Nova classe média gasta mais tempo para ir de casa ao trabalho, diz Ipea

Dimmi Amora - Folhapress
24/10/2013 às 13:47.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:36

BRASÍLIA - Os trabalhadores muito pobres e os muito ricos são os que gastam menos tempo no deslocamento de casa para o trabalho. E a nova classe média, que conseguiu comprar veículos com a melhoria da renda, está enfrentando mais engarrafamentos. É o que aponta pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) apresentada nesta quinta-feira (24) com base em análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE de 2012.   De acordo com o levantamento, dos pesquisadores Carlos Henrique de Carvalho e Rafael Morais Pereira, 58% dos que ganham menos de 1/4 de salário mínimo por pessoa no domicílio gastam menos de 30 minutos nesse deslocamento. Esse percentual é semelhante aos que ganham mais de 5 salários mínimos por pessoa (56%).   A faixa de renda percentual onde há mais trabalhadores que gastam menos de 30 minutos é de 1 a 2 salários mínimos (44%). "A nova classe média é que está tendo impacto no tempo de viagem", afirmou Carlos Henrique de Carvalho em entrevista após a divulgação do trabalho.   A explicação dos técnicos é que os muito ricos podem morar perto do trabalho e por isso gastam pouco tempo. Já para os muito pobres, o indicador é sinal de "imobilidade", segundo Carvalho, o que significa que eles ficam restritos a trabalhos apenas muito próximos de suas residências, fazendo deslocamentos a pé ou de bicicleta. Pelos dados, os muito pobres são os que menos têm acesso ao vale transporte (só 12% dos muito pobres recebem) contra a média de 40% no país.   "É preciso rediscutir a forma de subsidiar o deslocamento dos trabalhadores. Quem mais precisa é quem menos recebe. Não é a toa que os deslocamentos [dos mais pobres] são mais curtos", afirmou Carvalho apontando para uma solução de subsídio direto aos trabalhadores informais e desempregados no país através do cadastro do Bolsa Família.   Tempo de deslocamento    A pesquisa aponta ainda que piorou o tempo de deslocamento nas regiões metropolitanas do país entre 1992 e 2012 em 12%. O tempo médio saiu de 36,4 minutos para 40,8 minutos. Os locais com maiores aumentos desse número foram Belém (PA) e Salvador (BA).   As hipóteses da pesquisa são de que as regiões metropolitanas podem ter ficado mais espalhadas, aumentando o tempo necessário ao deslocamento, e o aumento do número de famílias com veículos, registrado principalmente entre as famílias mais pobres e no Norte/Nordeste do país. "As políticas nas três esferas de poder são de incentivo ao transporte individual. Não há políticas de segregação dos espaço urbano para o transporte público", afirmou Carvalho citando isenções de impostos e congelamento do preço da gasolina entre outros para explicar o aumento no número de carros e a piora no tempo de deslocamento.   Enquanto no Brasil a variação de domicílios com carro foi de 9 pontos percentuais, em alguns estados do Norte e Nordeste a variação chegou a 20 pontos percentuais (Piauí) e 19 (Rondônia). Segundo Carvalho, esse percentual ainda tem espaço para crescer mais.   Nas família mais pobres (até 1/4 de salário mínimo por pessoa), o percentual de domicílios com veículos chegou a 28% em 2012 contra 16% em 2008. Nas com mais de 5 salários mínimos, o percentual é de 88% e cresceu apenas 2 pontos percentuais entre as duas Pnads.   "É o sonho de toda família ter uma casa própria e um carrinho na garagem como o próprio presidente Lula falava que era o sonho dele. Isso está de certa forma ocorrendo com a taxa muito alta [de famílias com carros]", afirmou ele lembrando que serão necessários grandes investimentos em mobilidade urbana nessas regiões em cidades que têm baixa capacidade de investimento público.   São Paulo e Rio de Janeiro já têm quase 1/4 das pessoas levando mais de uma hora no deslocamento casa trabalho, sendo que em São Paulo esse percentual era 7 pontos percentuais menor há 20 anos. Para Carlos, esse tempo de deslocamento é inadequado e leva a problemas de produtividade dos trabalhadores. Segundo ele, são necessários melhorar as políticas de segregação para o transporte público e melhorar a distribuição dos empregos pelas regiões para evitar deslocamentos longos dos trabalhadores.           

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