CPI das Torcidas quer responsabilizar líderes das organizadas de São Paulo

Robson Morelli
20/10/2015 às 18:45.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:08

Instaurada na Câmara Municipal de São Paulo em 6 de agosto, a CPI das Torcidas Organizadas vai ouvir nesta quarta-feira, às 11h, em audiência pública, cinco presidentes ou responsáveis pelas torcidas organizadas de Palmeiras, São Paulo e Corinthians. Os membros convocados são André Azevedo, das Dragões da Real, Ricardo Maia, da Independente, Jânio Carvalho e Paulo Serdan, da Mancha Alviverde, e Rodrigo Fonseca, da Gaviões da Fiel. Todos já confirmaram presença. Os vereadores querem responsabilizar a liderança das uniformizadas nos atos e brigas entre torcedores.

Os vereadores envolvidos na CPI defendem que esses líderes são responsáveis pela bagunça de seus seguidores. Devem responder por qualquer um que arrumar confusão dentro ou fora dos estádios e por quem estiver usando as cores e erguendo a bandeira da facção. Esse é o ponto da discussão do momento. Ocorre que os cabeças das organizadas sempre defenderam que não há como responder por todos os associados e sempre tiraram o corpo fora nesse sentido.

O tema da CPI foi proposto pelo vereador Láercio Benko (PHS) com o seguinte argumento: "Se existe uma torcida organizada, existe um clube que, por sua vez, está filiado à Federação e à CBF, e todos são responsáveis, é uma cadeia. A violência, no entanto, não é exclusivamente culpa das torcidas organizadas. Atribuir a elas toda essa responsabilidade é um discurso raso."

A Comissão Parlamentar tem como vice-presidentes os vereadores Conte Lopes (PTB) e Masataka Ota (Pros). "Acho o tema dessa comissão importantíssimo. É necessário que se faça algo, porque a violência tem afastado as famílias dos campos. Os crimes têm acontecido e ninguém é responsabilizado", prega Lopes.

O grande objetivo é reduzir a criminalidade no futebol. "Vemos que algumas torcidas vão para o jogo para guerrear e não para torcer, como antigamente. O nosso objetivo é acabar com isso e permitir que as famílias voltem a frequentar jogos sem receio, e que os torcedores possam assistir às partidas sem terem de ficar divididos para evitar as brigas", defende Ota. Fazem parte da CPI da Torcidas Organizadas os seguintes vereadores: Adolfo Quintas (PSDB), Rubens Calvo (PMDB), Toninho Paiva (PR), José Police Neto (PSD), Ricardo Teixeira (PV) e Alessandro Guedes (PV).

Quem também vai ajudar com seus estudos cobre a violência no futebol é a socióloga Heloísa Reis, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas de Futebol da Unicamp e autora do livro "Futebol e Violência". Ela entende que a imprensa também é responsável pela atração de torcedores violentos para as organizadas porque mostra as imagens das agressões e das cenas.

Conte Lopes pede a prisão para os briguentos, conforme relatou o site da Câmara dos Vereadores de São Paulo. "Na minha opinião, como policial, tem de ter punição. Quem comete crime tem de ir para a cadeia e o Brasil precisa entender isso. Não é uma brincadeirinha entre torcidas uniformizadas. São criminosos que, com uma arma na mão, matam o outro. Duvido que depois que a gente tiver 300, 400 pessoas na cadeia, os outros vão fazer a mesma coisa." Conte estará na sessão extraordinária com os líderes das organizadas.

PARCEIROS - O presidente da CPI, depois de discussão com seus pares, não aponta as uniformizadas como únicas culpadas pelos atrocidades que acontecem nas arquibancadas ou nas imediações dos estádios e estações de metrô. Láercio Benko quer saber qual é o envolvimento dos clubes, das federações e da própria CBF com essas facções.

Para os vereadores que trabalham na CPI, o clube, por exemplo, sempre apela para as organizadas quando o time precisa de uma ajuda para se safar de situações ruins de tabela. Ocorre que para todos na Comissão Parlamentar, os líderes das facções devem ser responsabilizados pelos atos dos membros da torcida por causa da "teoria de domínio de fato".

"É como aconteceu com o Zé Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do Governo. Não havia dinheiro na sua conta corrente nem provas concretas do seu envolvimento nas falcatruas, mas ele tinha o domínio de tudo, de fato. E foi responsabilizado", disse.

O vereador promete se infiltrar para ver de perto como essa liderança trabalha nos estádios. O promotor Fernando Capez já teve postura parecida. Virou político e não "consertou" nada. De acordo com Benko, o grande objetivo desse trabalho é "regulamentar as torcidas organizadas", de modo a fazê-las responsáveis por seus atos, ter uma cara na sociedade. Os vereadores também vão convidar os presidentes de clubes para participar de sessões. Querem sabe como se dá essa relação torcida-time de futebol. A CPI entende que a Uniformizada não "existe sem a existência do clube".

PM - Nas primeiras sessões da CPI, os vereadores também chegaram à conclusão de que a segurança dos estádios deve continuar sendo feita pela Polícia Militar. Mas não nos moldes como é hoje, no horário de expediente do policial, que trabalha para a sociedade e não para os clubes mandantes. Há uma discussão para que esse trabalho do 2º Batalhão de Choque da PM seja feito fora do horário de expedientes, portanto, pagos para isso. "Os policiais também precisam de um seguro em caso de contusões e ferimentos", diz Benko.
http://www.estadao.com.br

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