Parasita encontrado em lentes de contato causa cegueira

Publicado em 13/05/2024 às 06:00.

Juliana Guimarães*

Milhares de brasileiros necessitam usar óculos de grau, sendo que, quem não quer, ou acha desagradável, muitas vezes, opta pelas lentes de contato. O problema é que as lentes requerem cuidados especiais, devido ao elevado risco de provocar infecções, podendo provocar cegueira. Recentemente, a dentista belo-horizontina, Nicole Géo, revelou em suas redes sociais que perdeu a visão de um dos olhos, em 2021, em decorrência do uso inapropriado das lentes de contato, resultando em uma infecção parasitária na córnea.

Ela começou a sentir dores muito fortes, mas os olhos não apresentaram nenhum sinal visível que algo estava errado. Após 15 dias desde o início do incômodo, o olho estava completamente vermelho e já não era mais capaz de enxergar. Foram vários tratamentos com remédios e colírios, somando mais de 20 cirurgias, incluindo um transplante de córnea para alívio dos sintomas. No momento, ela está na fila à espera de uma doação para o terceiro transplante.

Nicole foi infectada por um protozoário de vida livre (AVL), chamado acanthamoeba, encontrado em ambientes com água, sejam naturais e limpas, como rios, ou piscinas, água da torneira e até no ar, poeira e mucosa nasal, sendo considerado acidental na maioria das vezes. No entanto, é uma urgência médica por desenvolver uma ceratite ou úlcera ocular.

A verdade é que qualquer indivíduo tem um risco potencial de adquirir uma infecção por acanthamoeba. Porém, os usuários de lentes são as vítimas mais frequentes, sobretudo, se fazem uso prolongado.

O protozoário se alimenta de proteínas e, por isso, se agarra ao material das lentes, facilitando a aderência, se forem gelatinosas. Posteriormente, ao serem colocadas sobre o olho, a acanthamoeba se transfere para a córnea, se alimentando dela.

A falta de cuidados é considerada a principal origem do problema. A recomendação é retirar a lente para limpeza diariamente. Contudo, também é preciso ter atenção à solução salina de diluição caseira ou não preservada para guardar as lentes, porque podem conter o protozoário. 

É importante lavar as lentes com as mãos limpas, utilizando os produtos adequados. Apesar de ser bastante popular para limpar os olhos, o soro fisiológico não é indicado nessa situação, servindo apenas para manter o recipiente úmido.

Além disso, as lentes sempre devem ser retiradas, quando os usuários estão prestes a ter contato com a água, seja no banho, piscinas ou banheiras aquecidas. Dormir com as mesmas não é aconselhado.

Em caso da percepção de incômodos, como a dor ocular que segue para a cabeça, sendo ambas consideradas intensas, sensibilidade à luz, visão desfocada, vermelhidão, sensação de um corpo estranho no olho e a lacrimação excessiva, é necessário suspender o uso das lentes e se dirigir a um consultório oftalmológico rapidamente. 

O oftalmologista analisará o padrão para descobrir a origem dos sintomas e, se for necessário, indicará um tratamento para prevenir o agravamento da condição, que pode culminar, não apenas na cegueira, mas na perda do olho, em questão de dias. É preciso lembrar que a automedicação nunca é recomendada pelo risco de piorar o problema.

O transplante de córnea pode ser indicado, desde que o caso se enquadre em problemas que afetem a integridade do olho, como defeitos que coloquem a função ocular em risco, melhorando assim, a visão. É importante salientar que, de acordo com dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), a fila de espera para o procedimento conta com mais de 24 mil pessoas, sendo considerado um dos mais populares. Atualmente, estima-se que a obtenção de uma córnea demora pelo menos 2 anos.

* Oftalmologista 

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