TIRADENTES – Por ser a ferramenta mais importante de qualquer produção cinematográfica, a câmera atravessou décadas num papel mítico, acessível a poucos, até que a chegada do digital virou tudo de ponta-cabeça. A16ª Mostra de Cinema de Tiradentes estampa essa democratização da imagem de maneira mais radical.

Documentário que encerra neste sábado (26) a principal vitrine do cinema independente brasileiro, “Doméstica”, de Gabriel Mascaro, tem esse caráter dessacralizador ao entregar a câmera a sete adolescentes, que filmam sem muito preparo no manejo do equipamento.
Mas o que menos importa são as trepidações ou movimentos bruscos. O que poderia resultar num “filme caseiro”, ou interessado apenas em radiografar os jogos de poder, transforma-se, vencendo nosso próprio estigma e apontando para pessoas que saem de sua posição subalterna para crescer como personagens.

É mais ou menos o caminho trilhado por “Os Dias com Ele”, de Maria Clara Escobar, um dos favoritos a vencer a mostra Aurora, dedicada a primeiros filmes de diretores. A câmera já começa torta, com dificuldades de enquadrar o entrevistado – o pai, participante da luta armada contra a ditadura militar, que ela não via há anos.

A fotografia malcuidada, explicada pelo fato de Maria Clara ser a única integrante da equipe, acaba ajudando a entender a proposta do filme, evidenciando a tentativa de uma construção de relação entre pai e filha. Torna ainda mais bruta a forma como ele a recebe em casa, colocando dúvidas sobre o seu verdadeiro interesses na realização do documentário.

Além de “Doméstica”, a Mostra exibirá os longas: “31 Minutos – O Filme”, “Corda Bamba, História de uma Menina Equilibrista”, “Claun – Parte 1: Os Dias Aventurosos de Ayana”, “Boa Sorte Meu Amor” e “O Sol nos Meus Olhos”, este protagonizado por Cecília Bizzotto, assassinada ano passado.


(*) Viajou a convite da organização do evento.

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