Farinha de biju é atração na rota da Copa do Mundo

Ana Lúcia Gonçalves - Hoje em Dia
26/01/2014 às 10:50.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:35
 (Leonardo Morais/Hoje em Dia)

(Leonardo Morais/Hoje em Dia)

AÇUCENA – O barulho da água que desce apressada e movimenta o monjolo, o ranger do tronco moendo o milho e a fumaça preguiçosa da fornalha de pedra indicam mais um dia de produção no Sítio da Dona Ica, em Açucena, no Vale do Rio Doce. A família produz farinha de maneira artesanal desde o início da povoação do município, há cerca de 100 anos, uma tradição que entra agora na quarta geração como atrativo do Circuito Turístico Mata Atlântica. A comunidade do Mirante, onde mora a família, está na rota da Copa do Mundo.
 
Maria Ferreira Faria, de 62 anos, a “dona Ica”, é quem coordena a produção de farinha de milho, mas a atividade envolve todos em casa. O dia mal amanhece quando o marido Ramiro Clemente Oliveira, de 65, embrenha-se em matas que circundam a propriedade em busca da lenha que vai alimentar o fogão feito de pedra. O milho, que ficou de molho em água limpa por uma semana, é colocado no pilão que o monjolo secular construído com o tronco de um pequizeiro vai triturar e descascar. A caçula dos oito irmãos, Silvânia Clemente de Oliveira, de 25 anos, é quem separa os grãos “da pele”, à beira do córrego Itacolomi.
 
“Tem que colocar na peneira e assoprar. Não tem outro jeito”, ensina. Moído, o milho vira fubá e nesta fase é levado para o fogão, em uma espécie de panela gigante com fundo de pedra e laterais rebocadas com barro branco. O segredo para não agarrar ou soltar terra é “encerá-la” com folha de inhame – é esfregada nas laterais até soltar um sumo verde –, também colhida no quintal. Depois, é só mexer sem parar por uma hora até que o fubá fique torrado e vire farinha de milho. “Quando o cliente pede farinha com biju (pequenos flocos), é só não misturar muito”, ensina.
 
Clientes, a família tem de sobra. A produção gira em torno de três sacas (150 quilos) por mês, vendida para vizinhos e mercearias de Açucena. No varejo, a farinha custa R$ 4 o “litro”. “Sempre tem gente batendo palmas aqui, querendo comprar. Dizem que é gostosa porque não é azeda e é bem torrada”, conta dona Ica, orgulhosa do ofício que herdou dos pais, que aprendeu com os avós e deixa para os filhos. “Eu não tenho leitura, mas ensinei todos a fazer farinha”, conta.
 
Um dos fregueses é Edílson Gonçalves Bento, diretor do Departamento de Cultura da prefeitura, que sempre recebe encomendas de parentes e amigos residentes no Canadá, Portugal e Estados Unidos. “Essa farinha tem gosto de infância, ajuda a matar as saudades de casa”, conta. A tal ponto que a produção artesanal atrai turistas e excursões de escolas para a Comunidade do Mirante.
 
 

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