Presidente da Usiminas é destituído; divergências entre sócios derrubou Julián Eguren

Bruno Porto - Hoje em Dia
27/09/2014 às 08:51.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:22
 (IAB/divulgação)

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Japoneses e argentinos não falam a mesma língua. O choque de interesses entre os dois maiores acionistas da fabricante de aço mineira Usiminas – o grupo japonês Nippon Steel e os argentinos da Ternium/Techint – gerou um embate societário que faz o conglomerado siderúrgico lavar roupa suja em público mais uma vez.   Nessa sexta-feira (26), a companhia, em comunicado ao mercado, informou que destituiu da presidência o argentino Julián Eguren, indicado pela Techint, e no cargo desde janeiro de 2012. Em resposta, a Ternium informou que acionará a Justiça contra a destituição, alegando quebra do Acordo de Acionistas.   A Nippon Steel alegou que a destituição do presidente e de outros dois diretores ocorreu após a constatação por auditorias interna e externa (Delloite e Ernst Young) de que eles teriam recebido mais do que o previsto pela política de remuneração da companhia.    Ao serem informados de que teriam sido detectadas “ilegalidades”, os três teriam se reunido com o presidente do Conselho de Administração, admitido o recebimento dos valores e alegado já terem realizado o reembolso. Foi, então, solicitada a comprovação dos reembolsos, que não teria sido apresentada.   “Trata-se, portanto, de um caso de ilegalidade, e não de mera não observância do Acordo de Acionistas, como alega a Ternium/Techint. O comitê interno de auditoria da Usiminas recomendou a destituição dos diretores e não havia outra decisão a não ser esta”, informou a Nippon Steel, por meio de seu escritório de advocacia no Brasil. Segundo a sócia japonesa na Usiminas, os pagamentos questionados teriam acontecido em maio e agosto de 2012 e em junho de 2013.   O mandato da atual diretoria havia expirado em abril deste ano, mas a falta de consenso entre os sócios impediu nova eleição, prolongando a gestão de Eguren até nessa sexta.   Justiça   A Techint confirmou que buscará a judicialização do caso, e informou, por nota, que “discorda veementemente da destituição dos três membros da diretoria executiva, bem como da indicação de seus substitutos”.    Além de Egúren, os outros dois executivos indicados pela Ternium e destituídos são o diretor de subsidiárias, Paolo Bassetti, e o diretor industrial, Marcelo Chara. Em caráter temporário, Romel Erwin de Souza foi eleito novo presidente e diretor industrial, e Ronald Seckelmann foi eleito diretor de subsidiarias.   A judicialização do caso se deve ao entendimento da Techint de que a Nippon Steel quebrou o acordo de acionistas duas vezes, quando destituiu do cargo o presidente e quando elegeu um novo executivo interino. O Acordo de Acionistas da companhia prevê em sua cláusula 4.8 que a eleição e a destituição do presidente deverá ser tomada em consenso entre os representantes da Nippon Steel e da Ternium/Techint no Conselho de Administração.   Em comunicado ao mercado, a Usiminas informou que a destituição de Eguren ocorreu após votação empatada em cinco a cinco e voto de minerva do presidente do Conselho, Paulo Penido, representante dos japoneses. Não teria sido, portanto, uma decisão consensual.    “Os japoneses podem discordar das decisões do presidente, podem desejar a presidência, mas não podem quebrar o Acordo de Acionista”, disse uma fonte próxima da Usiminas. A Usiminas foi procurada e não se manifestou.   Argentinos e japoneses se opõem quanto à estratégia de negócio   As diferenças culturais e de visão de negócio entre argentinos e japoneses teriam se transformado em dificuldades de relacionamento pessoal, nos últimos anos, entre os membros da alta direção da Usiminas.    “Ocorre que a Nippon, controladora histórica da Usiminas, sempre teve uma visão de longo prazo, pensando em produtos nobres e de alto valor agregado. A entrada da Ternium/Techint, que fez um alto investimento, colocou duas visões distintas de encarar o mercado dentro da mesma empresa. Como o setor atravessa um período de dificuldades em todo o mundo, fica comprometida a tomada de decisões estratégicas, que precisam da aprovação de acionistas (com visões) divergentes”, afirmou um fonte ligada a Usiminas.   O imbróglio, segundo a fonte, poderia culminar na saída dos argentinos da Usiminas. No entanto, a Techint, quando entrou no bloco de controle, pagou R$ 36 por cada ação. Hoje, o mesmo papel tem valor próximo de R$ 7, e praticamente inviabiliza a saída da Techint e prolonga a situação incômoda da siderúrgica mineira.   A Techint pagou por uma fatia de 27,66% das ações da Usiminas R$ 4,1 bilhões. Hoje, a mesma participação teria um valor aproximadamente 80% menor, considerando a variação negativa da cotação das ações do momento da aquisição até o fechamento da bolsa nessa sexta.   Se por um lado a Techint alega que a Previdência Usiminas também votou contra a decisão da destituição, de outra parte a Nippon diz que teve o apoio dos dois conselheiros independentes com cadeira no Conselho de Administração.   Resultados em recuperação   A gestão de Julián Eguren foi marcada por uma melhora gradual dos resultados financeiros da Usiminas.    Além de voltar a ser lucrativa, a relação entre endividamento e geração de caixa (dívida líquida versus Ebitda) foi reduzida de 5 vezes para 1,7 vez. Este indicador é acompanhado de perto pelo mercado, já que aponta o nível de solvência de uma empresa.   Quando se opôs à destituição de Eguren, a Ternium contou com o apoio do representante da Previdência Usiminas no Conselho.

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