Mostra de Lorenzato encanta público em São Paulo

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
30/09/2014 às 07:47.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:24
 (Tomaz Rangel)

(Tomaz Rangel)

“O feedback está incrível”, resume, entusiasmado, Alexandre da Cunha, um dos curadores da mostra “E você nem imagina que Epaminondas sou eu”, dedicada ao artista Amadeo Luciano Lorenzato (Belo Horizonte, 1900 – idem 1995), em cartaz desde o último dia 30 de agosto, na Galeria Bergamin, em São Paulo. Alexandre, cumpre dizer, trabalhou junto à artista plástica mineira Rivane Neuenschwander. “Estamos impressionados com a recepção aos trabalhos dele”, reforça Cunha, que tem uma explicação para o fenômeno. “A gente acredita que as pessoas, a certa altura, ficam um pouco saturadas de ver trabalhos tão parecidos, principalmente na produção mais jovem...”, diz, referindo-se à cena atual. “Fica muito difícil encontrar algo novo e diferente. E o Lorenzato tem isso. Apesar de não serem trabalhos produzidos recentemente, eles têm um frescor impressionante, realmente são atemporais”.

A exposição traz 30 pinturas, entre abstrações, naturezas-mortas, paisagens e cenas do cotidiano de bairros periféricos de Belo Horizonte, em sua grande maioria datadas entre as décadas de 1970 e 1990. A dupla curatorial incluiu também o óleo sobre placa sem título (1961), que contém a frase que batiza a exposição, e um óleo sobre tela sem título de 1948 com um texto algo singular no verso, que revelaria o espírito subversivo do artista: “Amadeo Luciano Lorenzato. Pintor autodidata e franco atirador. Não tem escola. Não segue tendências. Não pertence a igrejinhas. Pinta conforme lhe dá na telha. Amém”.

O curador concorda. “Acho difícil situar a obra de Lorenzato em um nicho especifico da cena artística. Como ele mesmo dizia, foi um artista que não pertenceu a nenhum grupo ou escola artística”. Aliás, Alexandre ressalta a importância de galerias e outros espaços públicos estarem mostrando a obra de Lorenzato fora do contexto de “arte popular”. “Ou outros rótulos que não correspondem à grandeza de sua obra”. Para ele, o aspecto mais representativo da obra de Lorenzato é a liberdade com que ele pintava. “Isso é uma das qualidades mais importantes em qualquer artista”.

Em novembro, obra do artista irá à Itália

Trabalhar com a Rivane, conta Alexandre, foi um privilégio. “Somos muito amigos, temos uma afinidade grande, existe uma troca constante e muito natural sobre a nossa prática como artistas. Foi a primeira vez que fizemos uma curadoria juntos e foi muito estimulante. Tivemos algum conflito no início, pois queríamos mostrar a obra do Lorenzato de forma ampla. Depois de um tempo, percebemos que seria mais interessante fazer um recorte do trabalho enfatizando a qualidade da pintura dele e a liberdade que norteou toda a sua produção artística”, explica.

Infelizmente, porém, ele diz que não há planejamento de nenhuma itinerância para esta mostra. “Mas estamos levando o Lorenzato para a Itália, em novembro. A Galeria Bergamin vai fazer um estande só com trabalhos dele na feira ‘Artissima’. Estamos falando com galerias internacionais que demonstraram interesse em levar o trabalho a outro países, mas tudo ainda prematuro. Queremos ter o cuidado de não super expor o artista também”, ressalva.

Singular

A trajetória de Lorenzato é bastante singular: realizou a sua primeira individual aos 67 anos. Foi em 1920 que saiu pela primeira vez da capital mineira, rumo à Itália. Lá, trabalhou na reconstrução da cidade de Asiero, destruída na Primeira Guerra Mundial, e em 1925, realizou a primeira e única incursão em estudo formal de arte, na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza. Ao lado do artista holandês Cornelius Keesman percorreu, de bicicleta, países como a França, Áustria, Bulgária e Turquia. Retornou ao Brasil em 1948, já casado com uma italiana.




 

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