País enfrenta a mais intensa recessão da história, com oito trimestres de retração

Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br
01/06/2016 às 20:43.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:42

A falta de confiança na economia brasileira fez com que os investimentos despencassem no início de 2016, com uma queda de 17,5% no primeiro trimestre deste ano frente ao mesmo intervalo de 2015. O freio na injeção de recursos agravou o quadro recessivo e é uma das principais causas para a redução de 5,4% no Produto Interno Bruto (PIB) no período. Com o resultado, o país completa oito trimestres consecutivos de resultados negativos na comparação com o mesmo período do ano anterior, ou seja, dois anos sem crescer, em uma intensa recessão. 

 “As estatísticas das contas nacionais confirmaram que, no primeiro trimestre, como resultado essencialmente de desenvolvimentos domésticos, teve continuidade a mais intensa recessão de nossa história”, disse o Ministério da Fazenda, em nota. Por “desenvolvimentos domésticos” entenda-se um eufemismo para a forte crise política que vem contaminando a economia nos últimos meses. A queda acumulada em 2015 foi de 3,8%. 

 “É um ciclo vicioso. Quando a economia está em recessão, os investimentos reduzem. E sem investimentos, a economia não reage”, afirma o vice-presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Pedro Paulo Pettersen. 

 “São os aportes que fazem a economia girar. Eles aumentam a demanda por máquinas equipamentos, alavancam a construção civil e a demanda por aço, por exemplo”, explica o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Veloso Leão. Por consequência, geram empregos.

 Outra justificava para o mau momento da economia brasileira é o encolhimento do mercado consumidor. No primeiro trimestre deste ano, comparado com o mesmo período de 2015, o consumo das famílias caiu 6,3%. Para tristeza do setor de serviços, que recuou 3,7% na mesma base de comparação. O comércio retraiu 10,7%. 

 "As famílias estão mais cautelosas por causa do risco do desemprego. As altas taxas de juros e a inflação reduzem mais ainda a demanda, dificultando melhora no setor”, afirma o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Guilherme Almeida. Até o clima serviu como uma “pedra no sapato” da economia brasileira. Intemperanças climáticas, como seca em algumas regiões e excesso de chuvas em outras, jogaram para baixo os resultados da agropecuária, com uma redução de 3,7%. “Culturas como arroz e milho sofreram forte interferência do clima no Brasil”, afirma a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso. (Com agências)
 

o 1º trimestre no azul em Minas Gerais

O Produto Interno Bruto (PIB) mineiro deverá apresentar uma retração ainda maior do que o Brasil. Espera-se que apenas a agropecuária do Estado tenha resultado positivo. Mas indústria e comércio tendem a apresentar quedas mais acentuadas do que a média nacional.  No caso da indústria, a queda será maior no Estado por causa da estrutura dependente de setores estruturantes, como mineração, siderurgia e construção. Isso quer dizer que, se os demais segmentos têm desempenho ruim e investem menos, a demanda pelos produtos mineiros cai. 

“É uma característica regional sofrermos mais quando a economia brasileira vai mal”, afirma o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Guilherme Veloso Leão. O comércio vai a reboque. “Se a indústria produz menos, ela demite mais. Se isso acontece, as pessoas compram menos. Assim, comércio e serviços retraem”, afirma o economista da Federação do Comércio do Estado de Minas Gerais (Fecomércio Minas), Guilherme Almeida. 

 No caso da agropecuária, segundo a coordenadora da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso, o esperado para o Estado é safra recorde, puxada principalmente por milho, soja, sorgo e feijão. Para o fechamento do ano, as projeções de PIB não são positivas nem para o Brasil, nem para Minas. “A recuperação da economia ainda não é para este ano. E, dependendo das medidas adotadas pelo Michel Temer, a crise pode agravar”, afirma o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Cláudio Gontijo. Ele acredita que a reversão do pessimismo do empresariado e do consumidor, essencial para uma melhora do quadro econômico, depende do fim da crise política e dos escândalos envolvendo governantes. 

 

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