O governo de esquerda que nunca houve

10/05/2016 às 14:44.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:22

Por incrível que pareça, a melhor radiografia da raiz da crise foi feita por João Pedro Stedile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que por dever de ofício é sempre pouco preciso e nunca imparcial. Mas em entrevista ao jornal Valor Econômico ele foi ao ponto exato. Discordou da tese do PT de que o governo Dilma ameaça cair por conta da aposta que fez nos mais pobres. De acordo com Stedile, Dilma e Lula “nunca fizeram governo de esquerda”, mas sim uma tentativa de conciliação de classes. “Não era um governo de esquerda nem popular. No segundo mandato os setores da classe dominante que antes estavam com Lula se afastaram. A presidente ficou sozinha”, disse. “Foi um erro não investir na esquerda, não montar os ministérios em diálogo com a sociedade e as forças populares”.

De fato, o governo híbrido, que tentou agradar à esquerda e à direita, não era sustentável nem promoveu mudanças econômicas e sociais estruturais. Enquanto a economia surfou no crescimento mundial e no boom das commodities foi possível acomodar o capital, o trabalho e os despossuídos no mesmo barco. Os primeiros “nunca ganharam tanto dinheiro” como gostava de dizer Lula. Os segundos tiveram farta oferta de empregos e aumentos reais de salários. E aos últimos foram distribuídas as sobras do crescimento por meio do Bolsa Família e assemelhados. Com a crise, todos perderam e voltamos à estaca zero. Se Dilma e Lula tivessem feito a reforma tributária, estaríamos ao menos distribuindo de maneira mais justa a riqueza que encolhe.

Andrade Gutierrez
O anúncio publicado ontem pela Andrade Gutierrez em diversos jornais, inclusive neste, chega a ser irônico. A empresa informa que concluiu a negociação do acordo de leniência com o Ministério Público Federal, admite e pede desculpas por seu envolvimento em corrupção e informa que está implantando um novo e moderno modelo de compliance. Ok. A ironia fica para a segunda parte do texto, na qual a empresa elenca oito propostas ao governo para dar eficiência e evitar novos casos de corrupção em obras públicas. Na verdade, concordo com todos os pontos, que vão ao encontro do que já escrevi em outras ocasiões, como a obrigatoriedade de projeto executivo de engenharia e de estudos de viabilidade técnico-econômica antes das concorrências. A questão não é o conteúdo, mas de onde vêm as propostas. Não sei se vocês concordarão, mas o momento não é adequado uma Andrade Gutierrez dar conselhos ou fazer propostas, muito menos sobre combate à corrupção.

Siderúrgicas
A bolsa sentiu forte a anulação da tramitação do processo de impeachment e o destaque negativo foram novamente as siderúrgicas. As ações da Usiminas, CSN e Gerdau desabaram até 13,3%, 10,7% e 10,7% no pior momento da tarde de ontem. O fato é que as siderúrgicas patinam no fundo do poço. Se a economia vai mal, para as fabricantes de aço a situação é dramática. Como ninguém está comprando carro ou geladeira, também não se vende aço. E qualquer sinal de que a crise se arrastará empurra ainda para mais baixo os papéis das depauperadas siderúrgicas.

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