Dólar dispara, e Banco Central já acena com alta de juro

Bruno Porto - Hoje em Dia
25/07/2015 às 07:56.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:04
 (Luiz Costa/Hoje em Dia)

(Luiz Costa/Hoje em Dia)

A escalada do câmbio e o já cogitado rebaixamento do “rating” do Brasil pelas agências de classificação de risco (de calote) vão agravar um cenário que, na avaliação do mercado, piorou após a revisão do ajuste fiscal. Ontem, o dólar fechou a R$ 3,347, a maior cotação dos últimos 12 anos, com fôlego para se manter no patamar alcançado, um indicativo de descrédito com o ajuste fiscal. As mudanças, no curto prazo, podem ainda pressionar a inflação e os juros, como reconheceu o próprio ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. A Bovespa terminou o dia em queda de 1,13%.    Um corte na nota de risco para investimento no país, além de ser mais um gatilho para a valorização da moeda estrangeira frente ao real, também tem potencial para deteriorar indicadores como PIB, emprego e renda.    No caso do câmbio desvalorizado, mais do que o impacto dele, o que preocupa é o motivo do pico de alta do dólar: o enfraquecimento da economia nacional. “O dólar subiu muito como resultado de uma menor confiança na economia brasileira para 2015 e 2016 após a revisão do ajuste fiscal. O investidor tende a ir para investimentos mais seguros e o dólar sobe”, disse o professor de finanças do Ibmec Marcos Sarmento Melo.   Revisão   Na quarta-feira, o governo federal anunciou a revisão do chamado ajuste fiscal – um pacote de medidas para reequilibrar as contas públicas. O superávit primário, aquilo que o governo economiza para pagar os juros da dívida pública, foi reduzido de 1,19% para 0,15% do PIB. Além disso, houve um corte extra de R$ 8,6 bilhões que se somou à já anunciada redução de R$ 69,9 bilhões nos gastos do governo.   Para o presidente do Conselho de Economia e Política Industrial da Fiemg, Lincoln Fernandes, a revisão do ajuste fiscal foi uma mensagem de que a crise que seria de 2 anos agora é de 3 a 5 anos. “Primeiro, o governo erra ao fazer um ajuste sem medida compensatória, que promova desenvolvimento. Ficam apenas medidas recessivas que, somadas à clara deterioração das contas públicas com incapacidade de cortar custeio, tende a prolongar a crise”, disse.   Fernandes acredita que essa conjuntura será evidenciada com o rebaixamento da nota de investimento do Brasil, o que também explica a valorização do dólar. Uma vez que não há ambiente para investimento interno, o investidor vai alocar capital em outro lugar.   Rating   As agências de classificação de risco possuem uma escala para determinar a segurança de se investir no país. Nessa escala, o Brasil tem o “grau de investimento”, uma espécie de selo de bom pagador, nas três maiores agências de classificação de risco do mundo.    Os estatutos de muitas empresas multinacionais e fundos de investimento estrangeiros exigem que só sejam feitos aportes em países bem posicionados nessas escalas. Isso quer dizer que a perda do grau de investimento não apenas afastaria novos investimentos como tem potencial para que recursos já alocados aqui sejam retirados.   Consumidores que vão viajar devem priorizar dinheiro em espécie e cartão pré-pago   A valorização do dólar frente o real, que no ano é de cerca de 25%, acendeu o alerta para quem programa viajar para o exterior. De modo geral, o diretor da Cotação, maior distribuidora de câmbio turismo do Brasil, Alexandre Fialho, diz que três regras devem ser seguidas: parcelar a compra do dólar, priorizar dinheiro em espécie e cartão pré-pago, além de comprar diretamente a moeda do país de destino.   “Não tem como acertar o dia certo da compra do dólar, aquele que terá a melhor cotação, por isso compre semanalmente. Não use cartão de crédito porque assim não é possível prever o quanto vai custar a viagem. E não compre dólar para depois trocar pela moeda do destino. Isso somente vai fazer a pessoa pagar mais taxas”, recomendou .   O cartão pré-pago, embora cobre IOF de 6%, é melhor que o cartão de crédito porque permite que as despesas sejam definidas antes de embarcar.   Quem quer evitar novas surpresas, depois da má notícia da forte valorização do dólar, é Sabrina Fonseca e seu noivo, que estão com viagem marcada para Miami, onde desembarcarão saindo de um cruzeiro, em outubro.    Ela vem acompanhando a cotação do dólar e confessa que o patamar atingido nesta semana assustou. “Como vou casar, a intenção era a de fazer o enxoval todo lá. Mas, com o dólar desse jeito, estamos priorizando algumas coisas e avaliando o que compensa mais comprar. Já é certo que não vamos trazer tudo o que planejamos inicialmente”, disse.   Sabrina já pagou o cruzeiro e pretende comprar com um dinheiro que vai receber em setembro, o que lhe dá menor prazo para planejar a aquisição da moeda estrangeira, uma vez que viaja no mês seguinte. “Já vou fazendo uma economia extra desde agora”, disse.   Fialho recomenda que mesmo com o curto prazo, ela não faça a compra do dólar de uma vez. “A orientação é para que assim que receber o dinheiro comece a comprar o dólar de forma parcelada. Se tiver quatro semanas até a viagem e for adquirir quatro mil dólares, compre mil por semana. Esse parcelamento diminui riscos”, afirmou.   

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por