Circuito pode aprender com movimentos culturais

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
26/08/2015 às 07:34.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:30
 (Flavio Tavares)

(Flavio Tavares)

Entre os participantes do seminário “Circuitos Culturais e as Cidades”, havia uma grande expectativa sobre o que seria apresentado na mesa “Diversidade e Movimentos na Cidade”, realizado nessa terça-feira (25) à tarde na Biblioteca Pública. Era o momento em que o debate deixaria um pouco o tom formal dos acadêmicos e profissionais de instituições museográficas, para dar voz a agentes de movimentos sociais ligados à ocupação urbana.   Criado para abrir o diálogo entre o Circuito Cultural Praça da Liberdade e a sociedade civil, o seminário se abriu para representantes de grupos que lutam pela memória e pelo espaço comum: Piseagrama, Espaço Comum Luiz Estrela e Casa do Beco. Entre os convidados, estava também Chico Ludemir, integrante do movimento Ocupa Estelita, que luta contra a intensa especulação imobiliária existente no Recife Antigo.   “Vimos que a praça que a gente tanto desejava vinha acontecendo ali no ato (a ocupação). Não é como o poder público dizer que aquele espaço não tinha potencial para isso”, afirma Ludemir, que deixou clara a grande dificuldade de lutar na justiça contra o lobby e os advogados das grandes construtoras.   Um dos momentos mais interessantes ficou com Sílvia Andrade, integrante do Luiz Estrela. Ela mostrou que, enquanto o poder público negociava com grandes empresas a ocupação de edifícios públicos da Praça da Liberdade, integrantes de movimentos sociais ocuparam uma antiga casa do bairro Santa Efigênia para realizar um centro cultural. “A própria ocupação do prédio levantou o debate. Por que somente a iniciativa privada pode ocupar um edifício?”, questiona Sílvia, sugerindo um mapeamento das manifestações culturais da cidade, para que o circuito possa contemplá-las em sua programação.   Com que roupa?   Nil César, criador da Casa do Beco, acredita que é preciso pensar bem nas estratégias para atrair o público dos bairros mais distantes da Savassi. “A periferia não vai ao Palácio das Artes porque não tem roupa. Quando a gente entrega um ingresso gratuito na mão de um morador da favela, tem que explicar que ele pode ir com a roupa da missa ou do culto, para ficar mais fácil. Seria interessante se houvesse um movimento ‘venha ao circuito de chinelo’, para que a periferia se sinta mais convidada a participar”, diz o artista, com bom humor, sobre como há muitas barreiras simbólicas a serem vencidas.   Outros exemplos de gestão de museus foram apresentados   Pela manhã, o seminário trouxe três palestrantes que expuseram diferentes experiências de trabalhos articulados ligados a uma ideia museológica. Duas eram governamentais (Unidade de Preservação do Patrimônio Mu- seológico da Secretaria de Cultura de São Paulo – UPPM – e Instituto Brasileiro de Museus), enquanto uma é da iniciativa privada, o Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo-SP).   Técnico da UPPM-SP, Luiz Fernando Mizukami mostrou como se dá a complexa articulação entre mais de 400 museus espalhados pelo Estado. Segundo ele, estratégias foram definidas conforme as localidades das instituições (os museus da Baixada Santista passaram a unir forças em sua divulgação, por exemplo) e conforme a temática trabalhada em cada local. “A articulação de museus de temáticas afins é importante para trabalhar itinerância de exposições. Todos querem receber mostras da Pinacoteca, mas quantos têm condições de seguranças para isso? Pouquíssimas”, diz.   Parcerias   Daniel Rangel, curador do ICCo, trouxe para o debate uma experiência bem-sucedida de trabalho feito junto a parceiros. Com foco na divulgação e fomento da arte contemporânea, o instituto trabalha com parceiros em todo o país e no exterior, realizando exposições em espaços de diferentes perfis e promovendo residências artísticas. “Fomos um dos provocadores para a criação da Associação Internacional de Bienais. Hoje há um maior diálogo entre gestores de todo o mundo, algo importante, porque já aconteceu de três bienais internacionais serem iniciadas no mesmo dia”.

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