Pimenta da Veiga: ‘meta é a de que minas seja o Estado da inovação’

Ana Flávia Gussen e Ana Luiza Faria- Hoje em Dia
29/06/2014 às 10:09.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:11
 (Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

(Ricardo Bastos/Hoje em Dia)

O tucano Pimenta da Veiga pretende ser, na disputa pelo governo de Minas, o candidato da “continuidade com mudança”. Tanto que não usará, em sua campanha, o termo “choque de gestão”, que marcou as três últimas administrações. Pimenta da Veiga afirmou, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, que pretende criar sua própria marca. “Essa é a marca de Aécio Neves”, declarou, citando seu aliado político e candidato à Presidência da República. Sua principal ambição é transformar Minas no Estado da inovação. E para isso, o tucano anuncia um pacote substancial de mudanças na área da educação, considerado um setor sensível da gestão tucana. Pimenta da Veiga cita três propostas: levar a escola integral para todos os municípios, criar uma central de talentos e promover o intercâmbio de estudantes em outros países, como Canadá e Estados Unidos.    Pimenta falou de suas prioridades para o Estado e sugeriu como uma das saídas para o caos no trânsito da Região Metropolitana de Belo Horizonte a implantação de novas linhas de metrô, inclusive uma que trafegue sob a avenida do Contorno. Ele criticou a postura do governo federal quanto a esse modelo de transporte: “Belo Horizonte precisa de dez a 15 quilômetros de metrô por ano”.    Quanto à campanha, Pimenta afirma que tem recebido apoio de todos os partidos, inclusive daqueles que apoiam a oposição.   Caso seja eleito, seu governo vai ser apresentado como uma gestão de continuidade ou de mudanças?   Vamos aproveitar todos os acertos que os últimos três governos de Minas tiveram, mas evidentemente vamos começar com algumas ideias muito marcantes que poderão trazer muitas novidades e avanços para Minas.   Mas o senhor pretende lançar um “choque de gestão” fase 3?   A gestão pública exige continuidade e acompanhamento. A administração pública é muito ampla e sofre influências. Então é evidente que Minas hoje é muito diferente de dez anos atrás. É preciso fazer uma adaptação para que o governo esteja preparado para este momento.   Mas vocês vão tirar o termo “choque de gestão” do programa de governo?   Choque de gestão é a marca do governo Aécio Neves e que foi muito importante e reconhecida no Brasil. Outros estados adotaram os princípios de Minas, mas agora vamos dar seguimento no que ficou de permanente no choque de gestão e criar novas linhas de modernidade. Não estamos preocupados com o título, mas com a eficiência.   Nos últimos meses, problemas na área da segurança emergiram como uma preocupação para o governo de Minas. Vai ser dada algum tipo de atenção especial para essa área?   O governo federal descuidou das fronteiras e o Brasil acabou virando um grande mercado de consumo de drogas, além de servir como porta de entrada que é exportada para outros países. Sabemos que 60% da criminalidade vem das drogas e armas ilícitas. É um absurdo o desleixo com esse setor. A matriz é essa: quando você permite um ambiente marginal e criminal, é muito difícil o policiamento dar conta daquilo. Não obstante, Minas tem conseguido índices altos, mas dos menores do país. Mas mesmo assim são altos, pois a criminalidade no Brasil inteiro está alta.   Alguns prefeitos alegam que precisam deslocar recursos para suprir necessidades na área da segurança, como pagamento de pessoal, compra de veículos. Falta infraestrutura por parte do governo?   Alguns municípios fazem uma contribuição espontânea para a segurança. É da história de Minas e sempre foi assim. As prefeituras contribuem, por exemplo, com a Justiça, dando casa para juiz. Mas não é a maioria. É uma parceria e ninguém é obrigado a fazer isso. Alguns quiseram fazer e fizeram. A questão central é que o problema da segurança poderia ser resolvido se o governo federal tivesse cumprido com as verbas de segurança ou fizesse um repasse direto para os estados. Mas é fato que o governo federal não tem investido. Alguns convênios feitos, além de pequenos, não foram cumpridos, então fica um trabalho exclusivo do Estado.   