Muito mais tempo na fila por um novo emprego

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
20/01/2016 às 07:06.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:05
 (Carlos Henrique)

(Carlos Henrique)

A crise aumentou o tempo de espera dos brasileiros na fila do emprego. O grupo de pessoas que está há mais de um ano à procura de recolocação profissional saltou para 11% do total de desocupados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em novembro do ano passado. No mesmo mês em 2010, por exemplo, esse percentual era de 5%.

Na média do país, a caça ao emprego ficou ainda mais difícil. Quase 20% dos trabalhadores demoram além de 12 meses para conseguir uma nova vaga, segundo dados do IBGE.

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME) mostra em números que a época em que os candidatos encontravam a tão desejada chance com facilidade definitivamente ficou para trás.

Na capital mineira e cidades do entorno, o tempo de procura por emprego passou, em média, de até 30 dias para 30% dos desocupados, universo bem modesto quando comparado aos 60% que eles representavam do total de desempregados há seis anos.

Ou seja, é como se só a metade dos trabalhadores conseguisse um novo registro na carteira em um mês, em relação a 2009. “As pesquisas mostram que o tempo médio de procura realmente está aumentando. Antes, a pessoa saía de um emprego e rapidamente encontrava uma nova oportunidade. Às vezes, até deixava uma empresa por um salário melhor na concorrente. Era grande a rotatividade. Hoje, a história mudou”, diz o analista do IBGE em Minas, Antonio Braz. Do contingente de 157 mil pessoas em busca de uma colocação na RMBH, pelo menos 17 mil estão na batalha há mais de um ano.

Rendimento em baixa

Se a oferta despencou, a qualidade dos empregos também diminuiu. Em um ano, o rendimento médio real do trabalhador caiu de R$ 2.388 para R$ 2.177. E muitos dos que perderam o emprego formal agora tentam se virar na informalidade, elevando a quantidade de trabalhadores por conta própria.

“Pessoas com alto nível de formação também estão demorando mais para conseguir a reinserção no mercado de trabalho. E quanto maior o tempo na fila do emprego, menor fica o poder de negociação do profissional, que tende a aceitar propostas com salários inferiores”, afirma o doutor em economia e professor do Ibmec Felipe Leroy.

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada na semana passada, mostra que a taxa de desocupação registrada no Brasil subiu para 9% no trimestre encerrado em outubro. Segundo o professor, com o cenário conturbado e a instabilidade na política e na economia, a tendência é de mais deterioração dos indicadores do emprego nos próximos meses.

Procura deve crescer 40% no primeiro trimestre deste ano

Com a escalada das taxas de desemprego, os postos do Sine estão ficando lotados de segunda à sexta-feira. Nas unidades municipais – BH Resolve (rua dos Caetés), Venda Nova e Barreiro –, o ano de 2015 fechou com uma demanda por vagas 30% superior à de 2014. Por outro lado, a oferta de oportunidades encolheu 50% no mesmo período.

"A situação é preocupante, até porque a grande massa de demissões ocorreu a partir de agosto do ano passado. Como muitos trabalhadores ainda estão recebendo o seguro-desemprego, a tendência é a de crescimento na procura entre 40% e 50% entre janeiro e março deste ano, em relação ao primeiro trimestre de 2015”, afirma o secretário municipal adjunto de Trabalho e Emprego, Alvimar de Paiva.

Segundo ele, a maior parte das vagas exige experiência mínima de seis meses. Assistente de vendas, cobrador e operador de telemarketing são as funções mais demandadas. “As oportunidades para pessoas com maior qualificação são restritas”, diz.

A dica de Paiva aos candidatos é procurar o Sine, fazer o cadastro e acompanhar as vagas no site diariamente. No Sine da Praça Sete, o entra e sai de trabalhadores à procura de uma recolocação é intenso. “O momento é de retração, mas há vagas para advogados e projetistas com necessidades especiais, por exemplo”, afirma a superintendente estadual de Política de Trabalho e Emprego, Lara Valadares

Demitido há quase um ano, o encarregado de obras Joaquim Pires, 53, tem se virado com “bicos”. “Quando estava fichado, tinha um monte de gente me oferecendo emprego. Agora, o povo corre de mim”, lamenta.

Há seis meses, o pedreiro Jerônimo Silva ouviu do chefe a notícia que ninguém quer receber. De lá pra cá, perdeu as contas de quantos currículos já enviou. “Não podemos desistir”, diz.

Mas não está fácil pra ninguém. Sócia de uma academia de ginástica no bairro Ipiranga, a empresária Thaís Alcântara assustou-se com a avalanche de candidatos para a função de secretária. “Há pouco mais de um ano, recebemos cerca de cinco currículos para a vaga. Desta vez, foram mais de 70”, revela.

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