Os limites na infância são essenciais para a aprendizagem de estratégias para driblar os desafios da vida. A educação de crianças e de adolescentes precisa de regras claras, fornecidas de forma firme e sem autoritarismo.
Nos primeiros anos de vida o cérebro está se formando e a Neurociência comprova que a resiliência e a inteligência emocional são aprendidas de acordo com as experiências do dia a dia. Ninguém nasce com capacidade de ser positivo e de seguir em frente ao enfrentar um insucesso. Essa capacidade depende de redes neurais criadas a partir de vivências repetidas de boas atitudes diante de ter que ceder à própria vontade para fazer o que está sendo solicitado, ou enfrentar alguma perda ou fracasso. Por isso é fundamental a vivência de pequenas frustrações por parte das crianças e dos adolescentes.
Pesquisas recentes têm demonstrado que enfrentar adversidades cotidianas na infância desempenha um papel vital no desenvolvimento do quociente emocional, o famoso QE. Essas pequenas frustrações na infância são eventos que ocorrem com frequência, desde não conseguir um brinquedo desejado até perder um jogo. Isso é chamado de estresse positivo por ser uma oportunidade de aprender a atitude correta ao enfrentar adversidades. Em algumas famílias as crianças recebem por parte dos pais possibilidades de aprender de forma positiva com as faltas, as perdas e os fracassos.
Um exemplo notável que ilustra esse conceito é o "Experimento do Marshmallow", conduzido por Walter Mischel na década de 1960. Nesse experimento, as crianças eram colocadas diante de um marshmallow e instruídas a aguardar 15 minutos antes de comê-lo. Se conseguissem cumprir a tarefa e resistir à tentação receberiam dois marshmallows como recompensa. Os resultados a longo prazo mostraram que aquelas crianças que conseguiram cumprir as regras e esperar mostraram maior capacidade de autodisciplina e autocontrole mais tarde na vida, com maior sucesso na vida pessoal e profissional.
Portanto, o pai ou a mãe deve ajudar a treinar as crianças e adolescentes a esperar e a lidar com as faltas. Alguns exemplos do cotidiano são importantíssimos, como ter obrigações dentro de casa, entender que não pode sempre comprar um doce quando vai à padaria ou mercado e que caso tenha tido um comportamento inapropriado, uma atitude de reparação adequada deve ser exigida. O adulto deve pensar antes de dar a regra, pois um comando dado deve ser sempre cumprido por parte dos pequenos. Nada de gritos, palmadas ou agressões, mas limites impostos com firmeza e afeto.
Um outro exemplo prático disso é quando uma criança perde em um jogo de tabuleiro com os pais. Em vez de evitar a derrota e deixar sempre eles ganharem, os pais devem ser realistas e deixarem o filho perder também. Isso ensina a criança a reconhecer a emoção, entender que a vida está repleta de altos e baixos e desenvolver estratégias para lidar com a derrota de forma construtiva.
Isso fortalece a resiliência e ajuda a criança a desenvolver habilidades emocionais cruciais, como a empatia e a autorregulação emocional.
Como pais, cuidadores e educadores, é importante reconhecer a importância das pequenas frustrações e permitir que as crianças enfrentem desafios emocionais de maneira saudável. Ao fazê-lo, estaremos preparando nossas futuras gerações para serem indivíduos empáticos, resilientes, capazes de ter autorresponsabilidade e autorregulação emocional para seguir na vida com saúde mental, bem-estar e felicidade.