Outra área sensível para o governo de Minas é a educação. Como o senhor pretende reaproximar os professores do governo?   Houve momentos tensos nessa convivência do governo com os professores. Mas agora tem sido boa. Como é um grande grupo de funcionários, é uma relação que pode eventualmente ter problemas. Queremos fazer um programa extremamente ambicioso de parceria com os professores. Queremos que eles compreendam os programas e fiquem integrados. Tenho um enorme respeito pelos professores pois sou filho, neto e sobrinho de professores. Primeiro, quero levar o ensino integral para todas as escolas. Tenho noção do tamanho do desafio. Segundo, queremos criar um centro de talentos, onde as crianças que se destacarem nas escolas tenham oportunidade de desenvolver seu talento. Desse centro sairão grandes líderes. Quem for diferenciado positivamente terá que ser tratado diferente dos demais. Em terceiro, queremos estimular que as crianças falem ao menos mais uma língua e aquelas que tiverem bons resultados serão convidadas a fazer estágios, por exemplo, no Canadá, na Europa.   Essa é a marca que o senhor quer imprimir em seu governo?   A marca que eu ambiciono não é só levar a educação. É o resultado disso. Quero que a educação seja referência internacional. Vamos conseguir com que Minas seja o Estado da inovação. Minha ambição final, se eu for eleito, é no fim do mandato entregar um Estado da inovação.   Com quais recursos esse programa para a educação seria viabilizado?   Das questões que têm me preocupado, são alguns critérios de repartição de recursos entre União, estados e municípios. Não há dúvida que um projeto grandioso como esse vai exigir muitos recursos e tenho animação, pois sempre acreditei que um bom projeto, com grande alcance social, sempre consegue ser financiado. Falando especificamente de fontes, é lógico que não podemos continuar com esse pacto federativo. 60% das rendas são para custear o governo federal. Em segundo lugar, os royalties dos minérios. Fico abismado como o governo federal pode punir tanto Minas Gerais ao não aprovar o código mineral. Não quero dizer que tenha sido perseguição com nossos governos, mas tem gente que diz isso, para que não tenha essa renda suplementar para Minas. Desde que o projeto começou a tramitar deixamos de arrecadar R$ 6 bilhões.   O governo de Minas anunciou uma ligação férrea para ligar o Aeroporto de Confins e o centro da cidade. Projetos como esse terão continuidade caso o senhor seja eleito?   Aí me permita dizer com muito pesar que em 2001 participei da inauguração do metrô do Barreiro e faltavam mil e poucos metros. Isso deveria ter sido feito nos primeiros meses do próximo governo e infelizmente isso tem 13 anos. É necessário fazer um plano definitivo de ligação ferroviária entre Betim e Confins, Ribeirão das Neves e Jardim Canadá. Se vai ser metrô com VLT, aí a parte técnica vai dizer. Mas não tenho dúvida em afirmar que Minas tem que fazer de dez a 15 quilômetros de metrô por ano. Tem que ter um metrô embaixo da avenida do Contorno, por exemplo.    As pesquisas mostram que o eleitor mineiro ainda está muito indeciso. Como vocês pretendem conquistar esse nicho?   Acho que até 15 de julho a população não estará aberta para isso. Mas essa data já está aí. Existem duas matrizes principais. Uma são os programas de televisão. Eles vão ser usados a partir do momento que a lei permite. É um canal direto que vai esclarecer dúvidas e levar ideias e informação ao eleitor. Mas existe um outro caminho que já fazemos desde o ano passado que é o contato direto com as pessoas. Estou muito atento a tudo que me dizem. Por exemplo, em vez de criar um aeroporto regional no Triângulo mineiro, próximo à BR-050, pode ser internacional. Ali podem se estabelecer indústrias que dependam de logística. Temos feito essa discussão. Isso vai ser aprofundado daqui para frente.   Qual será o peso da internet na sua campanha?   Usamos a internet para reproduzir e resumir isso que eu disse. Então, ela nos dá velocidade nessa discussão. Informamos onde estamos, os temas tratados, as sugestões que estamos apresentando. A vantagem é a rapidez das respostas. Ainda é uma ferramenta muito limitada, pois as pessoas que usam são de uma faixa etária mais nova.   