Mesmo com pouca água, racionamento é descartado

Aline Louise e Iêva tatiana - Hoje em Dia
11/08/2015 às 06:32.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:18
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Depois de meses ameaçando sobretaxar e racionar a água utilizada pela população da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Copasa derrubou o discurso defendido desde o início do ano e afastou nesta segunda-feira (10) a possibilidade de desabastecimento.

Mesmo diante de um quadro quase inalterado do volume de água acumulado no sistema Paraopeba – que estava em 33,3% em janeiro e agora está em 31,3% – e de uma economia no consumo pela população bem aquém do que foi exigido – média de 13,4% por mês, diante da perspectiva de 30% –, a empresa diz que há uma boa margem de segurança para garantir o abastecimento.

O argumento da empresa é que o volume de chuva maior do que o esperado para este ano e a obra de transposição que está sendo realizada no rio Paraopeba, em Brumadinho, darão o fôlego necessário para que os demais reservatórios se recomponham.

A previsão é a de que até dezembro as obras no Paraopeba, orçadas em R$ 128,4 milhões, sejam finalizadas. A intervenção vai possibilitar a captação de 5 mil litros de água por segundo.

“Essa captação vai permitir uma flexibilidade na operação do sistema, ou seja, nós deixaremos de ser integralmente dependentes do volume de água acumulada nos reservatórios e passaremos a poder utilizar, quando necessário, a água captada diretamente do rio Paraopeba”, afirma a presidente da Copasa, Sinara Meireles.

Ela ressalta ainda que, apesar de a economia não ter atingido a meta, ajudou a impedir o racionamento. “Houve um aumento de chuva na ordem de 55% em 2015, comparativamente com 2014, portanto, o cenário de 30% de economia esperado considerava que a gente sofreria as mesmas chuvas de 2014, felizmente isso não se concretizou”.

Prematuro

Para o coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios da UFMG, Ricardo Mota Pinto Coelho, nenhuma alteração nas estratégias que vinham sendo adotadas seria adequada, nesse momento. “Pode ter tido alguma chuva, mas tudo que foi feito continua sendo absolutamente válido”.

De acordo com Coelho, é prematuro dispensar a economia no consumo da população e a racionalização de água. “Minha percepção é de que a crise hídrica, com menor ou maior gravidade, chegou para ficar no Sudeste (do Brasil)”.

Copasa irá pedir revisão tarifária em setembro

Em meio à discussão da crise hídrica, a presidente da Copasa, Sinara Meireles, afirmou que a empresa irá pedir, provavelmente em setembro, uma revisão tarifária à Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (Arsae-MG).

A medida não acarretará aumento na conta antes de maio de 2016. De acordo com Sinara, o estudo que embasará a revisão pode durar de um a dois anos e vai avaliar se a composição da tarifa está adequada aos custos do sistema.

Esperado

Embora o alerta do risco de desabastecimento tenha soado durante todo o primeiro semestre deste ano, o descarte de racionamento de água na Região Metropolitana de Belo Horizonte não surpreendeu o diretor da Arsae-MG, Gustavo Gastão Cardoso.

Segundo ele, além do volume de chuvas acima da média registrada no mesmo período de 2014, da economia da população e do acompanhamento do sistema de abastecimento da região metropolitana nos últimos meses, os níveis dos rios não apresentaram quedas significativas. “O que talvez tenha dado essa segurança (à Copasa). Estávamos acompanhando o processo, mas a decisão é deles e o monitoramento, também”.

Reavaliação

Na edição do último dia 4, o Hoje em Dia mostrou serem necessárias medidas mais efetivas para driblar a crise hídrica em Minas. O presidente da Comissão das Águas da Assembleia Legislativa, deputado Iran Barbosa, disse, na época, que “todo esforço feito até o momento não foi suficiente para evitar um desabastecimento já no fim de setembro”.

Procurado novamente, o parlamentar afirmou que qualquer decisão referente ao racionamento ou à sobretaxa dependia de novas avaliações dos reservatórios – feitas nesta semana – e da previsão de conclusão das obras de transposição do rio Paraopeba.

“O que a Copasa disse hoje (ontem) é que, de acordo com os estudos do Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas), o perigo foi descartado. Mas não significa que o desperdício não tenha mais que ser considerado”.

Depoimentos

“É mais do que urgente a necessidade de a população economizar água. Estamos com os níveis dos reservatórios bastante comprometidos e, para isso, é

imperativo que haja economia do usuário”

Sinara Meireles

Presidente da Copasa, ao anunciar, no dia 22 de janeiro deste ano, ações para evitar racionamento de água

“Faremos todo o esforço para manter este prazo. Até porque existe o risco de não chover em outubro. Nesse caso, vai secar em dezembro”

Murilo Valadares

Secretário Estadual de Obras e Infraestrutura, ao anunciar, no dia 23 de janeiro, as obras de transposição do rio Paraopeba, com prazo de conclusão até dezembro, para aumentar a captação de água do rio e reforçar o reservatório do rio Manso

“Temos uma crise gravíssima nos reservatórios”

Rômulo Perilli

Diretor de Operação Metropolitana da Copasa, durante lançamento da campanha “Cada Gota Conta”, em Betim, no dia 26 de junho deste ano

“Vai depender da economia de água que a população fizer. Temos de paralisar o sistema Paraopeba por algumas horas toda semana”

Rômulo Perilli

Diretor de Operação Metropolitana da Copasa, ao falar, no dia 26 de junho, sobre a interrupção de abastecimento de água por 12 ou 24 horas, a partir de agosto, em 15 cidades da região metropolitana, caso a economia não atingisse a meta estipulada

Apesar de descartar o racionamento, Sinara Meireles mantém o apelo para que a população continue a economia de pelo menos 10% de água ao mês, até o início das chuvas

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