Plano de voo arrojado para diversificar a economia

30/07/2012 às 22:53.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:58
 (Axis Aeroespacial/Divulgação)

(Axis Aeroespacial/Divulgação)

Projetos de cidade aeroporto e polos aeroespaciais prometem transformar Minas Gerais em referência mundial no segmento

Quando Bruno Alves entrou para a primeira turma do curso de engenharia aeroespacial da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele imaginava que seu futuro profissional seria fora do Estado, talvez em São José dos Campos (SP), ou em países onde o setor é bastante desenvolvido, como Singapura e Canadá. Hoje, no sétimo período do curso, as expectativas são outras. "Vejo possibilidades de ficar em Minas, quem sabe atuando em grandes pesquisas e no desenvolvimento de produtos com tecnologia de ponta". O motivo para tanto otimismo é que Minas Gerais planeja se transformar em referência mundial na área aeroespacial.

Capitão da equipe de aerodesign Uai, Sô!Fly, Bruno vai treinando seriamente para isso. Ele e o grupo constroem protótipos de aeronaves em miniatura e juntos faturaram o campeonato mundial de aerodesign neste ano. "Projetamos aviões com rádio controlado para voar com a maior carga possível. Queremos nos desenvolver ainda mais e há grandes perspectivas para isso", planeja.

As perspectivas do jovem estudante de Belo Horizonte, e dos profissionais e empresários da área giram em torno dos projetos do governo de Minas para o
setor aeroespacial. Trata-se doComplexo Aeronáutico de Minas Gerais.

O objetivo é a criação de centros capazes de gerar inovação no ramo, atrair empresas e, principalmente, diversificar a economia, hoje voltada para as commodities da mineração.

O projeto maior é a transformação do Aeroporto Internacional Tancredo Neves (AITN) e seu entorno em uma cidade aeroporto, um conceito também chamado de aerotrópolis. Este conceito, elaborado para todo o sítio do AITN e entorno, foi o primeiro a ser desenvolvido em toda a América do Sul.

O projeto é de longo prazo, mas já começou a ser executado com obras como a Linha Verde a a ampliação do AITN. Estima-se que, em 20 anos, a região de Confins, em uma área que abrange 13 municípios no vetor Norte, gere 400 mil empregos qualificados e um PIB idêntico ao que Minas tem hoje (algo em torno de US$ 200 bilhões).

Criado pelo norte-americano John Kasarda e implantado em vários países, o conceito de cidade aeroporto já começou a virar realidade e tudo vem sendo feito sob consultoria do próprio Jonh Kasarda desde 2004. Há um projeto macroestrutural para que na região se instalem empresas, indústrias, pesquisas em inovação e que este desenvolvimento se dê de forma ordenada.

Os primeiros frutos estão aparecen-do. Um deles é a instalação do escritório de projetos da Embraer em Belo Horizonte. A líder mundial na fabricação de jatos executivos de até 122 assentos poderia ter trabalhado seu projeto de expansão em Singapura, onde há uma das mais modernas aerotrópolis do mundo, mas optou por Minas. Executivos da empresa informam que o grande plano do governo para o setor aeroespacial associado à grande oferta de mão de obra (o Estado tem pelo menos 14 instituições com cursos de formação na área) foram os diferenciais de Minas.

Até o fim do ano, serão contratados pela empresa 100 engenheiros na capital. Em três anos, as instalações serão transferidas para Lagoa Santa. A vinda da Embraer foi a primeira grande vitória. O que queremos é exatamente isso: competir em condições de igualdade com as grandes cidades aeroportos em todo mundo para atrair empresas de tecnologia de ponta.

 

Equipe Uai, Sô!Fly faturou o campeonato mundial de aerodesign neste ano (Foto Equipe Uai, Sô!Fly/Divulgação)


Dentro do projeto cidade aeroporto, está incluindo o polo aeroespacial de Belo Horizonte e região, que inclui a instalação do Centro de Tecnologia e
Capacitação Aeroespacial (CTCA) de Lagoa Santa (cujo projeto deve ser concluído ainda em 2012) e a transformação do Aeroporto da Pampulha em uma espécie de central da aviação regional.


Desconcentração

Além da capital, estão sendo criados polos do setor em outras regiões. Um deles fica em Itajubá, no Sul de Minas, onde deve ocorrer a expansão da
Helibrás, líder na fabricação de helicópteros, que terá apoio da Universidade Federal de Itajubá. Será criado o Centro de Tecnologia de Helicópteros, em parceria com instituições francesas. Melhorias também serão feitas no aeroporto regional Itamar Franco, em Juiz de Fora, para que o local seja referênciano transporte de cargas especiais do pré-sal. Os estudos também ocorrem em parceria com a universidade federal local (UFJF) e, assim como em Itajubá, o projeto está na fase inicial.

Outro polo de desenvolvimento fica no Triângulo Mineiro, mais precisamente em Tupaciguara e foi lançado pelo governo do Estado há poucos dias. No município, está se instalando a Axis Aeroespacial, que trabalhano desenvolvimento da aeronave Tupã, jato executivo de baixo custo, de até oito assentos. O mock-up (representação física da aeronave em tamanho real) foi apresentado durante a cerimônia de lançamento do polo.

"Agora vamos trabalhar no protótipo para futuramente lançarmos o avião no mercado", conta Daniel Carneiro, diretor-superintendente da empresa. Conhecido no setor por ser estratégico, prudente e de poucas palavras, ele não quis chutar uma data para disponibilizar o avião no mercado. "Dependemos de muitos fatores ainda.

Aviação é uma área de erro zero e altíssima tecnologia. Temos ainda muitos estudos pela frente". Mas fontes garantem que até o final de 2013 será realizado o voo experimental.

Para que isso aconteça, é necessário "arrumar a casa". Tupaciguara tem cerca de 25 mil habitantes e ainda não oferece número suficiente de trabalhadores qualificados no setor e serviços necessários.

Para resolver parte desse obstáculo, um braço do curso de engenharia aeronáutica da Universidade Federal de Uberlândia vai se instalar no município. Cursos de formação técnica também serão oferecidos. "Estamos preparando a cidade para que ela tenha um crescimento ordenado.

Estimamos que só a Axis terá potencial para criar pelo menos 4.000 empregos qualificados", projeta a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Tupaciguara.

O doutor e Ciências Aeroespaciais e coordenador do curso de engenharia espacial da UFMG, Ricardo Utsch, entende que Minas está no caminho certo. "Para um desenvolvimento econômico uniforme e que o setor realmente cresça, é preciso que os investimentos ocorram em diferentes regiões. O mercado aeroespacial estava concentrado no interior de São Paulo e agora abre uma nova alternativa de desenvolvimento". Na visão acadêmica, a cidade aeroporto e os polos também abrem possibilidades para que academia e indústrias trabalhem juntas."Não é apenas uma questão de mais vagas no mercado e de produção industrial maior. São também chances de geração de conhecimento, transferências de tecnologia", avalia.
Esse também é o objetivo da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), financiadora de projetos que envolvem pesquisa e formação de mão de obra no macroprojeto do complexo aeronáutico.

Somente para a vinda da Embraer para a capital, a fundação investiu R$ 38 milhões. "Não há dúvidas de que este projeto aeroespacial será um divisor de águas para a economia mineira. Ela será diversificada e não terá mais as commodities como principais geradores de riqueza.Passará a exportar tecnologia de ponta, conhecimento", conclui Mário Borges Neto, presidente da fundação.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por