Temos acompanhado na internet uma “campanha” de desinformação e troca de acusações entre pessoas ligadas ao PT e ao PSDB. O senhor vai trazer isso oficialmente para sua campanha ou, em caso negativo, como vai evitar que aliados promovam esse tipo de serviço?   A internet é livre. O problema é que nossos adversários tradicionalmente usam a internet como forma de desconstrução. Espero que isso não venha a ocorrer em um nível mais profundo, que degrade a eleição. Nós nunca pensamos nesse tipo de utilização.   O PSB lançou Tarcísio Delgado como candidato ao governo. O senhor acredita que essa eleição será de um turno só?   Primeiro gostaria de dizer que a decisão do PSB é legítima e tem que ser acatada. O nome indicado é de um parlamentar que sempre foi correto, idealista e espero que consiga fazer uma campanha no nível que confiamos.    Apesar de indicarem um candidato, muitas lideranças do PSB afirmaram que podem apoiar sua candidatura extra-oficialmente.    Nós temos tido manifestações muito importantes de todos os partidos que não estão nos apoiando oficialmente. Nós temos recebido manifestações de solidariedade muito fortes, à vezes empolgantes, portanto fico satisfeito. Mas não estamos estimulando isso. Reconheço que há muita gente que sempre esteve aliado conosco e seria muito difícil nessa hora deixar de continuar do nosso lado.   Alguns descontentes com a decisão do PMDB de apoiar o PT chegaram a falar em lançar o movimento “Dilmenta”- votar no senhor e na presidente Dilma Rousseff (PT). Como o senhor recebe esse tipo de apoio?   Acho que é tão importante para o Brasil mudarmos a administração federal que tem produzido coisas tão negativas que nos mostram que a solução para o Brasil é o Aécio Neves. A vida inteira ele representou Minas e não há dúvida nenhuma que fará todo o possível para superar esse problema. Acho que não podemos perder essa oportunidade. Vai se tornar tão forte que se alguém se colocar contra pode ter constrangimento. Está se criando um movimento de conscientização e quem se opor, estará se colocando contra Minas.   O senhor teme assumir um governo no momento em que a situação econômica brasileira começa a apresentar dificuldades?   Governar é sempre um desafio, mas nesse momento será um desafio maior porque o Brasil está passando por alguns problemas que são muito preocupantes na área da economia. Algumas questões que ainda não foram resolvidas, como a repartição de rendas públicas, além dos graves problemas sociais, como na segurança e na saúde. Mas como eu disse, governar é sempre um desafio. Mas eu confio que com ideias e propostas bem definidas e discutidas com a sociedade é possível avançar bastante.    Devido a problemas financeiros decorrentes da crise de 2009, o ex-governador Antonio Anastasia levantou R$ 19 bilhões em empréstimos junto a bancos privados. Isso foi amplamente criticado pela oposição. Caso seja eleito, o senhor vai manter essa política de financiamento como alternativa?   Mesmo quando há carência de recursos, como ocorre hoje no Brasil, você precisa manter o Estado em funcionamento. Nós temos o exemplo de Juscelino Kubitschek, que ao assumir o poder com uma economia muito trancada, conseguiu fazer extraordinários programas e criar condições para um desenvolvimento que até hoje atinge nossos dias. Temos que procurar as melhores alternativas de financiamento do Estado.   Quem definirá as prioridades do governo caso o senhor seja eleito?   Quando eu era prefeito, as administrações regionais praticamente não existiam. Eram duas ou três e não exerciam nenhuma função efetiva. Eu ampliei o número de administrações regionais e dei a elas funções efetivas e criamos o programa participativo de obras prioritárias (Propar), que foi o primeiro programa de orçamento participativo implementado em Belo Horizonte em 1989, um programa de efetiva de participação de todas as pessoas. É o que eu desejo fazer em todo o Estado, levar a ideia da participação para todos os cantos de Minas.

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