Uma demissão por rodada do brasileiro expõe vulnerabilidade dos treinadores

Alexandre Simões e Gláucio Castro - Hoje em Dia
01/06/2015 às 07:57.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:18
 (Site Oficial Flamengo/Divulgação)

(Site Oficial Flamengo/Divulgação)

Vanderlei Luxemburgo tem no currículo cinco títulos de campeão brasileiro. Luiz Felipe Scolari deu ao Brasil o pentacampeonato na Copa do Mundo de 2002, venceu duas Libertadores e um Brasileirão. Nada adiantou. Assim como Ricardo Drubscky, eles foram vítimas das três primeiras rodadas do Nacional.

O quarto técnico caiu ontem. Milton Cruz comandou o São Paulo pela última vez na partida contra o Internacional e dá lugar ao colombiano Juan Carlos Osório. O ex-técnico do Atlético Nacional, da Colômbia, assume o comando do Tricolor e será apresentado oficialmente hoje.

Com uma demissão a cada rodada em 2015, esta edição do Brasileirão promete bater todos os recordes de mudanças de técnicos. Nas últimas cinco temporadas, foram, em média, 23 trocas por ano. De 2010 para cá, 119 treinadores já perderam o cargo.

“É lamentável essa situação, porque é a demonstração de que não existe convicção em relação ao trabalho do técnico. Treinador depende de resultados, mas resultados não dependem só do treinador”, avalia Marcelo Oliveira, comandante do Cruzeiro.

Apesar de ter levado a Raposa ao título das duas últimas edições do Brasileiro, ele sabe que não está garantido no cargo, principalmente após a eliminação de quarta-feira para o River Plate, da Argentina, nas quartas de final da Copa Libertadores.

Embora os técnicos de futebol estejam sempre na corda bamba, Marcelo é uma exceção na profissão. Felizmente, tenho trabalhado durante muito tempo nos clubes onde passei. Foram dois anos no Coritiba e já são dois anos e quatro meses no Cruzeiro. Esperamos dar sequência, mas estamos preparados para todas as situações”, disse. Apenas no Vasco ele não teve vida longa. Entrou em setembro de 2012 e saiu dois meses depois.

Temido tropeço

Depois de quase dez anos no futebol japonês, Levir Culpi assumiu o Atlético em abril do ano passado. De lá para cá conquistou a Recopa, Copa do Brasil, Campeonato Mineiro e vive um momento mais tranquilo que o amigo Marcelo Oliveira. Mas, apesar dos títulos, Levir sabe que qualquer tropeço ao longo da temporada pode levar todo este prestígio por água abaixo.

“Essa é a nossa cultura, que teima em permanecer. Entra ano e as demissões em massa dos técnicos não mudam. São trabalhos avaliados a curto prazo e com necessidade de resultados imediatos. Para você avaliar um técnico, tem que ver o que aconteceu na carreira dele”, avalia o paranaense.

“Há trabalhos que eu fiz, como na Inter de Limeira e no Criciúma, que as pessoas não dão valor. Mas para mim é a prova de que sou capaz de dar bons frutos. Aqui no Brasil só vale o campeão, por isso os técnicos trabalham sabendo que, se não vencerem, estão fora”, completa Levir.

Mesmo sem concordar com esta postura, ele tenta tratar com bom humor a situação inconstante dos técnicos no Brasil. Recentemente lançou até o livro “Burro com sorte”, no qual relata histórias curiosas vividas em sua trajetória de treinador, desde que começou no Caxias, em 1986.

Uma delas é a que dá nome ao livro. “Eu treinava o Criciúma. Nós tínhamos que vencer a partida e estávamos empatando. Tinha uma cara que sempre me chamava de burro na arquibancada. Fiz uma substituição inesperada por todos e o cara foi lá, fez o gol e nós vencemos. Aí, ele me chamou de burro com sorte”, relembra Levir.

Em 12 anos, nove campeões mantiveram seus treinadores

A regra é clara. Quem troca menos, vence mais. Desde que a fórmula por pontos corridos foi implantada em 2003, nove campeões brasileiros não mudaram seus técnicos durante a campanha e apenas três fizeram trocas.

O Cruzeiro de Marcelo Oliveira, campeão em 2013 e 2014, e o São Paulo de Muricy Ramalho, que levantou a taça em 2006, 2007 e 2008, são os grandes exemplos de que a permanência do treinador é o primeiro passo para a conquista de títulos importantes.

A tabela de classificação do Campeonato Brasileiro do ano passado é outra prova disso. Dos quatro primeiros colocados na competição, nenhum clube mudou de treinador.

Entre as temporadas de 2010 e 2012, as diretorias dos times brasileiros chegaram a dar mostras de que tinham aprendido a lição, reduzindo consideravelmente as constantes trocas de comando. Em 2010, o recorde foi batido: foram 32 mudanças.

Em 2011, este número caiu para 21 trocas de técnicos, e 19 em 2012. O bom exemplo durou pouco. Na temporada 2013, 24 treinadores perderam o cargo. Em 2014 foram 23 alterações. E, no que depender das quatro primeiras rodadas desta edição do Nacional, tudo indica que o Brasileirão 2015 também terá números elevados.

Rotinas

Último campeão da Série A a trocar de treinador durante a disputa, em 2009, o Flamengo manteve a prática em quatro dos cinco anos seguintes ao título. Mas só voltou a figurar no G-4 em 2011, numa campanha que teve Vanderlei Luxemburgo no comando nas 38 rodadas.

Nas outras cinco oportunidades, a rotina do clube foi quase sempre brigar contra o rebaixamento.

Outra situação curiosa envolve o São Paulo, único tricampeão brasileiro em sequência, e só com Muricy Ramalho no comando. O Tricolor trocou de treinador entre 2010 e 2013.

Ano passado, o Tricolor voltou a brigar pelo título. Foi vice-campeão. E só com Muricy Ramalho dirigindo a equipe.

 

 

 

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