Hoje vou sair pra rua fantasiado de mim mesmo,
Palhaço que sou, e não fugirei ao meu enredo.
Porque o palhaço, o que é?
Ladrão de mulher.
E roubarei a mais linda Fabiana que houver, e vier ao meu encontro assim negra,
longilínea, cheia de charme e encantamento olímpico,
para azar do pierrô apaixonado que com ela estiver sambando na folia.
O coitado não verá sua colombina, deusa d’ África, languida e faceira,
entornar poesia pelo chão da avenida, enfeitiçando a vida do palhaço-ladrão.
Mais que ligeiro, o bobo da corte sairei no encalço da rainha olímpica e catarei,
letra por letra e palavra por palavra dos versos por ela espalhados pelo chão de serpentinas,
e os transformarei em confetes que jogarei na menina,
com o malicioso intuito benigno de roubar seu coração.
Ah neguinha, deixa eu casar com você!
Quem sabe, sabe, conhece bem, como é gostoso gostar de alguém.
Hoje é Carnaval. Vestirei uma camisa listrada e sairei por ai.
E em vez de tomar café com torrada, beberei um parati. E levarei um canivete no cinto
e um pandeiro na mão cantando sossega leão, sossega leão, segura a inflação e cadeia para
os safados do petrolão. Mas sem gastar água por favor,
que ela está racionada como a luz, ai Jesus!
Hoje é Carnaval. Vou vestir a máscara da Graça sem graça e sair pela praça, palhaço que sou,
pra fazer muita troça desse governo b* que a esperança me roubou.
Mas deixa pra lá que hoje é folia eu não quero nem saber.
Quero mesmo é ver a porta-bandeira rodopiar na pista rodopios de passista, linda que só,
enquanto o mestre-sala dança com dignidade o samba que canta a saudade
dos bons tempos da cidade.
Ô abre alas que eu quero passar, eu sou da lira e estarei endiabrado três dias sem parar,
tenho uma Fabiana deusa para me apaixonar. E é com ela que eu vou!
Porque é Carnaval, não me leve a mal. Amanhã tudo volta ao normal.
Para o bem, para o mal.