Superplanilha da Odebrecht indica repasses a 229 políticos de 24 partidos

Estadão Conteúdo
23/03/2016 às 14:30.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:36
 (Felipe Rau/Agência Estado)

(Felipe Rau/Agência Estado)

Uma planilha com a indicação de pagamentos da Odebrecht a políticos, encontrada pela Lava Jato na casa do ex-presidente de infraestrutura da empreiteira Benedicto Barbosa Silva Junior, no Rio de Janeiro, traz ao menos 229 nomes ligados a 24 partidos políticos.

A "superplanilha", como já está sendo chamada a lista nos bastidores do poder, é a maior relação de políticos e partidos associada a pagamentos de uma empreiteira capturada pela Lava Jato desde o início da operação, há dois anos. Ela foi encontrada nas buscas da 23.ª fase, a Acarajé, que teve como alvo principal o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura.

As anotações, conforme indica a Lava Jato, referem-se às campanhas eleitorais de 2012 (municipais) e2014 (presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais).

Segundo a Lava Jato, não há nenhum indicativo de que os pagamentos sejam irregulares ou fruto de caixa 2 e tampouco a Polícia Federal teve tempo para analisar a vasta documentação.

Barbosa Silva Jr. é apontado pelos investigadores como o encarregado de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, para tratar de doações eleitorais e repasses a políticos.

A superplanilha foi divulgada oficialmente pela operação na manhã dessa quarta, 23. Mas, no início da tarde, o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, decretou sigilo sobre o documento. Moro pediu ao Ministério Público Federal que se manifeste sobre "eventual remessa" dos papéis ao Supremo Tribunal Federal.

Os partidos que constam na planilha são: PT, PMDB, PSDB, PP, PSB, DEM, PDT, PSD, PC do B, PPS, PV, PR, PRB, SD, PSC, PTB, PTN, PT do B, PSOL, PPL, PTB e PRP, PMN e PTC.

Os citados que foram contactados pelo Estado negaram irregularidades. Segundo Moro, é "prematura conclusão quanto à natureza desses pagamentos". Ainda de acordo com o magistrado, que se manifestou em despacho, "não se trata de apreensão no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht e o referido Grupo Odebrecht realizou, notoriamente, diversas doações eleitorais registradas nos últimos anos".

A Acarajé estava sob sigilo. Mas, depois que a operação foi deflagrada, em fevereiro, Moro afastou o sigilo dos autos, como tem feito desde o início da Lava Jato. Ontem, ao constatar que a lista contém "registros de pagamentos a agentes políticos", o juiz restabeleceu o sigilo.

"Considerando o ocorrido, restabeleço sigilo neste feito e determino a intimação do Ministério Público Federal para se manifestar, com urgência, quanto à eventual remessa ao Egrégio Supremo Tribunal Federal para continuidade da apuração em relação às autoridades com foro privilegiado", disse Moro.

Delação

A divulgação da lista ocorreu um dia após a Odebrecht ter anunciado que seus ex-executivos presos pela Lava Jato ou investigados na operação pretendem fazer delação premiada. Por causa disso, a abrangência da planilha levou pânico aos bastidores da política.

A avaliação de líderes experientes foi de que a delação dos ex-executivos da empreiteira, que também negocia um acordo de leniência, tem potencial de alternar de maneira significativa o panorama do Congresso.

Também há inúmeras anotações manuscritas fazendo referência a repasses a políticos e partidos, acertos com outras empresas referentes a obras e até documentos sobre "campeonatos esportivos", que lembram documentos semelhantes já encontrados na Lava Jato e revelaram a atuação de cartel das empreiteiras na Petrobras.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por