Quase 9 mil autuações em menos de cinco meses, totalizando R$ 4,7 milhões em multas. Dos quais nenhum centavo foi pago. Trata-se, como mostra reportagem nesta edição, dos efeitos da fiscalização da BHTrans no sistema de transporte coletivo de Belo Horizonte, apenas no que diz respeito ao descumprimento das regras sanitárias adotadas em combate à pandemia. Como sempre, fruto do emaranhado de recursos e chicanas jurídicas numa tentativa de evitar o que, ao menos do ponto de vista do bom senso, é inevitável.
Não se trata da primeira manifestação de desrespeito das empresas escolhidas para operar as linhas de ônibus da capital. Postura semelhante foi adotada quando da supressão voluntária dos cobradores, ainda que a legislação os exija nos coletivos. Gerou-se mais uma tarefa aos motoristas, o serviço perdeu em qualidade e, como normalmente acontece, o grande prejudicado é o usuário.
Os argumentos de aumento de custos e incapacidade financeira para arcar com os compromissos se repetem, de forma ainda mais descabida. Afinal, praticamente todos os estabelecimentos comerciais foram obrigados a investir em materiais e procedimentos para prevenção sanitária, sem qualquer tipo de ajuda pública. O dono de um pequeno negócio não tem alternativa: se quer abrir as portas e receber o público, deve cumprir estritamente os protocolos respectivos. Além disso, não se trata de questão econômica, mas de um esforço conjunto para limitar a disseminação da Covid-19, justamente em um dos maiores focos de aglomeração.
Por que então seria diferente com a operação dos ônibus? É justo submeter o passageiro (e também o motorista) a uma situação de risco aumentada diante da ausência do álcool em gel? Também não deve ser essa preocupação da Prefeitura, que tem feito sua parte no sentido de identificar e punir as irregularidades. Passa da hora de os empresários do setor entenderem que todas as demais atividades econômicas foram obrigadas a se adaptar aos novos tempos, ainda que isso acarrete novos investimentos. Além de manifestação de ganância, trata-se de um recado de desrespeito para com o cidadão no que é uma prestação de serviço remunerada, sem a contrapartida devida.