Sulamérica e Sulacap, as torres gêmeas de Belo Horizonte

Patrícia Santos Dumont - Hoje em Dia
11/05/2014 às 08:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:31
 (Arquivo / Hoje em Dia)

(Arquivo / Hoje em Dia)

Para um olhar menos atento, a fachada larga e aparentemente comum, com lojas e pessoas, pouco se destacaria em um cenário tão casual. São três lojas de um lado, um pequeno vão no centro, com um cursinho, uma portaria discreta e tudo se repete do outro lado. Na movimentada avenida Afonso Pena, no Centro de Belo Horizonte, os edifícios-irmãos Sulacap e Sulamérica se misturam com facilidade à paisagem do cotidiano.    Mas experimente erguer bem o olhar, a partir do Viaduto Santa Tereza ou, caminhando em direção ao Centro, ainda na Afonso Pena. Lá em cima, as torres, em tamanho e altura idênticas, sobressaem. São parte importante – e imponente – da história da capital mineira. Os dois prédios emprestam a própria trajetória à série de reportagens do Hoje em Dia sobre os edifícios históricos de BH.    Laços   Naquele lugar, onde as coisas, ao longo de quase 70 anos, acompanharam o ritmo ágil das mudanças da metrópole, um local parece intocado.    O apartamento 601 do Sulamérica é o único ainda ocupado por moradores. A família chegou entre 1946 e 1947 e, diferentemente dos vizinhos, resistiu à transformação da residência em salas ou escritórios.    De vários cantos da residência com mais de 300 metros quadrados é possível avistar cartões-postais de BH, como a Serra do Curral, o Parque Municipal e o Viaduto Santa Tereza.    Orgulhosas, as moradoras do apartamento, Maria de Lourdes Scotti, de 95 anos, e a sobrinha dela, Hilda, de 82, são parte dessa história.    Só saudade   Solteirona e feliz da vida, como faz questão de dizer, dona Lourdes é só saudade dos tempos em que se debruçava na janela para apreciar o jardim do edifício e a linda vista da cidade.   “A gente descia as escadas e colocava as cadeiras no jardim, para ver a parada de 7 de setembro e os blocos de Carnaval. Hoje não temos mais isso. Nem vista do quarto nem jardim lá embaixo”, lamenta.    No local, uma espécie de “puxadinho” invade a cena urbana há mais de 40 anos e esconde parte do charme de um dos prédios mais emblemáticos da capital.    Agora, entre a escadaria da rua da Bahia e a avenida Afonso Pena, no lugar do verde resta o movimento dos estudantes de um cursinho. E a vista de dona Lourdes, com a mudança, mudou também.    De uma das janelas do amplo quarto, a visão perfeita do viaduto, seguido pela avenida Assis Chateaubriand, na Floresta. Da outra, por onde pulsa o coração da cidade, a avenida Afonso Pena, agora ornada por uma paisagem diferente.    “O conjunto Sulacap/Sulamérica tem um eixo de simetria muito bem alinhado à avenida e ao viaduto e mantém uma conversa com o traçado urbano. Esse anexo, no entanto, é o maior candidato à demolição na cidade. O que fizeram foi a invasão de um espaço vazio muito interessante”, afirma o arquiteto João Diniz, professor da Universidade Fume.   Um projeto encomendado pela síndica do Edifício Sulamérica está sendo feito pelas arquitetas Karine Arimatéia e Sarah Floresta, de BH, com o objetivo de diagnosticar danos e propor intervenções ao conjunto. A ideia é reverter a construção do anexo e retomar o traçado original do conjunto.

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