Queridinhos delas, surfistas curtem bom momento do esporte no país

Gláucio Castro - Hoje em Dia
25/05/2015 às 07:34.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11
 (Instagram)

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O Brasil é o país do futebol. Mas quem vem fazendo bonito mesmo são os garotos do surfe nacional. Gabriel Medina, 21 anos, foi o primeiro brasileiro a conquistar o título mundial, em dezembro. Filipinho, de 20, venceu a etapa do Rio de Janeiro do Circuito Mundial há uma semana. Precursor desta nova geração, Mineirinho, de 28, que na verdade nasceu no Guarujá, também tem uma extensa galeria de troféus conquistados em várias partes do planeta. Apelidada de Brazilian Storm, a nova geração do surfe brasileiro vem fazendo bonito mundo afora.

Tão grande quanto a coleção de títulos é a legião de fãs espalhadas pelo país. Uma pesquisa da Sponsorlink, do IBOPE Repucom, aponta que no Brasil o surfe é bastante apreciado pelo público feminino. Nada menos que 57% das pessoas que acompanham o esporte no país são mulheres.

Algumas são “maria parafinas” assumidas e não medem esforços para estar perto dos ídolos. Outras são apenas fãs do estilo despojado dos garotões de corpos sarados, enquanto uma terceira gama gosta tanto do esporte que também resolveu cair na água e aprender a surfar.

Moradora de Natal, no Rio Grande do Norte, Joyce Morais, de 16 anos, nunca subiu em uma prancha, mas se rendeu à surfemania. Fundou um fã clube para Filipinho, que conta com quase 5 mil integrantes. Mesmo sem nunca ter encontrado o ídolo pessoalmente, Joyce não poupa elogios. “O que mais gosto dele é a humildade. A atenção que ele e toda a família dele têm com os fãs”, garante, enquanto sonha com o primeiro encontro com Filipinho.

Diretor-executivo da Associação Brasileira de Surfe Profissional (Abrasp), Pedro Falcão comemora o bom momento do esporte no país e diz que o desafio, de agora em diante, é manter o surfe com o mesmo padrão nos próximos anos.

“Com certeza, vivemos um momento especial do surfe brasileiro, não só pelas conquistas. Mas a etapa do Mundial disputada há uma semana no Rio de Janeiro bateu todos os recordes de patrocínio. Só não foi melhor ainda porque o país passa por uma recessão muito grande. Temos que trabalhar para que não seja apenas um momento. Qualidade nossos atletas já mostraram que têm”, opina Pedro.

Por conta do pouco tempo da explosão do surfe no país, a Abrasp ainda não tem números contabilizados que comprovam o crescimento do esporte em território nacional, mas confirma que o número de matrículas nas escolinhas e a busca por pranchas e roupas de neoprene nas lojas aumenta a cada dia.

Para o diretor, o momento vitorioso do esporte no país coincide com um período de baixa do futebol. “Na etapa do Mundial do Rio, a gente ouvia toda hora gente brincando que podem mandar os surfistas alemães que a gente vai ganhar deles”, brinca, em alusão à goleada de 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil nas semifinais da Copa do mundo do ano passado.

Do preconceito de ontem aos títulos internacionais de hoje

O surfe começou a ser praticado no Brasil em Santos, no interior paulista, no final dos anos 30. Na época, as pranchas eram enormes. Mediam quatro metros e chegavam a pesar 80 quilos. Mas foi mesmo na década de 1960 que a modalidade ganhou popularidade no país, principalmente no Rio de Janeiro, com a chegada das pranchas de fibra.

A partir de 1970, o esporte começou a se tornar mais profissional, quando Pedro Paulo Lopes, o Pepê, ganhou o Waima 5000, no Arpoador, no Rio de Janeiro, em 1977, que correspondia a uma etapa do Mundial. Fundador da primeira escola de surfe do país, Rico de Souza, ou simplesmente Rico, é outro precursor do surfe brasileiro. “Estou vendo este momento como uma coisa fantástica. Esta nova geração está brilhando. Este trabalho vem sendo feito há 50 anos. Começou lá atrás comigo, o Pepê, Daniel Friedmann e tantos outros. A nova geração está brilhando e a mídia apoiando. Esse momento é do surfe. Não temos mais um Senna para torcer, um Guga, um Popó, mas temos esta geração do surfe”, comemora Rico.

Se o esporte hoje vem ganhando cada vez mais admiradores e campeões nacionais, naquela época as dificuldades eram grandes. Mais do que esperar a onda ideal, eles precisavam driblar o preconceito que existia contra os rapazes cabeludos que passavam o dia na praia. “Antigamente era muito difícil para os surfistas. Existia um preconceito muito grande. O surfista não trabalhava e não ganhava para se manter. Imagina no meu caso. Meu pai era advogado, eu tinha um tio que era juiz e outro presidente da Caixa Econômica. Meu pai queria que eu fosse médico, mas eu queria surfar. O surfista só começou a ganhar respeito quando começou a se manter” , relembra Rico, que, além das aulas de surfe, tem uma marca de roupas para surfistas e montou o museu itinerante do surfe com várias peças que contam a história do esporte no país.

Para Rico, o bom momento do esporte em nível nacional não chega a ser surpresa. “Quando fui para o Havaí pela primeira vez, em 1972, eu já sabia que o surfe ia ganhar essa dimensão no país. Sempre tivemos muitos surfistas talentosos. Faltava apoio e reconhecimento. Agora que isso está acontecendo, o resultado está aí e os gringos vão ter que nos engolir, como dizia Zagallo”, brinca.

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