Seca e má gestão sujam a matriz energética do país

Raul Mariano - Hoje em Dia
24/05/2015 às 08:29.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11
 (Cemig/ Divulgação)

(Cemig/ Divulgação)

O aumento da demanda por geração de energia a partir das usinas termelétricas não tem refletido apenas no bolso do consumidor. Há também impactos ambientais trazidos com a emissão de gases resultantes da queima de combustíveis nas térmicas, encarecendo a matriz [/TEXTO]energética do país e tornando-a cada vez mais suja.
Em 2010, a energia gerada pelas térmicas representava 6,34% da matriz brasileira. Em 2015, ela já equivale a 22,46%. No mesmo período, a energia vinda das hidrelétricas caiu de 73,05% para 56,21% da matriz.

Em janeiro, as termelétricas do Sudeste e Centro-oeste – regiões responsáveis por produzir e consumir a maior parte da energia do país – geraram 6.581 megawatts médios, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Há 10 anos, a produção dessas regiões no mesmo mês era de 741 megawatts médios.
A energia vinda das hidrelétricas, apesar de ainda ser a principal fonte de abastecimento, vem diminuindo sua participação na matriz sobretudo por causa dos baixos níveis dos reservatórios. Entre janeiro de 2005 e janeiro de 2015 a redução foi de aproximadamente 4%.

Com a aproximação do período de seca, especialistas apontam que as termelétricas poderão sair da condição complementar na geração de energia e se tornarem garantias de abastecimento do país.

Ao passo em que a utilização das termelétricas se intensifica, a emissão de poluentes na atmosfera com a produção de energia também se expande.
Dados do Sistema de Estimativas de Gases Efeito Estufa, organizado pelo Observatório do Clima, apontam que, em 2013, a atividade de geração de eletricidade emitiu 54,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2). Para efeito de comparação, em 2003, foram emitidos 15,6 milhões de toneladas.

Alternativas
Para o gerente operacional da Enecel Comercializadora de Energia, Raimundo Júnior, há uma inversão do quadro normal de abastecimento. “As bases do setor elétrico brasileiro sempre foram as hidrelétricas, mas, devido a problemas de gestão política e falta de chuvas, as bases são cada vez mais as térmicas”, comenta.

O presidente da CMU Comercializadora de Energia , Walter Luiz de Oliveira Fróes, ressalta que fontes renováveis como a energia eólica e solar também representam boas alternativas e são apostas para o Brasil, porém também são intermitentes por estarem sujeitas à variações meteorológicas.

“A situação é grave do ponto de vista ambiental e sem perspectivas de resolução a médio prazo. Por uma visão equivocada das autoridades, paramos de construir hidrelétricas com grandes reservatórios”, comenta.

Usinas térmicas superam hidrelétricas em operação em MG
Na indústria, setores intensivos em consumo de energia como as siderúrgicas e as fabricantes de bebidas são os mais prejudicados com o acionamento das termelétricas e o consequente aumento das tarifas.

No entanto, especialistas alegam que não há alternativas energéticas viáveis que possam substituir as térmicas em um curto prazo. O gerente de meio ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares, explica que a interligação do sistema elétrico brasileiro dificulta a criação de novas formas de abastecimento.

“Muitas vezes, a energia que consumimos é gerada fora do Estado, por isso é difícil mensurar esse futuro. O que temos observado é que as termelétricas criadas para suprir uma redução de energia vinda das hidrelétricas passaram a ter influencia muito maior”, avalia.

Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que Minas Gerais já possui um universo de 385 usinas termelétricas em operação, enquanto as pequenas e grandes centrais geradoras hidrelétricas somam 267 unidades. Apesar disso, as térmicas produzem apenas cerca de 14% da energia gerada no Estado.

“Nossas termelétricas são movidas basicamente a gás, biocombustível e óleo, sendo que os dois primeiros modelos têm baixo impacto ambiental se comparados às usinas movidas a óleo e carvão. Nesse contexto, o pior são os impactos econômicos com o aumento de custos, algo que todos estão sentindo”, destaca Soares.

Hoje, as principais termelétricas mineiras são a Aureliano Chaves, localizada em Ibirité, e a Termelétrica de Juiz de Fora, ambas pertencentes à Petrobras e abastecidas pela Gasmig.

Além delas, há ainda a usina térmica de Ipatinga, no Vale do Aço, movida a gás de alto forno, a usina térmica do Barreiro, em Belo Horizonte, movida a gás natural e de alto forno, e a usina de Igarapé, em Juatuba, na Grande BH, movida a óleo combustível. As três são geridas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
Investimentos em fontes renováveis ainda são incipientes

A unanimidade entre especialistas é que o investimento em pesquisa e desenvolvimento de fontes renováveis de energia precisa ser contínuo. Em suma, porque a possibilidade de racionamento de energia, apesar de descartada pelas autoridades, não é considerada impossível por especialistas do setor.

O diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico para o Setor Energético (Ilumina), Roberto D’Araújo, explica que as térmicas não foram concebidas para serem utilizadas da maneira atual. Dessa forma, os prejuízos ambientais e econômicos tendem a crescer juntos.

“A carga de energia disponível no país já caiu por volta de 6%. Isso é equivalente a se desligar um Estado do tamanho do Paraná, por exemplo”, aponta.
Em um cenário de custos de energia em ascensão, fábricas de setores como o de alumínio, por exemplo, tendem a ir embora do Brasil.

DIVERSIFICAÇÃO
O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde José de Castro, explica que apesar da incerteza em relação ao setor energético, o Brasil tem uma matriz muito mais diversificada do que diversos países desenvolvidos.

“O potencial hidrelétrico brasileiro ainda deve durar cerca de 30 anos. Naturalmente, até lá teremos aumento das fontes como a energia eólica e solar. Mas é necessário ter uma fonte segura que, até o momento, é a energia térmica”, pondera.

O diretor de fontes energéticas da Secretaria de Estado de Planejamento de Minas Gerais, Daniel Rennó, explica que já existem programas que incentivam empresas a investirem em fontes renováveis de energia por meio da isenção de tributos como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

“Além disso, o Leilão Estadual de Energia Fotovoltaica visa implantar 200 megawatts pico de energia a partir de plantas de geração fotovoltaica que demandarão investimentos da ordem de R$ 1 bilhão”, explica.

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