Comércio registra a maior queda nas vendas dos últimos 12 anos

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
15/04/2015 às 08:39.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:39
 (Francisco Haikal)

(Francisco Haikal)

A coleção outono-inverno mal chegou às vitrines e lojistas já anunciam promoções. É o chamariz para atrair o consumidor, que espia, olha, mas vai embora sem comprar nada. Com as lojas vazias e vendedores à espera do freguês que raramente entra, o setor elimina custos como pode e já corta pessoal.

O cenário visto por quem anda pela Savassi e outros polos de compras aparece nos cálculos dos analistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa divulgada ontem mostra que as vendas no comércio varejista despencaram 3,1% no país em fevereiro, na comparação com igual mês de 2014. É o pior resultado desde agosto de 2003. Em Minas, o tombo foi ainda mais alto. No Estado, o varejo registrou queda de 5,2% na mesma base de comparação, índice que desde março de 2003 não era tão ruim. Ante janeiro, o recuo nas vendas foi de 1,1%. Já no acumulado em 12 meses, o saldo ainda é positivo (1,1%).

“Em Minas, todos os setores analisados fecharam no vermelho, do combustível ao supermercado, de eletrodomésticos a roupas e calçados. E isso é reflexo do encolhimento da renda da população. O consumidor está mais cauteloso. Posterga a compra do que não for prioridade máxima”, avalia a analista do IBGE em Belo Horizonte Juliana Dias Alves.

Cenário econômico

Para o economista da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio-MG), Guilherme Almeida, o fraco movimento nas lojas é reflexo do ambiente econômico totalmente desfavorável ao bolso do brasileiro.

Entre os ingredientes amargos, ele cita a inflação – que em março atingiu 8,13% no acumulado em 12 meses–, muito acima do teto estipulado pelo governo federal (6,5%), e o crescimento da taxa de desemprego, que subiu para 7,4%.

“Quem mais sai prejudicado é o poder de compra do trabalhador. Então, não resta ao comerciante outra coisa a não ser inovar, captar clientes com promoções, buscar se destacar, usar tecnologias para atrair o consumidor e oferecer bons preços. Também é fundamental estar atento aos custos do negócio”, diz.

Com o aperto no orçamento, o cliente até fica balançado diante de uma vitrine chamativa, que promete “preços imperdíveis”. Mas nem sempre morde a isca. Apaixonadas por calçados, as amigas Cleide Corrêa e Jaqueline Gabriele ficaram fascinadas com a oferta de sapatos e sapatilhas da coleção de Inverno 2015. “Normalmente, os lançamentos chegavam custando bem mais. Dá vontade de levar todas para casa. Mas não estou comprando nada que não seja essencial”, afirma Jaqueline.

A aposentada Solange Quintão diz que nunca foi muito consumista. Prefere roupas atemporais, que fogem ao modismo. E se ela já pensava duas vezes antes de passar o cartão de crédito, agora analisa três, quatro. “Mais do que a inflação, o que me preocupa é o desemprego, principalmente entre os jovens”, diz.

A dona de casa Berenice Carvalho conta que um dos passeios prediletos é bater perna na Savassi. “Mas com as coisas como estão, só mesmo pra olhar e distrair”, brinca.

Insegurança em realação à economia esvazia lojas

A cautela do consumidor, que protege o bolso mas esvazia lojas, também aparece em levantamento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). Segundo pesquisa de fevereiro, o comércio varejista da capital fechou em queda de 4,67% em relação ao mesmo mês de 2014. É o pior índice desde 2007.

“Além da economia fraca, estamos diante de casos de corrupção nunca vistos antes neste país e um sério problema político, já que presidente e Congresso não se entendem. O resultado é uma crise de confiança, tanto por parte dos empresários quanto pelo lado do consumidor”, diz o presidente da CDL-BH, Bruno Falci.

Segundo ele, com o aumento das tarifas de luz e água, e escassez de crédito, o que sobra para o trabalhador vai para o básico. E o supérfluo fica para o futuro.

Para atravessar a crise, Falci diz que lojistas terão que apertar o cinto e fazer revisão dos gastos, o que passa por demissões.

“Quando a empresa não fatura o suficiente, há desdobramentos. Tanto que já houve cortes, embora pontuais”, afirma. 

 

 

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