O fim da era das radionovelas

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
15/08/2015 às 08:55.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:21
 (Priscila Prade / Divulgação)

(Priscila Prade / Divulgação)

Quando o espetáculo “Caros Ouvintes” estreou, em 2014, a produção fez uma sessão experimental, às 18h, com a expectativa de uma afluência grande por parte do público da chamada “terceira idade”. Eles compareceram, de fato. “Mas a surpresa é que o teatro ficava lotado de... adolescentes. Ou seja, ainda existe espaço para apreciação de coisas mais artesanais”, diz o diretor e dramaturgo Otávio Martins. “Quem diz que o mundo está condenado a se curvar ante o celular se engana – a vida é pra frente. E na nossa frente, um palco de possibilidades”.

Ao público de BH, a chance de descortinar esse palco de possibilidade é agora. A comédia será apresentada hoje e amanhã, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Além da história em si – que foca a fase de transição das radionovelas para a TV – um trunfo da montagem é o elenco, formado por Nany People, Camila Camargo (filha de Zezé di Camargo), Elam Lima, Eduardo Semerjian Marcos Damigo, Natallia Rodrigues, Oscar Filho e Ivo Miller.

A peça revela o que houve por trás dessa mudança do rádio para a TV: uma migração da imaginação para a imagem pronta”.

Isso, lembra ele, foi determinante para deixar no ostracismo toda uma cultura musical. “Graças ao advento da televisão no Brasil, nomes como Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Cauby Peixoto, Emilinha ou as irmãs Batista deram lugar a Elis Regina, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Ronnie Von, Wilson Simonal e tantos outros astros que representavam a modernidade, o progresso, as mudanças. Houve uma mudança na forma como percebemos nossa musicalidade, nossas vozes, nossa melodia”, acrescenta Martins.

Artesanal

Desde a estreia, o espetáculo já atraiu mais de 70 mil espectadores. “Não poderíamos estar mais felizes. O publico gargalha e sai emocionado, principalmente em ver como era artesanal o processo de feitura dos capítulos. Por isso investimos a fundo na produção de um cenário e de uma trilha que nos permitisse recriar o universo das radionovelas à vista do público: tudo é feito na hora, ao vivo, sem truques. E o elenco dá um show”, exalta Otávio, que teve o insight do espetáculo ao assistir a um documentário sobre a passagem do cinema mudo para o cinema falado nos EUA. “Para nós, a coisa aconteceu no sentido oposto: os radioatores eram celebridades, mas, na maioria das vezes, suas imagens não correspondiam aos papéis. Imagine uma mocinha com 40 anos, ou um galã nada bonito para os padrões. Mas a pesquisa acabou trazendo coisas belíssimas à montagem, como a execução ao vivo da radionovela”.

 

“Caros Ouvintes” – Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537). Hoje, 21h, amanhã, 19h. 

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