Peça faz "reparos" à história do país com humor crítico

Vanessa Perroni - Hoje em Dia
18/01/2015 às 13:38.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:42
 (Alex Stoppa)

(Alex Stoppa)

Inspirado na linguagem do teatro de revista e das chanchadas, o ator e dramaturgo Ederson Miranda criou o espetáculo “A Hora do Brasil: Uma Chanchada Nacional”, em cartaz na Campanha de Popularização do Teatro e Dança. A montagem poderia ser apenas mais uma representação da história oficial do país, mas chama atenção por subverter a lógica dos fatos, por meio de personagens populares. “Não é Cabral que fala na peça, mas um viajante da caravela”, exemplifica Miranda.   Em nenhum momento o ator recorre às narrativas históricas europeias e colonizadoras. “Optei por dar voz aos oprimidos e conto a história a partir de personagens secundários”, comenta.   Sozinho no palco com uma arara de figurinos, o jovem ator, de 29 anos, se desdobra em seis personagens que são responsáveis por contar a versão “não publicada” do Brasil. Dentre os tipos nacionais interpretados por ele, estão o padre bêbado, o índio, o português gay, o escravo, a feminista e o caipira. “É um desafio trabalhar com estereótipos e não incorrer em clichês”, revela. A saída está na dramaturgia, que contou com a parceria do dramaturgo paulista Felipe de Moraes.   No texto essas figuras populares tomam a frente dos fatos. “É o oprimido que ‘zoa’ o opressor”, explica. No caso do personagem gay, por exemplo, o recurso foi colocar Cabral como homofóbico. Já o caipira afirma ter idealizado a Inconfidência Mineira, mas a ideia teria sido roubada pelos nobres. Na concepção do ator, a maioria das histórias é machista – portanto, ele incluiu uma feminista em seu texto. Momento de inverter papéis e fazer piada com o universo masculino.   Tais recursos destacam o viés crítico da obra que vai na contramão de outras comédias que reforçam os personagens excluídos como razão de chacota. “Vejo o mundo de forma mais satírica. É a minha maneira de criticar o que acho ultrapassado”, elucida o ator. Miranda comenta que tenta repetir o que Charles Chaplin fazia em suas películas ao “zoar” Adolf Hitler, em “O Grande Ditador”. “E teve o (Quentin) Tarantino (cineasta) que reconta a história e mata o Hitler”, complementa ele, se referindo ao filme “Bastardos Inglórios”.   “A Hora do Brasil: Uma Chanchada Nacional” na Funarte MG (rua Januária, 68). Até 1/2, de quinta a sábado, 21h, e domingo, às 20h. E de 20 a 22/2, no Teatro Francisco Nunes (av. Afonso Pena, s/nº, Parque Municipal). Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h. R$ 10 (postos Sinparc).

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