delei Por Acaso

Voei
Nas asas do tempo para reviver nossos Carnavais
Saudades dos tempos de outrora que não voltam mais
Boca branca da paz
Santo Antônio vem abençoar

Essa Real Grandeza
Que o verde e rosa vem mostrar (bis)
Eu vou ficar Infiltrado no Samba
Até a bateria passar

No gingado eu sou Bacharel
Aos caricatos eu tiro o meu chapéu (bis)
Unidos da Zona Norte, coloredes
A Vila Estrela também vai brilhar

Quando o Por Acaso chega
Até Os Mulatos vêm sambar
Sente a batida
Que beleza

Inocentes de Santa Tereza
Faz a passarela balançar
Tem Corsários, Presidiários e Estivador
Mas o Por Acaso é o meu grande amor (bis)

Mulatos do Samba

Um baile de máscaras formado pela comissão de frente vai abrir o desfile do Mulatos do Samba, o bloco originário do bairro Santo André. Segundo o presidente Betô, os 180 integrantes irão se dedicar na avenida a contar a presença da máscara em culturas diversas, sem se esquecer que o símbolo também representa os blocos caricatos da cidade. "Vamos brincar com essa ideia do mistério e do oculto por trás de uma máscara", adianta Betô. 

O bloco foi um dos três vencedores do ano passado - em 2018 houve um empate triplo no primeiro lugar - e também faturou o primeiro lugar nos três anos anteriores. A confiança do tetracampeão, portanto, serve de incentivo ao desempenho do bloco. "Sempre queremos superar nossa performance do ano anterior, e vamos brigar pelo título", relata o presidente. 

Samba-enredo: Disfarce facial - a magia da cultura e o segredo das máscaras
Compositor: Roberto Martins (Betô)

Eu vou delirar
Pintar o rosto é tradição
De vermelho e branco, que fascinação
Bate na palma da mão, é de arrepiar

Levanta o Mulatos do Samba acabou de chegar (bis)
Mais uma vez
É mais uma vez
É alegria, nosso bloco na avenida

Nossa família Mulatos vem contar
A história do disfarce facial
Na antiguidade onde tudo começou
Com a confusão de cores era magia

No Egito exaltação nas crenças e rituais
Feitiços de pura ilusão
Na Grécia antiga
O teatro obsessão

Máscaras teatrais
De tradição milenar
Um brilho vermelho no ar
Sé é Carnaval é fantasia

Diversão o folião
Hoje é o artista
E nesta noite o segredo não vai ter fim
No grande baile sem máscara não pode ir (bis)

Peça sagrada
Peça sagrada dos seus ancestrais
Nos rituais africanos
Festividades ao som do tambor
Faz seu uso popular

Ser mascarado em Veneza é especial
E a fantasia inspira seu Carnaval (bis)

Bacharéis do Samba

Moradores dos bairros São Pedro, Morro do Papagaio, Vila Estrela e Vila Santa Rita formam esse bloco, nascido em 1965 e, portanto, um dos mais antigos atualmente. Com as cores amarelo e preto e tendo o gramofone como símbolo deste ano, os Bacharéis do Samba esmeram o rebolado para falar da dança a partir da escolha de oito estilos, cada qual representado em uma das oito alas, totalizando seus 190 integrantes. A gama de ritmos escolhidos vai do maracatu, passa pelo frevo e chega ao balé clássico. Figuras icônicas do mundo da dança surgem na alegoria principal, entre eles Carmen Miranda e o ator e dançarino norte-americano Gene Kelly.

Enredo: Quem Dança Seus Males Espanta
Compositor: Guilherme Mocidade

Arrebenta Bacharéis
A festa vai começar
Quem dança seus males espanta
Hoje vou me esbaldar

Abram-se as cortinas
Louvada seja nossa dança
Ao som do gramofone
Na avenida viro uma criança

Venha comigo, pode chegar
As bailarinas vão te encantar
Liberte-se das coisas materiais
Mente serena, saúde e paz

De Pernambuco, frevo e maracatu
De Andaluzia, o orgulho espanhol
Opatchá, mas que beleza
É uma casa portuguesa com certeza

O que é que a baiana tem
Muito prazer, Carmen Miranda
Charmosas Melindrosas
Dança do ventre sensacional

Gene Kelly dançando na chuva
E o pole dance levantando o seu astral

Infiltrados de Santa Tereza

Quando os Infiltrados de Santa Tereza começarem seu desfile, a avenida vai se transformar no pulmão do mundo. Como o bloco adotou a Amazônia como tema, os moradores da Vila Dias irão mostrar ao público a importância da defesa do meio ambiente. A abordagem ganha elementos folclóricos ao mergulhar em lendas amazônicas. A sereia Iara, que vive nas águas do rio da região, aparece no abre-alas. Outro personagem lendário da cultura daquela região, o boto-cor-de-rosa será revelado como destaque no desfile. Segundo a tradição, o boto-rosa sai dos rios nas primeiras horas da noite, transforma-se em um homem e busca galantear jovens mulheres, engravidando algumas jovens. Pescadores e suas canoas, índios e mulatas completam a apresentação do bloco, fundado em 2009. 

