Careca, sim senhor! Cabeça lisinha deixa de ser tabu entre homens para virar 'troféu'

Patrícia Santos Dumont
14/12/2018 às 10:34.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:34
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Carecas assumidos e bem resolvidos vêm se tornando cada vez mais numerosos. Diferentemente de décadas atrás, quando levava muita gente ao desespero, a falta de fios é hoje, para muitos homens, motivo de ostentação. Sozinha, no melhor estilo “centro das atenções”, ou junto a uma barba bem feita, a cabeça lustrosa já é vista até como uma forma de dar aquela levantada na autoestima.

Assistente de eventos de 27 anos, Pedro Henrique Braz Pereira travou uma verdadeira batalha contra a calvície hereditária. “Só não fiz implante”, diz, enumerando as tentativas de frear a perda das madeixas: remédios de uso tópico, oral e até laser.

Foi em 2017 que o rapaz decidiu transformar o problema em solução. Aos poucos, adaptou o visual com cortes mais baixos e, no início do ano passado, libertou-se dos fios remanescentes. “O sentimento era ‘não tem mais jeito, preciso encarar’. Hoje, até oriento meu irmão e alguns amigos para que raspem logo, enquanto ainda têm escolha”, conta. Lucas Prates

NOS TRINQUES - Pedro Henrique começou a perder os fios em 2011, mas só seis anos depois assumiu o visual careca; rotina atual inclui visitas semanais ao barbeiro Simas Barber, da Fio Navalha, e uso de lâmina de barbear e de navalha em casa, a cada três dias 

Navalha

Com um visual 100% lisinho – sem barba nem bigode –, ele mantém a aparência bem cuidada à base de muita lâmina e navalha em casa e, pelo menos uma vez por semana, bate ponto na barbearia que frequenta desde que assumiu a carequice. 

Se sofre bullying? Nenhum, garante! “Sempre tem uma piadinha ou outra, ‘cara de batata’, ‘o careca’, mas nada que chateie. Inevitavelmente, (a calvície) acaba virando um ponto de referência, mas é tranquilo”, enfatiza.

O psicólogo Pedro Róldi também deixou tabus de lado ao enfrentar a perda dos cabelos. Após esgotar as possibilidades de reverter a calvície, que dava sinais desde a adolescência, ele eliminou as madeixas. Há quase dois anos, ostenta um visual mais harmônico e equilibrado graças à barba cultivada com a ajuda de um profissional.

“Passei por um processo de aceitação, sim. Fiquei aborrecido, incomodado, mas agora aceito numa boa. Naquela época, as pessoas só falavam sobre isso: ‘nossa, você está ficando careca’. Hoje, ninguém, nem eu mesmo, consigo me imaginar de outra maneira que não seja essa”, diz. Riva MoreiraAUTOACEITAÇÃO - Primeiro, Pedro Roldi tentou de tudo para manter os fios no lugar. Há dois anos, resolveu dar uma chance a si mesmo e adotou o novo visual. Barba cultivada com a ajuda de um profissional deixa a aparência mais harmônica 

Proposital

Companheira de muitos homens que adotam o visual careca, a barba não é “casual”. Sócio-proprietário da Achado Barbearia, na Savassi, Zona Sul de BH, Wagner Mariano diz que manter um volume na parte inferior do rosto ajuda a balancear as feições. 

“Praticamente 90% dos carecas escolhem deixar barba. Assim, não ficam com o rosto totalmente ‘pelado’. Ajuda na simetria e valoriza as proporções. Quem ficou com a cabeça muito redonda, por exemplo, consegue dar uma equilibrada”, explica. 

Falta de fios não dispensa cuidados básicos, inclusive o uxo de xampu

Há pouco mais de dez anos, Edimar Torres começou a perder fios. Na época, nem cogitava assumir a calvície: exibir a cabeleira farta e bem cuidada fazia parte do ofício. Hoje, a realidade é outra. Dono da Barbearia Torres, com quatro unidades em BH, ele não só cuida da aparência dos clientes como influencia a escolha de quem se viu diante do mesmo conflito, mas decidiu assumir a careca.

Com um visual peculiar – zero cabelo e bastante barba –, ele não só apoia quem aceita a condição de careca como até dá força para encurtarem o caminho. “Quando o cara que tem pouco cabelo, e ainda branco, chega para pintar ou começa a pegar ‘emprestado’ de um lado para cobrir o outro, levo numa salinha VIP e falo ‘pelo amor de Deus, está muito feio’. Tudo depende do perfil do cliente, claro, mas se é alguém decidido, com boa autoestima, indico raspar de uma vez”.

Com ele foi exatamente assim. Aos 32 anos, eliminou o pouco cabelo que restava antes que a família o fizesse. “Havia passado no vestibular e queriam raspar minha cabeça”, lembra. Agora, aos 43, ignora qualquer possibilidade de voltar ao antigo visual. “Meu irmão mais velho fez cinco implantes e o mais novo, dois”, justifica. Riva Moreira / N/A

GUINADA - Depois de achar que uma farta cabeleira era indispensável para trabalhar como barbeiro, Edimar resolveu fazer as pazes com a natureza. Antecipando-se à calvície, raspou os fios e hoje incentiva clientes a fazer o mesmo: “Levo numa salinha VIP e falo ‘pelo amor de Deus, está muito feio’”

Virar o jogo

Barbeiro (cabeludo, diga-se de passagem) da unidade Lourdes da Fio Navalha, barbearia com outras duas lojas em BH, Simas Barber também é um apoiador do “movimento” dos carecas. “Calvície não é o avesso de beleza. Se não dá para evitar a queda (do cabelo), melhor é virar o jogo e assumir a situação da melhor forma possível”. 

Tomadas as rédeas da situação, é preciso cuidado para manter o visual em dia, com saúde e beleza. Xampu (sim!) e protetor solar, por exemplo, são indispensáveis na nécessaire de quem perdeu ou livrou-se dos fios. “Usar xampu é importante para remover a oleosidade, um dos fatores que levam à queda”, diz. 

Procurar um profissional de tempos em tempos também faz diferença. “A cabeça é uma área muito delicada. Na barbearia, aquecemos a espuma, usamos navalha e finalizamos com barbeador elétrico, que remove todos os pontinhos pretos”, detalha. A frequência da repaginada profissional vai depender do crescimento dos fios, variando de pessoa a pessoa. 

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Pesquisa divulgada recentemente pela Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC) mostrou que 42 milhões de brasileiros apresentam calvície. O dado mais curioso diz respeito à faixa etária com maior índice de queda dos fios – 25% têm entre 20 e 25 anos. A questão pode estar associada a problemas emocionais e a fatores genéticos. 

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a alopecia androgenética – nome científico da calvície – é desencadeada por inúmeros fatores, estando associada ainda ao excesso de hormônios masculinos, motivo pelo qual é mais prevalente em homens. Embora seja um quadro de origem genética e hereditária, a existência de um ou mais casos na família não significa, necessariamente, que a calvície se manifestará em todos. 

Quem não quer assumir a condição conta com inúmeros tratamentos que prometem preservar a saúde dos fios, retardar a queda ou frear a perda das madeixas. Dentre as opções terapêuticas disponíveis estão medicamentos de uso tópico e antiandrógenos (composto que bloqueia ou inibe o hormônio estimulador de características masculinas) sistêmicos. Laser também ajuda a estimular o crescimento dos fios. Casos mais acentuados podem ter indicação de transplante capilar.Editoria de Arte

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