( Universal/Divulgação)
É cada vez mais comum no cinema americano, não só na produção independente, o olhar dirigido a personagens marginais e desajustados, não apenas como contraposição às convenções da sociedade e motivo de escárnio (as comédias sobre looser).
Embora ainda insistam, muitas vezes, em deixar uma mensagem final, filmes como “Bem-Vindo ao Meu Mundo”, lançado diretamente em DVD pela Universal, partem de outro princípio, já não mais com o protagonista tentando se enquadrar às normas.
Alice Klieg tem um tratamento muito diferente do que foi dado, por exemplo, a Benjamin Braddock, o inconformado jovem de “A Primeira Noite de um Homem” (1967), que fazia questão de deixar claro o incômodo em relação ao american way of life. Em Benjamin, havia ligação externa com os movimentos de contestação do final da década de 1960. Não é o caso de Alice, em que o movimento da narrativa se dá em direção ao interior da personagem, decalcada de outros parâmetros.
A vida como ela é
Alice sofre de transtorno borderline, grave enfermidade psicológica que a leva a falar e fazer o que pensa, sem qualquer pudor, o que fica mais exacerbado quando ela ganha uma bolada na loteria. Numa declaração, afirma que se masturba como tratamento.
A entrevista é interrompida, assim como muitas de suas ações e a própria narrativa do filme. Interpretada pela comediante Kristen Wiig, Alice geraria muitos risos se a diretora Shira Piven simplesmente escorasse sua história no inusitado.
Quando ela faz sexo oral num jornalista, a câmera se afasta, mostrando-a de longe e causando desconforto na plateia. Ao mesmo tempo, não há condenação aos produtores de TV que pegam o dinheiro dela para um programa em que ela pode falar o que quiser.
Há sempre uma cena a mais, um enquadramento diferente, com o intuito de nos levar a aceitá-la como é. O que não quer dizer que se tornará uma heroína ao final. Quase nada muda em sua vida, alterando, sim, a percepção de quem a rodeia.