Situação do emprego no Brasil tende a piorar, dizem analistas

Estadão Conteúdo
23/10/2015 às 17:18.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:11

A situação do emprego no Brasil tende a piorar no início de 2016, de acordo com avaliação do economista-chefe da AZ FuturaInvest, Paulo Eduardo Nogueira Gomes. "Deve haver uma redução ainda maior dos postos de trabalho no País em janeiro porque podem ocorrer demissões de funcionários contratados temporariamente para o final do ano ", afirmou.

Ao comentar os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado nesta sexta-feira (23), e que mostrou o fechamento de 95.602 vagas formais de emprego em setembro, o economista avalia que os dados do mercado de trabalho estão um pouco desalentadores. "Em um mês que a indústria já estaria produzindo e o mercado se preparando para o final do ano, observamos uma queda no emprego formal", afirmou.

Gomes nota ainda que os dados sugerem que há uma maior diminuição do emprego formal do que nos empregos em geral. "A Pesquisa Mensal de Empregos mostrou que houve estabilidade na taxa de desemprego, enquanto o Caged aponta para diminuição da formalidade. Esse é um sinal negativo e mostra que os trabalhadores estão ficando mais desamparados", disse.
  Criação de vagas formais durante o ano de 2015
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O economista afirmou ainda que o desemprego está crescendo em uma velocidade alta e que a pesquisa da Pnad de agosto, que ainda não foi divulgada, deve mostrar um aumento do número de pessoas sem trabalho.

Comércio

Na avaliação do economista Thiago Biscuola, da RC Consultores, após analisar dados do Caged divulgados hoje, a baixa expectativa do comércio para as vendas de fim de ano afetou a geração de empregos formais no segmento em setembro. "Se o comerciante espera um Natal fraco, ele não vai contratar. E setembro costuma ser mês de contratação para as empresas que se preparam para o movimento maior de fim de ano", disse.

No mês, o saldo líquido de emprego formal foi negativo em 95.602 vagas, levando em consideração todos os setores. Somente no comércio, 17.253 postos de trabalho foram fechados. O pior saldo foi registrado em serviços, com o fechamento de 33.535 vagas. "Já era esperada uma deterioração em serviços, mas o resultado veio bem pior do que esperávamos", afirmou.

Embora setembro tenha sido um mês de forte depreciação do câmbio e de perda do grau de investimento do Brasil por parte da agência de risco Standard & Poor's, o economista negou que esses fatores tenham tido grande impacto no mercado de trabalho, preferindo enfatizar que os empresários costumam postergar ao máximo as demissões e que, se demitiram em setembro, foi porque já estavam em situação difícil há alguns meses. "Fatores como o rebaixamento e o dólar são pontuais e apenas reforçam a situação", explicou.

Biscuola também disse que, além de as empresas estarem demitindo mais, elas estão postergando contratações, em razão das incertezas da economia. "Há problema de confiança. Por mais que muitos empresários não saibam qual é o impacto da piora fiscal do governo em seus negócios, eles veem os juros subindo e sentem mais dificuldade para conseguir crédito. Isso afeta a confiança e ele evita contratar", afirmou.

Deterioração prolongada

Segundo análise do banco britânico Barclays, os dados do Caged divulgados hoje pelo Ministério do Trabalho e Emprego e Previdência Social sugerem que a deterioração no mercado de trabalho brasileiro será prolongada, durando ainda vários trimestres. "Isso reduzirá a renda disponível e prejudicará o consumo das famílias", afirma o banco.

O Caged mostrou a eliminação de 95.602 vagas em setembro, mas o Barclays afirma que, segundo números sazonalmente ajustados, foram fechados 170.546 postos, uma nova mínima recorde. O banco lembra que no acumulado do ano os dados ajustados mostram eliminação de 729.583 empregos, sendo a maior parte na indústria (287,5 mil), comércio (256 mil) e construção civil (206 mil). "O único destaque positivo é o setor público, que criou 8 mil empregos formais".

Nesse cenário, o Barclays estima queda de 2,0% no consumo privado em 2016, após a contração de 4% prevista para este ano.

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