Chefia para poucas: só 38% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres

Lucas Borges
lborges@hojeemdia.com.br
07/03/2018 às 20:49.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:45
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

 Quase 50 anos após a “Queima dos Sutiãs”, movimento de protesto de ativistas americanas em favor da igualdade de gêneros, as mulheres ainda lutam para conseguir espaço em setores da sociedade culturalmente dominado pelos homens.

De acordo com o último levantamento do IBGE, que retrata dados de 2016, apenas 37,8% dos cargos de chefia no Brasil são ocupados por mulheres, contra 39% registrado um ano antes e 39,5% cinco anos atrás. Enquanto isso, 62,2% das funções de liderança são exercidas pelos homens.

Segundo especialistas, no atual cenário, a crise econômica é fator preponderante para frear a ascensão da ala feminina no mercado de trabalho.

“Existem alguns grupos que, historicamente, sofrem mais em situações de crise, como as mulheres, os jovens e a população de instrução mais baixa. Nesse cenário, o desemprego entre elas é maior que entre homens”, diz a analista do Sebrae Minas, Bárbara Alves.

A ingrata missão de conciliar vida profissional e afazeres domésticos é outra razão apontada pelos especialistas como redutor do espaço das mulheres no mercado de trabalho.

Primeira mulher a assumir a presidência do Sindicato da Indústria Moveleira de Minas e proprietária da Artdeco Móveis, Iara Abade conta que abdicou de ter filhos para ter chances maiores de obter êxito profissional.

“Amigas minhas que tinham potencial tão grande ou até maior do que o meu também tiveram que fazer uma escolha e não alcançaram o objetivo que alcancei. Se o caminho fosse mais fácil de ser trilhado, valeria a pena. Mas como o caminho não é fácil, fiz opção por não tê-los”, diz.

A empresária começou a carreira na área do comércio e conseguiu ser dona do próprio negócio e influenciar um setor extremamente masculino. Além da questão do gênero, a idade, muitas vezes faz com que a mulher sofra certo tipo de discriminação, especialmente em segmentos em que a participação delas ainda é pequena.

Presidente da Indústria de Calçados de Uberaba e primeira mulher eleita para a presidência regional da Fiemg na cidade, Elisa Araújo diz que sofre com o preconceito em assuntos relacionados à política. “Sofro com um olhar diferenciado, principalmente de homens mais velhos, que não acreditam que uma mulher, ainda mais sendo nova, pode resolver os problemas”, revela.

Para a empresária de 35 anos, o problema vai muito além da competência. “O maior desafio é ser respeitada. Os homens, principalmente os mais antigos, enxergam a mulher como fator sexual, não como profissional de eficiência”, diz.

Com poucas oportunidades, saída é abrir o próprio negócio

As dificuldades para se inserir ou crescer no mercado de trabalho fazem com que as mulheres busquem abrir o próprio negócio para conseguir o sustento da família.

Segundo levantamento do Sebrae Minas, o número de mulheres microempreendedoras individuais (MEI) aumentou de 1,3 milhão, em 2013, para 3 milhões, em 2018, crescimento de 124%. Em Minas, atualmente estão formalizadas 347 mil microempreendedoras, o que representa 47% do total dos MEIs.

A analista do Sebrae Minas Bárbara Alves, confirma que o crescimento do empreendedorismo entre as mulheres se dá pela dificuldade em conseguir se afirmar no mercado.

“A mulher não encontra oportunidades no mercado formal e tenta empreender. Ela enxerga no empreendedorismo uma forma de obter renda e conciliar as demais atividades, tanto familiares quanto domésticas”, diz.
Mesmo diante de vários desafios enfrentados durante a trajetória profissional, muitas mulheres venceram e hoje ocupam cargos de destaque em importantes empresas.

É o caso de Junia Galvão, diretora executiva da construtora MRV, que afirma que a qualificação das mulheres é fator essencial para a ascensão nas empresas. “As mulheres estão estudando mais que os homens. Esse crescimento é natural, já as mulheres estão se aperfeiçoando. Vamos ocupar mais espaço”, diz.

Presidente Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), a empresária Cássia Ximenes entende que a qualificação das mulheres faz com que a discussão sobre o gênero fique em segundo plano.

“O mercado imobiliário chegou a um amadurecimento em que não há a necessidade de se preocupar com o gênero, mas sim com o profissionalismo e o grau de conhecimento”, afirma.
 

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