Prisões na Fifa terão reflexos no Brasil

Alexandre Simões - Hoje em Dia
28/05/2015 às 06:23.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:14
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

A prisão na Suíça pelo FBI de José Maria Marin, presidente da CBF até o mês passado e atualmente um dos vices da entidade, juntamente com outros seis integrantes do Comitê Executivo da Fifa, é o pontapé inicial de um processo que pode provocar no futebol brasileiro a revolução que as CPIs da CBF/Nike e do Futebol, encerradas sem relatório final em 2001, não conseguiram, pela atuação dos cartolas dentro do Congresso Nacional, com a chamada “bancada da bola”.

Uma das acusações das autoridades dos Estados Unidos é de que Marin recebia uma propina anual de R$ 2 milhões da empresa de marketing esportivo Traffic, responsável pelos direitos de TV e comerciais da Copa do Brasil. Ele dividia esse valor com mais dois dirigentes da cúpula da entidade, que não tiveram os nomes revelados.

Além disso, o contrato da CBF com a Nike, também intermediado pela Traffic, tem irregularidades. Isso gera dúvida em relação aos outros acordos da entidade, que é a parte mais rica do futebol brasileiro, com faturamento de R$ 500 milhões no ano passado.

Outro aspecto que não pode ser descartado é o fato de que a investigação da Justiça americana e do Ministério Público da Suíça, que ainda está no começo, aponta para a participação de empresas de comunicação do Brasil no esquema.

Dependendo dos desdobramentos, pode ser provocada uma queda significativa naquela que é a maior receita dos clubes brasileiros, a venda dos direitos de televisionamento.

Escândalo enfraquece entidades e abre espaço para mudanças

“Num primeiro momento se fala de Fifa, em nível internacional, pois o capital do futebol circula pelo mundo. Mas esse escândalo chegará ao Brasil”.

A afirmação é de Anderson Gurgel, doutor em comunicação esportiva, professor da Universidade Mackenzie, em São Paulo, e autor do livro Futebol S/A – a economia entra em campo.

Para Anderson, o que teve início na Suíça, com a prisão de José Maria Marin e outros seis integrantes do Comitê Executivo da Fifa, cai como uma bomba, mas com efeito positivo, pois mexe com uma estrutura acomodada, que é a do futebol brasileiro, que teve uma prova infalível de que as coisas andam erradas com os 7 a 1 sofridos para a Alemanha na Copa do Mundo do ano passado.

“Acredito que é o começo de um processo. Mal comparando, é parecido com o que aconteceu na Petrobras, com a Operação Lava Jato. O início foi com uma delação, nesse caso do J. Hawilla. A malha das negociações sempre existiu, envolvendo Fifa, CBF, agentes. São teias muito complexas e sofisticadas. Agora, poderemos ter o mapeamento do câncer do futebol, que é a corrupção”, garante Gurgel.

O empresário brasileiro José Hawilla, dono do Grupo Traffic, uma das maiores empresas de marketing esportivo do mundo, fez acordo com a Justiça dos EUA e vai devolver US$ 151 milhões (pouco mais de R$ 475 milhões) ao confessar extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça.

Outro ponto destacado pelo professor Gurgel e é que o escândalo vai provocar um enfraquecimento institucional da CBF e das entidades que comandam o nosso futebol.

“O momento contribui para algumas discussões que se perderam. Temos o Bom Senso, a MP do Futebol, que é muito boa, mas ficou fragilizada pelo fato de o governo estar com pouca força política. Ela exige contrapartidas administrativas importantes. Talvez, com esse novo cenário, podemos trabalhar melhor nossas mazelas e nossos 7 a 1”, analisa Gurgel.

Olimpíada

Em relação à Olimpíada do ano que vem, no Rio de Janeiro, Anderson Gurgel entende que a imagem do Brasil já está desgastada demais com o caso do ciclista assassinado na Lagoa Rodrigo de Freitas, pela poluição na Baia de Guanabara e por atraso nas obras.

“O processo olímpico tem outros horizontes e acho que indiretamente ainda não é afetado. Mas como disse, as investigações estão muito no início e, dependendo do andamento, ainda podem atingir a Olimpíada”, acredita Gurgel.

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