Jovens e formados, milhares de espanhóis lutam para não ser uma geração perdida

Daniel Bosque Homs - AFP
27/05/2013 às 17:51.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:36

MADRI - Tem diploma universitário, experiência de trabalho e fala inglês, francês e espanhol, mas Paloma Fernández, com 28 anos, faz parte há quinze meses dos milhares de jovens espanhóis desempregados que temem se tornar uma "geração perdida".

Esta tradutora de Madri perdeu em dezembro de 2011 seu emprego após quatro anos no ministério da Justiça e, apesar de ter enviado muitos currículos para vagas de tradutora, funcionária administrativa e inclusive de recepcionista, continua sem trabalhar, e há um mês já não recebe seguro-desemprego.

"Às vezes você tem vontade de gritar: 'Quero ter um emprego, quero ter que acordar cedo, ter uma rotina!'. Sempre nos queixamos da rotina, mas quando você não tem, você sente falta dela", explica a jovem à AFP.

Vários jovens espanhóis, que muitas vezes completaram o ensino superior, encontram-se na mesma situação, elevando o desemprego entre a população de 16 a 24 anos a níveis alarmantes, chegando a 57,22% no fim de março.

"Provavelmente será uma geração, mas não sei se será chamada de perdida, que vai constituir um antes e um depois em muitas variáveis econômicas de referência", afirma Sara Baliña, analista da consultora AFI, destacando as implicações do elevado desemprego juvenil no consumo, na sustentabilidade das aposentadorias ou no adiamento da idade de emancipação.

Paloma vive com seu parceiro, também desempregado, e com seu gato Rayo, em um apartamento luminoso e austero alugado de sua família por 400 euros mensais.

Para se manter ativa, se ocupa aprendendo japonês, praticando pilates e dando aulas para crianças, que a ajudam economicamente.

Mas agora sua família quer vender o imóvel, localizado em Moratalaz, um bairro operário de Madri, o que pode complicar ainda mais a sua situação.

"É muito instável. Não sei qual é meu projeto de vida. (...) Não posso fazer grandes planos no longo prazo", reconhece, acrescentando que planejar agora uma família ou filhos é uma loucura.

Este planejamento também não é feito por Rocío Alarcón, de 23 anos, que terminou em junho passado o curso de ciência política com a terceira melhor nota de sua turma, o que a levava a crer que encontraria algum trabalho para ajudar em casa e "economizar um pouco para fazer o mestrado" que terá início em setembro.

"Não aspirava trabalhar como cientista política desde o início. Mas o que ocorreu foi que, de todos os currículos que enviei, não me chamaram para nenhuma entrevista", afirma Rocío, que, depois que terminar o mestrado, voltará a tentar arranjar um emprego: "Se for na Espanha, bem, se for fora eu não teria nenhum problema", afirma.

Emigrar também não é um problema para Paloma se alguma oportunidade surgir: "trabalhar no exterior me atrai, mas agora não é uma questão de gosto, é o que me resta (...) A sensação de te obrigarem (a fazer algo) ou de não haver outro remédio a não ser ir, isso é o mais duro".

Seus casos não são uma exceção e crescem as vozes que alertam para uma fuga de cérebros na Espanha.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, desde o fim de 2011 até março de 2013 a Espanha perdeu 365.000 jovens entre 16 e 29 anos.

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