Na capital mineira, PF fez busca em residência de ex-deputado Virgílio Guimarães

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
29/05/2015 às 09:09.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:16
 (ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)

(ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)

Em Belo Horizonte, cinco equipes da Polícia Federal (PF) cumpriram mandados de busca e apreensão na manhã de hoje dentro da operação Acrônimo, que investiga o empresário ligado ao PT, Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, da Gráfica e Editora Brasil. Suspeito de associação criminosa, Bené teve mandado de prisão decretada nesta sexta-feira. Dez carros de luxo e um avião foram confiscados.

Entre os alvos na capital mineira, a PF fez buscas no apartamento do ex-deputado federal Virgílio Guimarães, localizado no Sion. Virgílio é um dos fundadores do PT e pai do deputado federal Gabriel Guimarães, cotado para ser candidato a prefeito de Belo Horizonte. Computador, pen-drive e telefone foram apreendidos na casa dele.

Em entrevista hoje, ele confirma a ação policial, mas alega estar impedido por lei de falar a respeito do assunto. “Fui informado que informações da Polícia Federal só devem ser dadas pela Polícia Federal. Os demais cidadãos estão impedidos por lei de falar desse assunto. Existe uma legislação que me impede de falar. Gostaria de falar, mas me informaram que existe uma legislação que me impede. Acho a lei errada, mas sou cumpridor da lei”, declarou. Segundo ele, a investigação é sigilosa.

Avião do empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto que foi apreendido em Brasília (ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)

 

Primeira-dama

A Polícia Federal fez nesta sexta-feira (29), buscas em imóvel da primeira-dama de Minas Gerais, Carolina Pimentel, casada com o governador Fernando Pimentel (PT). A ação, num apartamento da Asa Sul, em Brasília, integrou a Operação Acrônimo, que investiga esquema e lavagem de dinheiro envolvendo colaboradores da campanha do petista ao Palácio Tiradentes, em 2014.

Carolina Oliveira até 2014 ocupava esse apartamento. Foi esse o imóvel objeto de um dos 90 mandados de busca e apreensão expedidos a pedido da PF pela Justiça Federal de Brasília. De acordo com a revista "Época" do ano passado, Carolina montou uma empresa, a Oli Comunicação, e mantinha amizade com a mulher do empresário detido, conhecido como Bené e que atua no ramo de gráficas e organização de eventos. A Oli, segundo a revista, foi contratada pelo PT.

 

A operação

A PF realiza na manhã desta sexta-feira (29), a operação Acrônimo que tem como objetivo combater uma organização criminosa investigada por lavagem de dinheiro. A Polícia Federal (PF) prendeu, em flagrante, cinco pessoas, entre elas, o ex-assessor do Ministério da Cidades Marcier Trombiere; Benedito de Oliveira Neto, conhecido como Bené e dono da Gráfica Brasil; Pedro Augusto de Medeiros, apontado como laranja de Benedito; e Victor Nicolato, sócio de Benedito. As prisões ocorreram em Brasília como parte da Operação Acrônimo, deflagrada nesta sexta-feira pela PF no Distrito Federal, em Goiás, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul com objetivo de desarticular um esquema de lavagem de dinheiro. A ação é um desdobramento da investigação que apreendeu R$ 116 mil, em outubro do ano passado, no avião de Bené, quando ele viajava de Belo Horizonte para Brasília.

Cerca de 400 policiais cumprem 90 mandados de busca e apreensão. As equipes de policiais envolvidos nas ações de hoje realizam buscas em cerca de 30 endereços de pessoas físicas e 60 pessoas jurídicas. Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal.

O objetivo é localizar eventuais documentos, valores e mídias que possam esclarecer a suspeita de que os valores que circulavam nas contas de pessoas físicas e jurídicas ligadas aos investigados vinham da inexecução e de sobrepreço praticados pelo grupo em contratos com órgãos públicos federais.

Para ocultar a origem criminosa do dinheiro, os investigados empregavam a técnica desmurffing – que consiste na tentativa de evitar a identificação de movimentações fracionando os valores – além da chamada confusão patrimonial e do extensivo uso de pessoas interpostas, os “laranjas”, conforme as investigações. A PF investiga a participação do grupo em campanhas eleitorais.

 

Campanha

Bené é irmão de Júlio de Oliveira, sócio administrador da Gráfica e Editora Brasil, que prestou serviço a candidatos da legenda na eleição de 2014.

Conforme o Hoje em Dia revelou em 26 de novembro do ano passado, parte das despesas da campanha do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT) foram contraídas com a Gráfica e Editora Brasil, sediada em Brasília.

A campanha do petista gastou R$ 3,2 milhões com a Gráfica Brasil, segundo a prestação de contas final do candidato. A despesa foi incluída na conta do Comitê Financeiro Único do Partido dos Trabalhadores e alvo de questionamento do Tribunal Regional Eleitoral.

Conforme relatório da Corte eleitoral mineira, houve a omissão de despesas com a Gráfica Brasil que foi um dos motivos pelo qual o corpo técnico do TRE opinou pela desaprovação das contas de campanha de Pimentel. As irregularidades detectadas, entre elas um valor de gasto extrapolado em R$ 10 milhões, culminou com pedido de cassação do mandado de Pimentel pela Procuradoria Regional Eleitoral de Minas. Em nota, o governo de Minas declarou que não está sendo investigado.

Na ocasião da apreensão da aeronave, durante a campanha do ano passado, a PF deteve Marcier Trombiere Moreira, ex-funcionário do Ministério das Cidades que atuava na campanha de Pimentel. Em 2010, o empresário Bené foi interrogado pela PF sobre a denúncia de que teria pago o aluguel da casa usada na campanha presidencial. Ainda teve de prestar informações sobre um grupo de inteligência da campanha da então candidata Dilma Rousseff (PT) que estaria envolvido na produção de um dossiê contra o ex-governador José Serra (PSDB), em 2010.

O empresário teve também que dar explicações sobre supostas irregularidades em um contrato da Dialog com o Ministério das Cidades. A empresa tinha contratos da ordem de R$ 49 milhões com vários ministérios em 2009.

 

O nome da Operação

O nome da operação é uma referência ao fato de que o prefixo da aeronave onde foram localizados os valores é uma sigla formada pelas iniciais dos nomes de familiares do principal investigado da operação.

Ao longo dos quase 8 meses de investigação, os policiais realizaram acompanhamentos dos suspeitos, além de vigilâncias. As equipes de investigação também se detiveram sobre os dados existentes nos notebooks, smartphones, tablets, além de outros dispositivos e mídias apreendidos durante a ação no ano passado, cujos acessos foram autorizados pela Justiça. No total, mais de 600 gigabytes de informação relevante foram analisados, cruzados com outras fontes e bases de dados, além de passarem por um atento trabalho de mineração de dados. Entre as medidas determinadas pela Justiça Federal está o sequestro de um bimotor turboélice King Air avaliado em R$ 2 milhões.

A reportagem ainda não conseguiu contato com os advogados do empresário.

 

Matéria atualizada às 09h26, 10h34 e 11h48

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