Enredo: Amazônia - o pulmão do mundo
Compositor: Lado Raízes

O pulmão do mundo está aqui
A gente tem que defender
É preservar sem desmatar sem destruir
A natureza vai agradecer

Mulheres guerreiras deram nome ao lugar
Que os invasores vieram para explorar
Mostrando a sua bravura
De uma cultura milenar

Os Infiltrados de Santa Tereza
Ouviram a Iara cantar
Nos igarapés a fertilidade riqueza de se orgulhar
É o verde que estampa a bandeira Nacional

Colorindo a passarela nesse Carnaval (bis)
A Amazônia em festa
Com liberdade para comemorar
Todo povo da floresta

Navegam pelo rio-mar
As moças do vilarejo
Esperam o verão chegar
Quando o boto-cor-de-rosa

Sai da água para dançar.

Corsários do Samba

Ser um bloco tradicional, familiar e o mais antigo da cidade - foi criado em 1962 - é o grande orgulho de Fauze Elias, presidente do Corsário do Samba. É essa força da tradição que move os 100 integrantes vindos do bairro Floresta a falar do tema intitulado "O Carnaval dos Carnavais". O presidente luta para que o desfile dos blocos caricatos continue sendo mantido e cada vez mais valorizado. Defensor da cultura popular tradicional, ele explica que seu bloco não é dividido em alas e não tem alegorias. "Bloco é todo mundo junto e vamos mostrar essa alegria e irreverência na avenida", adianta Fauze. "Vamos fazer a exaltação do Carnaval, por isso o bloco é aberto a todas as pessoas", completa.

Enredo: O Carnaval dos Carnavais
Compositor: Guilherme Mocidade

Nesta avenida magistral
Hoje o meu bloco vai passar
Vem, vem, vem, eu tô legal
De bem com a vida na querida Beagá

Arrepia bateria, vem comigo festejar
Sou da Floresta, sou tradição
Na passarela eu levanto o folião
Pode sorrir, pode brincar

A festa só acaba quando o dia clarear (bis)
Nasci de um bate-papo entre amigos
Como é gostoso relembrar
Naquela esquina passei parte da minha vida

Saudoso tempo que não volta mais
Hoje visto a fantasia e caio na folia
Desculpa se a lágrima rolar
Na Afonso Pena vou te emocionar

Eu sou Corsários, sou das Gerais
Vou me embalar no Carnaval dos Carnavais

Real Grandeza

O cavaquinho vai chorar quando bambas como Ataulfo Alves, Donga e Noel Rosa foram lembrados no desfile do Real Grandeza, bloco fundado em 2017 e um dos caçulas do Carnaval. O centenário do samba, completado em 2017, também será lembrado pelos foliões do bairro Anchieta. Uma coroa e uma águia, aliadas às cores azul, vermelho, branco e dourado, formam a identidade visual do bloco, que realiza seu desfile pela segunda vez.

Enredo: Homenagem ao samba
Compositor: Mandruvá

Real Grandeza na avenida de novo
Pra fazer seu desfile legal
Vem comigo entrar na dança
Vamos comemorar o centenário do samba

Que o chefe da folia avisou
Geraldo Pereira, Ataulfo Alves
Jadir Ambrósio nossa estrela maior
Minas tem história pra contar

Venha conhecer o Carnaval de BH
O tom da alegria que rei sou eu
De fruto nobre sou segunda sem lei
Com a velha guarda a receita é sambar

Sou Rio, Bahia, sou Minas Gerais
Com a Real Grandeza
O samba não morre jamais
Parabéns Donga e Noel

Só quem é bamba tira o chapéu
Poetas de grande valor
Que foram sambar lá no céu

Acadêmicos da Vila Estrela

A energia contagiante dos moradores da Vila Estrela, no Aglomerado Santa Lúcia, certamente irá envolver os foliões que presenciarem o desfile do bloco. Números de mágica, acrobacias e palhaços vão performar na avenida para contextualizar o enredo, que festeja o universo circense dos tempos passados e da cena contemporânea. Um lona de circo será montada sobre a alegoria principal. A escola pretende ganhar a atenção da arquibancada com fantasias bastante coloridas que paramentam seus 160 integrantes. "Vamos trazer alegria e leveza", explica Alvimar Neri, presidente de honra.

Samba-enredo: Hoje tem marmelada? Tem sim senhor!
Compositor: Mário Emílio Mouro

Vai começar a brincadeira
A Vila traz o circo do Brasil
É festa a noite inteira

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