A poucos meses dos Jogos do Rio-2016, ser mãe é padecer na Olimpíada

Estadão Conteúdo
Hoje em Dia - Belo Horizonte
08/05/2016 às 11:33.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:19
 (Estadão)

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Este domingo é um dia particularmente especial para as mães de atletas olímpicos, quase todas ansiosas para ver os filhos em ação nos Jogos do Rio, em agosto. E é também especial para aquelas atletas que, no decorrer deste ciclo olímpico, tiveram os seus primeiros filhos e precisaram mudar as suas rotinas.

Correndo contra o tempo na preparação para o Grand Prix e para a Olimpíada, a jogadora de vôlei Tandara conta com a ajuda da pequena Maria Clara, de oito meses, para conciliar o treino com a nova rotina de mãe. "Tive de aprender a ser mãe, atleta e mulher", contou a oposto. Ela está concentrada com a equipe e com a filha em Saquarema (RJ).

A atleta voltou aos treinos apenas 30 dias após o parto humanizado, feito em casa, em Minas Gerais, em setembro. Para facilitar a retomada aos treinos, Tandara não parou as atividades físicas até o nascimento da filha: fazia caminhadas diárias de cinco quilômetros, além de pilates, musculação e corridas até o sexto mês de gestação.

A remadora Fernanda Nunes diz que a sua rotina mudou muito desde a chegada do filho Bento, em 2012. O início dos treinos foi adiado em uma hora e o descanso ficou comprometido. "Tive de começar a me programar para poder descansar. E os finais de semana se tornaram mais voltados para o treino pela manhã e o restante com meu filho", explicou a atleta do Flamengo. "Nos Jogos, estarei imersa no meu objetivo e para isso tenho de estar tranquila, sabendo que meu filho está seguro. Já estou me organizando".

THIAGO PEREIRA - O grito "vai, Thiago" de Rose Vilela, uma vez solitário na arquibancada, vai virar coro no estádio Aquático nos Jogos Olímpicos do Rio. A torcida da mãe do nadador Thiago Pereira tem ritmo, energia e emoção. É até difícil saber quem fica mais cansado ao fim da prova.

A dor muscular de Rose vem acompanhada de orgulho e de boas lembranças. Aos 13 anos, Thiago saiu de Volta Redonda (RJ) para sua primeira competição longe de casa. Antes de cair na piscina, chamou a mãe e, com um choro discreto, disse que queria desistir.

Rose deixou a decisão nas mãos do jovem, que acabou enfrentando o desafio. "Eu nunca tive uma tabela de índice na mão, nem um cronômetro. Essa não era minha função", contou. O papel hoje é ser guardiã das 724 medalhas de Thiago Pereira.

ARTHUR ZANETTI - O mito de que a ginástica artística atrapalha o crescimento dos atletas nunca preocupou Roseane Zanetti. A mãe de Arthur conta que a pediatra pediu exames hormonais quando o filho tinha cinco anos, mas que os resultados não apresentaram alterações. "Ela queria que eu desse injeção de crescimento nele. Eu me recusei", afirmou.

Arthur parou no 1,56 metros de altura e foi "escolhido" pelo esporte que privilegia os mais baixos. A indicação de colocar o filho na ginástica foi do professor Sérgio, que viu habilidade do menino ainda no jardim de infância. O desejo de continuar no esporte partiu do atleta e o apoio da família sempre foi total. "A torcida é grande".

HUGO CALDERANO - Mãe do mesa-tenista Hugo Calderano, a professora Elisa Borges vibra com o fato de comemorar seu dia ao lado do filho. "É um presente olímpico", disse. O atleta de 19 anos mora na Alemanha e saiu de casa para seguir a carreira no esporte aos 14. "A gente brinca que eu nunca fiquei uma noite em claro esperando ele voltar da balada, mas em compensação já perdi as contas das vezes que eu passei a madrugada assistindo aos jogos pela internet".

O filho agradece. "Ela está sempre torcendo e isso é muito importante", afirmou. Mas ele não esconde que já se incomodou com os excessos. "Eu não gostava muito - quer dizer, ainda não gosto - quando ela grita muito, mas nos acostumamos e achamos um meio-termo".

JAQUELINE - A garra de Jaqueline vem de berço. Josiane Costa sempre se mostrou uma mulher de fibra, especialmente para criar as filhas sozinha. "Não tinha emprego naquela época, fazia qualquer coisa para dar a elas o que comer", relembrou.

De olho no futuro de Jaqueline, apoiou a sua mudança para São Paulo e pediu força à jovem. Aos 14 anos, a atleta foi convidada para jogar no Osasco-SP. "Ela veio sozinha, chorava todos os dias". A segunda dificuldade na vida da jogadora veio em 2002, quando foi diagnosticada com uma trombose e os médicos disseram que ela teria de amputar o braço. Para Josiane, a filha provou ser uma pernambucana arretada. "Ela deu a volta por cima, é uma guerreira", elogiou.

ÁGATHA - Admiradora do controle emocional de Ágatha, Maria Bednarczuk tem uma certeza: "Eu nunca poderia ser atleta". Acompanhar a jogadora do vôlei de praia pela televisão é sinônimo de sofrimento para a mãe. Tomada pela ansiedade, Maria esconde-se atrás de pilar, vai ao banheiro e até sai da sala, mas não resiste a uma espiadinha quando ouve "alguma bagunça".

Em quadra, ela não se contém e admite: "Dou vexame mesmo". Nos Jogos Olímpicos do Rio, a festa está liberada. A fé também tem espaço garantido: "Rezo para todos os santos, entrego ela na mão de Nossa Senhora".
 

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