Dilma antecipa plano de governo

Ana Flávia Gussen - Hoje em Dia
22/06/2014 às 07:57.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:06
 (Renato Costa)

(Renato Costa)

BRASÍLIA - Para estancar a queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff, o PT adotou a estratégia de colocar os candidatos da oposição como “inimigos do povo” e anunciou um pacote de medidas que fará parte de seu programa de governo, chamado de “Plano de Transformação Nacional”. Durante a convenção do partido que referendou sua candidatura à reeleição, Dilma Rousseff colocou o PSDB como o partido do “retrocesso”, citando o arrocho salarial, a privatização de empresas públicas e a os empréstimos feitos com Fundo Monetário Nacional.
“Eu não fui eleita para arrochar o salário dos trabalhadores, não fui eleita para vender o patrimônio publico, como fizeram no passado. Não fui eleita para mendigar dinheiro do FMI, porque não preciso, e colocar de novo o pais de joelhos. Eu fui eleita para colocar o pais de cabeça erguida”, discursou a petista. Dilma deu uma prévia de seu programa de governo, envolvendo a reforma federativa e política, um programa para desburocratização dos serviços públicos e internet gratuita para todos.
O clima na convenção não era de “já ganhou”, ao contrário de outros eventos do PT. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a pedir que petistas melindrados com os casos de corrupção que assolaram o governo do PT saiam às ruas e levantem escândalos de adversários. Ele também pediu o uso da internet para divulgar os feitos dos governos do PT e compará-los com governos passados.
Escalado para fazer o discurso de ataque à oposição no evento, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, atribuiu aos candidatos da oposição, senador Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), a intenção de debilitar o Bolsa Família, “secar investimentos” do BNDES no Minha Casa, Minha Vida e virar as costas para as minorias. Essas seriam as “medidas impopulares” que Aécio disse que tomaria, caso ganhe as eleições, disse Falcão.
Retorno
O ex-presidente Lula insinuou, pela primeira vez, que pretende voltar em 2018. Ele disse que, caso a presidente Dilma tenha um segundo mandato, o PT vai querer outros quatro anos no poder. “Eles construíram um projeto para 20 anos e nós, de quatro. Depois fomos pedir mais quatro, depois o povo deu mais quatro e vamos pedir mais quatro. Eles que se preparem, porque a partir de 2018 a gente pode pedir outros quatro anos”, afirmou.
Ele disse também que a oposição estaria usando casos de corrupção do PT para enfraquecer a candidatura de Dilma e enumerou medidas do governo federal para conter os desvios. “Os adversários só falam em corrupção. Vou tratar dessa questão. Todos nós sabemos que ela pode existir e ser colocada para debaixo do tapete ou fazer como fizemos: vamos levantar o tapete”.
Aclamado como a liderança maior do PT e com um discurso que empolgou mais a militância do que o da presidente, Lula mais uma vez criticou aqueles que hostilizaram Dilma na abertura da Copa e citou o sucesso da competição como uma vitória sobre os “pessimistas”.
Falcão critica a mídia e aponta ‘ataque feroz’
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, primeiro a discursar na convenção do PT, enfatizou críticas à imprensa, defendeu a regulação da mídia e atacou opositores da “direita”, a quem chamou de “neoliberais da herança maldita”. Ele disse que o PT enfrenta um “ataque feroz dos que desejam o retorno ao passado e que a ofensiva agora aumentou. “Juntaram-se em bloco a direita de sempre, hostil e truculenta, os neoliberais da herança maldita e, no papel de porta-voz, o oligopólio da mídia, que golpeia, falseia, manipula, distorce, censura e suprime fatos no intento de nos derrotar”, discursou.
O mote do “medo” inserido nas propagandas do partido também integrou o discurso no trecho em que Falcão ressaltou que os adversários irão mudar a política do salário mínimo, promover o desemprego, cancelar direitos, debilitar o Bolsa Família e cortar subsídios do BNDES e do Minha Casa, Minha Vida. “Não vamos permitir retrocessos, nem a volta a um passado de recessão, arrocho e desemprego”, afirmou.
Estratégia
Candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel afirmou que pode levar para seus programas eleitorais o chamado “discurso do medo”, adotado em nível nacional. “O ódio não é do nosso lado. Então, não teremos necessidade de recorrer a essa figura. Mas, se for necessário, faremos isso, sim. Há um clima de ódio alimentado por nossos adversários, mas a Copa mostra que o sentimento da população não corrobora isso. Espero que a civilidade volte a dominar a cena política”.
Questionado sobre a possibilidade de o PSB se aliar ao PSDB, Pimentel disse “estranhar” a medida e que tal decisão prejudicará apenas o candidato socialista à Presidência, Eduardo Campos.
Líderes veem cenário indefinido em Minas Lideranças nacionais presentes à convenção avaliaram o cenário em Minas, que caminha para uma polarização entre PT e PSDB. Para o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT), a eleição no Estado está muito indefinida. Ele minimizou o fato de Fernando Pimentel (PT) contar com aliança de quatro partidos, enquanto Pimenta da Veiga (PSDB) tem o apoio de 20 legendas.
“A aliança não é feita com base no programa, mas sim no tempo de rádio e TV. A eleição majoritária se define pelos grandes movimentos. Por exemplo, o Zeca do PT, no Mato Grosso do Sul, tinha apoio de dois prefeitos, mas ganhou. Tem que existir o sentimento político, de mudança”, declarou.
O ex-prefeito Gilberto Kassab, que foi vaiado na convenção, negou que o PSD tenha deixado de apoiar a candidatura de Pimentel por causa da segunda suplência oferecida à legenda.
De acordo com ele, o PSD de Minas fez uma escolha: “Tinha um grupo grande querendo ficar com Pimentel, outro querendo apoiar o candidato do Aécio. O segundo grupo ganhou e vamos respeitar isso. A primeira suplência não influi. É natural que a aliança entendesse por bem oferecer um cargo majoritário ao PSD, o que foi feito com Alexandre Silveira”.

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