Marcelo Sander*
Na primeira semana de março de 2024 o Facebook e o Instagram ficaram por alguns minutos fora do ar. Foi o suficiente não apenas para lamentos em outras redes sociais e memes, mas também para perdas financeiras consideráveis para milhões de pessoas e empresas pelo mundo todo, afinal, pedidos e entregas deixaram de ser feitas, transações não foram efetuadas e anúncios deixaram de rodar nesse período. Menos mal que, desta vez, o Whatsapp, também pertencente à Meta, dona do Facebook e do Instagram, não ficou inoperante nesse período.
O que nos leva sempre à reflexão sobre a excessiva dependência da humanidade não somente às redes sociais, mas a poucas empresas de tecnologia que praticamente monopolizam esse mercado. Meta (com Facebook, Instagram e Whatsapp), Alphabet (com Google, Gmail e Youtube), Microsoft (com Hotmail, Linkedin e Skype, sem falar nas várias plataformas e desenvolvedoras de games), X (antigo Twitter) e Tik Tok representam, juntas, quase que a totalidade da comunicação criada, consumida e compartilhada na internet atualmente.
Com o “mini-apagão” recente, me lembrei também do filme “O Mundo Depois de Nós”, lançado pela Netflix no final do ano passado. No roteiro, bem resumidamente, uma família em conflitos (entre eles e pessoais também) vai para uma casa de veraneio curtir um tempo de descanso, quando coisas estranhas começam a acontecer. A primeira delas, a falta completa de equipamentos de telecomunicação. Satélites, telefones, internet, GPS, carros autônomos, enfim, nada funciona.
Uma espécie de apocalipse tecnológico global, então, se instala. E as relações interpessoais e pessoais, já fragilizadas, se deterioram ainda mais. É uma distopia mais perto de nós do que imaginamos. Inclusive há quem diga que a terceira guerra mundial não será com bombas ou armas químicas, mas sim tecnológica, com o corte de energia e comunicação dos inimigos. Em parte, a guerra da Rússia contra a Ucrânia já é assim.
Já reparou quantas vezes por dia você olha a tela do celular? Checa o e-mail? Zapeia com o controle remoto entre os canais de TV ou opções de filmes e séries nos serviços de streaming? Lê mensagens em trocentos grupos de Whatsapp? Tudo isso enquanto faz suas necessidades, se alimenta, continua aquele trabalho chato com prazo curto de entrega, estuda, presta atenção na conversa com algum colega, passa seu tempo com esposa, marido ou filhos... É cada vez mais comum, por exemplo, ver grupos de amigos ou famílias em mesas de restaurante sem que ninguém converse uns com os outros. Todos entretidos em suas telas. Quando há algum diálogo, é para mostrar algo que está em uma tela. O que há de realmente tão mais importante nessa telinha para ocupar cada vez mais tempo das já escassas 24 horas do seu dia?
Fica a reflexão (e também um mea culpa), pois como profissional de comunicação e marketing, quero e preciso ser cada vez mais lido, ouvido, assistido e consumido. Por esse aspecto, esse mercado não se diferencia muito de mercados como o do açúcar, do cigarro ou do álcool, com a diferença de que, nesses últimos produtos, há um claro aviso em cada embalagem alertando: “o uso excessivo desse produto faz mal à saúde e pode causar dependência”.
*Jornalista, especialista em Marketing, mestre em Educação Tecnológica, Superintendente Geral de Comunicação na Prefeitura de Sete Lagoas, professor de Marketing Digital na Faculdade Promove