Dra. LiubianaDra. Liubiana é PhD em Neuropediatria, com doutorado-S na Harvard Medical School. Professora de Medicina da UFMG, neurocientista e palestrante

A importância da formação e do apoio para professores na prevenção da violência em sala de aula

Publicado em 07/09/2023 às 06:00.

Liubiana Arantes*

Nos últimos tempos, temos sido testemunhas de notícias recorrentes sobre alguns professores que demonstram atitudes inadequadas com crianças em sala de aula, principalmente com aquelas que possuem diagnósticos de transtornos, como Autismo e Deficiência Intelectual. Diante da recorrência das notícias é imprescindível parar e avaliar a situação, definindo estratégias de solução do problema, ao invés de apenas divulgar os vídeos e criticar as atitudes.

A profissão de educador desempenha um papel central na construção da sociedade, sendo responsável pela formação das mentes jovens que moldarão o futuro.

É importante reconhecer que a maioria dos professores se dedicam apaixonadamente à sua profissão e têm um impacto positivo na vida de seus alunos. Muitos deles buscam capacitação e aprimoramento por conta própria, demonstrando compromisso e responsabilidade com a educação.

No entanto, a formação dos professores ainda deixa a desejar, principalmente no que diz respeito à compreensão da neurociência, que é o alicerce do processo de aprendizagem. É imperativo que a educação seja embasada em evidências científicas para maximizar o potencial de cada aluno. Além da educação habitual, a educação inclusiva engloba saber lidar com crianças que têm transtornos do desenvolvimento com habilidades emocionais específicas, e é essencial que os educadores sejam avaliados e apoiados nesse aspecto.

E, como em qualquer profissão, esse grupo também inclui indivíduos com diferentes temperamentos, diagnósticos e habilidades. Muitos podem apresentar fragilidades do quociente emocional, terem tido uma infância marcada por estresse tóxico ou se encontrarem em situação de dificuldades psiquiátricas, fatores esses que podem interferir em suas atitudes nas situações adversas vividas em sala de aula. Atitudes consideradas socialmente inaceitáveis, como gritos e palavras negativas, podem ser consideradas como formas de estresse tóxico, que podem prejudicar a formação das crianças. É crucial abordar esses comportamentos e oferecer ajuda aos professores que podem estar enfrentando desafios emocionais.

Quando se trata da formação de crianças nos primeiros anos de vida, critérios rigorosos de avaliação e suporte aos professores são necessários para garantir um ambiente de aprendizado saudável. A regulamentação em relação aos testes de aferição do quociente emocional e do perfil de saúde mental dos professores é uma lacuna que precisa ser preenchida.

E o problema é que o ciclo acaba se repetindo: pessoas que sofrem dificuldades na saúde mental por sequela de estresse tóxico na infância ou por diagnósticos específicos podem ter atitudes de autoritarismo com as crianças. Nessas crianças, isso pode resultar em elevação dos hormônios do estresse, perda de conexões neuronais e prejuízos na formação de redes neurais nas áreas de aprendizagem e de inteligência emocional. E essas crianças se tornam adultos com dificuldades.

O conhecimento aprofundado desse processo exige, portanto, a implementação prioritária de estratégias para que a educação na infância e adolescência seja levada a sério e que possamos ajudar a construir cérebros fortes de crianças que serão os futuros profissionais do Brasil.

Valorizar e apoiar os educadores, promovendo a formação baseada na neurociência e a regulamentação adequada, são passos cruciais para garantir um ambiente educacional saudável e produtivo para nossas crianças, que são o futuro da nossa sociedade.

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