Aprovação de lei ameaça patrimônio em Congonhas

Do Hoje em Dia
05/01/2013 às 07:21.
Atualizado em 21/11/2021 às 20:18

O Grupo Rede Congonhas foi formado há muitos anos por moradores de uma das mais notáveis cidades históricas mineiras para lutar pela preservação da Serra da Casa de Pedra. Além de monumento paisagístico, essa serra é rica em minério de ferro cobiçado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Uma causa que parece perdida para esse grupo de Congonhas, conforme a edição de sexta-feira (4) do Jornal Hoje em Dia.

O turismo, que foi atividade econômica importante em Congonhas, principalmente quando José Arigó atraía para a cidade milhares de pessoas em busca de cura pelo espiritismo, foi decaindo depois da morte trágica do médium. Há alguns anos, a atividade principal do município é a mineração. A prefeitura conta com 12 secretarias municipais, nenhuma delas voltada para o turismo, a cultura e o patrimônio histórico.

Em seus últimos dias como prefeito, Anderson Cabido, que havia sido eleito pelo PT, mas deixou o partido no ano passado para apoiar a candidatura de seu vice, José de Freitas Cordeiro, do PSDB, desfechou um duro golpe contra a Serra da Casa de Pedra. Ele sancionou a lei que permite a realização de estudos geológicos, visando à mineração, numa área que é tombada desde 2007. Antes disso, em 1985, a Unesco concedeu a Congonhas o título de Patrimônio Histórico da Humanidade.

Se ainda vivesse, o poeta modernista Oswald de Andrade estaria entre os defensores da Serra da Casa de Pedra, descrita por ele como um “anfiteatro de montanhas” que, com os 12 profetas de Aleijadinho, “monumentalizam a paisagem”. Mas não é provável que tivesse mais sucesso que Carlos Drummond de Andrade, que não pôde salvar o Pico do Cauê, em Itabira, arrasado pela Vale.

Nem mesmo as 29 nascentes de água que respondem por 59% do abastecimento de Congonhas, ameaçadas pela mineração na serra, são barreiras eficientes contra a ambição de uma empresa que promete investir no município mais de R$ 12 bilhões, para construir uma grande siderúrgica e uma usina de pelotização de minério de ferro. Além de perder a paisagem, Congonhas pode perder o título da Unesco, como advertiu o promotor Vinícius Alcântara Galvão, do Ministério Público estadual, um dos defensores da serra.

Para muitos conterrâneos, deslumbrados com as promessas de riquezas trazidas pela CSN, esses defensores da serra são um grupo de lunáticos. Ao protestar, quais profetas bíblicos, contra a ameaça ao patrimônio histórico e cultural de Congonhas, estão a pregar no deserto.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por